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Cidades

Delegado diz não saber que fazendeiro era procurado por ataque a índios

Em nota, Denis Colares negou interesse em prejudicar investigações sobre atentado em Caarapó e reforça que PF também arquivou denúncias

Humberto Marques | 13/03/2019 19:53
Sede da PF em Dourados, onde caso contra delegado também foi apurado. (Foto: DPF/Divulgação)
Sede da PF em Dourados, onde caso contra delegado também foi apurado. (Foto: DPF/Divulgação)

O delegado Denis Colares, da Polícia Federal, disse desconhecer que o proprietário rural Dionei Guedin era alvo de investigação ou de mandado de prisão quando, em 22 de agosto de 2016, conversaram por telefone. A afirmação foi encaminhada ao Campo Grande News pelo advogado do policial, Ângelo Magno Lins do Nascimento, em resposta a reportagem sobre recurso do MPF (Ministério Público Federal) contra o arquivamento de denúncias contra agente e delegados da PF, surgidas no curso de investigações sobre o ataque a indígenas na Fazenda Yvu, em Caarapó –a 283 km de Campo Grande.

Trecho de interceptação telefônica entre Colares e Guedin demonstrou proximidade entre ambos. O produtor rural havia sido alvo de mandado de prisão, ao lado de outros seis agropecuaristas, por suspeita de terem ordenado o ataque a indígenas que, em junho, invadiram a Yvu. O ataque deixou seis feridos e matou o agente de saúde indígena Clodiode Aquileu Rodrigo de Souza, 26.

Em represália, veículos foram incendiados e policiais militares mobilizados para agir na ação agredidos.

Em 22 de agosto de 2016, Guedin dialoga com Colares momentos antes de se entregar, recebendo “dicas” sobre como proceder. A interceptação telefônica da conversa foi citada pelo MPF (Ministério Público Federal), que acusa policiais federais de crimes como falsidade ideológica e contra a fé pública –entre 22 de agosto e 8 de setembro de 2016, teriam usado a estrutura policial para prejudicar investigações, inserindo dados falsos no sistema de escutas judiciais e omitido declarações, entre outras práticas.

“Desabafo” – Sobre a conversa entre Colares e Guedin, o advogado argumenta ter sido provado nos autos que o delegado “não sabia e nem poderia saber que ele (produtor rural) era alvo de investigação ou que contra ele havia mandado de prisão expedido peal Justiça Federal”. O defensor afirma que apenas envolvidos nas apurações tinham acesso a dados do caso, o que excluía Colares.

Após invasão, índios foram alvos de ataque na Yvu, mobilizando forças policiais para a região. (Foto: PMMS/Arquivo)
Após invasão, índios foram alvos de ataque na Yvu, mobilizando forças policiais para a região. (Foto: PMMS/Arquivo)

“Porém, ao final da ligação, foi perguntar ao delegado que presidia o inquérito se Dionei era alvo, ao passo que lhe foi respondido que sim”, diz a defesa. A partir disso, Colares teria solicitado abertura de apuração interna na PF para saber se a conversa teria interferido nas apurações. Ele também ligou de volta para Guedin, pedindo que o produtor rural se apresentasse à polícia a fim de ser cumprido mandado de prisão contra si.

O teor da conversa, destaca a nota, foi de “desabafo” de Colares, diante de relações já abaladas entre a PF e o MPF. No telefonema, o delegado aconselha os pecuaristas a “baterem” no Ministério Público Federal.

O advogado reiterou, ainda, que além de apuração interna na Delegacia da PF de Dourados, a Corregedoria em Brasília analisou o caso, concluindo não haver crime a ser apurado, e sim “interpretações equivocadas do que realmente ocorreu”.

Adulteração – Em outro ponto, o delegado rebate à suspeita de que houve inserção falsa de dados no sistema de monitoramento da PF, já que perícia apontou não ter ocorrido adulteração diante de características do programa, que teria proibição e suprimir informações (autorizando apenas a anotação de comentários pelo analista).

Na nota, o advogado afirma que foi autorizada a quebra de sigilo telefônico de seu cliente, que não teria encontrado nada de ilícito.

O MPF apresentou denúncia à Justiça Federal em Dourados sobre o caso, que foi arquivada –resultando no recurso ao TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região). O advogado de Colares reitera que foi apesentada defesa prévia, sendo apontadas apenas provas levantadas pela Procuradoria no episódio, com a acusação sendo rejeitada.

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