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UFMS: insensatez ou insensibilidade?

Por Heitor Freire (*) | 11/04/2014 09:23

A classe artística da nossa capital, notadamente a classe teatral luta com uma série de obstáculos, dificuldades, tendo que vencer a cada dia um leão, e no dia seguinte um elefante, e assim por diante. A luta insana por espaço, por financiamento, com participação do poder público municipal e estadual, muito aquém do necessário.

Eu conheço bem essa situação, pois sou pai da Andréa Freire, atriz teatral, co-fundadora do Grupo Sobrevento no Rio de Janeiro, e quando este começou a despontar no cenário artístico nacional, ela decidiu, por ideal, desligar-se do grupo e mudou-se para a nossa cidade, para aqui iniciar um projeto voltado ao desenvolvimento das atividades teatrais em todo o estado.

Aqui começou com o Centro de Arte Viva, com o professor Evandro Higa e com a professora Clarice Maciel, onde criou, produziu e encenou algumas peças de teatro, começando com O Menino que Não Sabia Sonhar. Logo depois, com muita criatividade apresentou o Mágico de Oz, a premiada Formiguinha e a Neve e a Família Adams, entre outras.

Depois já com produção independente interpretou com Sidy Corrêa, A Chave e a Fechadura, do italiano Dario Fo, encenando nas ruas, nas praças, nas escolas. Tendo como palco a carroceria de um caminhão. Andréa apresentou sob a sua direção O Homem Que Casou com Mulher Braba, baseada na peça A Megera Domada de Shakespeare. Assim foi criando uma escola de teatro, incentivando atores, dando aulas de interpretação e de direção.

Com a peça Um Conto de Hoffmann, baseado na ópera do mesmo nome, com o Grupo Sobrevento, inaugurou o Teatro Aracy Balabanian. Fez história também quando da revitalização do Armazém Cultural, como espaço alternativo para o teatro, encenando Dorotéia, de Nelson Rodrigues, que teve a presença e o aplauso de Nelson Rodrigues Filho.

Como profissional autêntica e consciente, ombreou-se com o seu marido Belchior Cabral, e sob a liderança do então presidente da Fundação Municipal de Cultura, Athayde Nery, participou ativamente da campanha pelo Plano Municipal de Cultura, que desaguou depois na conquista do 1% para cultura, campanha cívica que mobilizou toda a classe artística em todas as modalidades de atuação. Foi uma conquista maiúscula.

Participou da criação e da implantação do Festival de Inverno de Bonito e depois do Festival da América do Sul. Criou o Pontão de Cultura Guaikuru juntamente com seu marido, Belchior, com realizações significativas como o projeto Ava Marandu – Os Guarani Convidam, valorização da cultura e direitos humanos desses povos.

Fez a produção local do Sesi Bonecos do Brasil e do Mundo e do Festival Internacional do Teatro de Objetos em todas as suas encenações em nossa capital. E continua atuante e presente nas manifestações artísticas locais.

Agora, Andréa está fazendo a produção na região Centro-Oeste do espetáculo de sombras A Cortina da Babá, também do Grupo Sobrevento – com entrada gratuita e patrocínio da Petrobras e do Ministério da Cultura –, com apresentação em quatro cidades: Nova Veneza, em Goiás, em Campo Grande e Ponta Porã em nosso estado e em Rondonópolis no nosso eterno Mato Grosso.

Enfim, ela não para.

O Teatro Glauce Rocha, concebido e construído valorizar a universidade federal como um local de manifestações artísticas dentro do âmbito teatral, parece que não consegue sensibilizar a alta direção da reitoria que reiteradamente tem colocado óbices para sua utilização. A reclamação é constante por parte dos produtores culturais de nossa cidade.
Agora nesta encenação de A Cortina da Babá, no Teatro Glauce Rocha, Andréa se deparou com mais um obstáculo: a reitoria da UFMS determinou o fechamento do acesso ao Teatro Glauce Rocha pela entrada principal da universidade, que, naturalmente é o trajeto utilizado pelo público. Com o acesso interditado sem nenhuma alegação, e pior, sem indicação de roteiro para se chegar até o teatro, essa atitude da reitoria dificultou a presença de parte significativa dos espectadores. Todo o trabalho de divulgação quase que vai por terra.

Só pode ser insensatez ou insensibilidade de alguém da reitoria cuja atitude manifesta o desinteresse pela universidade como fomentador cultura na cidade. Qual é a contribuição que a universidade, como centro catalisador da nossa intelligentsia tem dado à comunidade em nosso estado? Se alguém souber, me avise. Eu não conheço.

(*) Heitor Freire, corretor de imóveis e advogado.

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