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Que tal um 2014 com novos hábitos?

Por Marcos Morita (*) | 08/01/2014 09:57

Janeiro é época de tirar férias, pagar impostos e estabelecer metas profissionais e pessoais: trocar de emprego, ser promovido, começar uma pós-graduação, desenvolver um plano B, frequentar a academia, passar mais tempo com a família, parar de fumar. Não raro, grande parte torna-se recorrente voltando ano após ano para a lista, seja por vício, preguiça, falta de tempo ou mais provavelmente pela manutenção dos mesmos hábitos, tema sobre o qual tratará este artigo, utilizando como base o livro de Charles Duhigg, repórter do New York Times, “O Poder do Hábito”.

Hábitos são importantes em nossas vidas, guiando nosso dia a dia, em especial de segunda à sexta-feira. Escovar os dentes, tomar banho e café da manhã, pegar o ônibus, metrô ou tirar o carro da garagem, levar os filhos à escola, escutar as noticias no rádio, ver as novidades no Facebook, ligar o computador, ler os e-mails, almoçar com os colegas do departamento, voltar para casa, jantar, assistir à novela das nove, dormir. Quem já perdeu o emprego após anos de labuta sabe o quão difícil é o horário comercial sem a força do hábito.

Os responsáveis por sua formação são os gânglios basais, localizados no meio de nosso cérebro. Um experimento foi realizado prendendo um rato em um corredor estreito com duas saídas, colocando-se um pedaço de chocolate no lado esquerdo. Uma portinhola era aberta gerando um clique alto, logo após o rato farejava os cantos do labirinto até a bifurcação, virara a direta ou a esquerda e então comia o chocolate. Como era esperado, o rato aprendeu o caminho através das repetições. Comparou-se então a atividade dos gânglios, a qual diminuía de intensidade à medida que a sequência de ações (clique - farejar - virar a esquerda - comer o chocolate), tornava-se um hábito.

Troquemos ratos por macacos em uma nova experiência. Um macaco foi colocado sentado em uma cadeira em frente a um monitor. Havia também uma pequena mangueira em sua boca interligada a um recipiente com suco de amora. Sua tarefa era puxar uma alavanca toda vez que traços coloridos aparecessem no monitor. Como recompensa, uma gota de suco era despejada em sua boca. Inicialmente receoso, o primata entendeu a sequência (traços - alavanca - suco de amora), concentrando-se na atividade mesmo que outras fontes de distração fossem colocadas ao seu redor.

Os pesquisadores denominaram como agrupamento o processo de conversão destas ações em uma rotina automática. Voltemos à nossa lista. Escovar os dentes e ligar o computador são agrupamentos simples, o que não se pode dizer do agrupamento complexo tirar o carro da garagem de ré, escutar música e brigar com o filho no banco traseiro. Tente pedir a um motorista recém habilitado que realize as tarefas simultaneamente. Em suma, os hábitos surgem devido à capacidade do cérebro em poupar esforço. Imagine o quão difícil seria caso tivéssemos que tomar decisões para colocar a pasta na escova ou decidir quantas colheres de açúcar no café.

Outra descoberta interessante foi o loop do hábito, processo que estabelece uma sequência: deixa - rotina - recompensa, importante na formação dos hábitos. Chocolate e suco de amora eram as recompensas, traços coloridos e clique alto as deixas, seguir o corredor, virar a esquerda e puxar a alavanca as rotinas.

Utilizemos a teoria apresentada às metas do primeiro parágrafo. Todo fumante é ciente das recompensas em deixar o cigarro, entretanto muitos não conseguem largar o vício. Em grande parte isto decorre da manutenção dos hábitos: cafezinho no escritório, cerveja com os amigos e churrasco aos finais de semana, antigas deixas para que a rotina “acender um cigarro” apareça. O mesmo pode ser aplicado às pessoas que desejam perder peso. Ter os mesmos alimentos na geladeira, ir aos mesmos restaurantes e andar com a mesma turma de glutões gerarão deixas que criarão rotinas, calorias em excesso, tornando a recompensa, ainda mais difícil se ser atingida.

Quero sugerir algo diferente neste ano. Ao invés de estabelecer objetivos, adote um loop do hábito. Pense no principal fator que o impede de atingir seus objetivos. Em meu caso, a falta de tempo era a principal vilã. Estabeleça uma grande recompensa. Sair do escritório meia hora antes do término do expediente foi a minha. Em seguida mude e crie rotinas, abandonando deixas que podem comprometê-la. Chegar mais cedo ao escritório, almoçar mais rápido, desconectar o Facebook, respeitar os horários das reuniões, gerenciar minha agenda e estabelecer objetivos de médio e longo prazo sustentaram meu loop do Hábito.

Com a recompensa: mais tempo disponível, pude realizar vários objetivos da minha lista de ano-novo: passar mais tempo com a família, terminar um mestrado, começar a dar aulas, ler os livros empoeirados da estante, fazer exercícios e passear com o cachorro. Grandes prazeres e conquistas, possíveis através do poder da mudança de hábitos. Tente, não custa! Para mim funcionou.

(*) Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

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