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Capital

"Esquecidas", 3 das 13 vítimas de Nando continuam sem identificação

Serial Killer Luiz Alves Martins Filho, o “Nando”, é suspeito de 16 homicídios, mas responde pelo assassinato de 13 vítimas, desenterradas de uma área no Bairro Danúbio Azul

Danielle Valentim | 09/07/2018 14:36
Ialf possui o mesmo software usado pelo FBI, para armazenar dados genéticos.(Foto: Divulgação)
Ialf possui o mesmo software usado pelo FBI, para armazenar dados genéticos.(Foto: Divulgação)

Quase dois anos depois do surgimento de um cemitério clandestino, no Bairro Danúbio Azul, em Campo Grande, onde Luiz Alves Martins Filho, o “Nando”, 49 anos, ocultou os corpos de pelo menos 13 pessoas, ainda há vítimas cujos restos mortais estão parados no IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal), sem que as famílias tenham aparecido para uma tentativa de identificação, ao menos. A situação permanece apesar de já haver condenações acima de 50 anos  para Nando, em processos originados pela descoberta de uma espécie de grupo de extermínio de jovens, boa parte deles dependentes químicos. Um corpo e os restos mortais de duas vítimas ainda não foram identificados.

Nando já foi condenado por tráfico de drogas, favorecimento à prostituição, exploração sexual  infantil e pela morte de uma vítima conhecida como “Café”, cuja identificação completa ainda não foi possível. O júri foi no dia 29 de junho deste ano. Ainda restam julgamentos sobre a participação em outros assassinatos.

Conhecido como "dono" do cemitério clandestino, Nando é suspeito de 16 homicídios, mas responde na Justiça por ligação direta com 13.

Ao Campo Grande News, o diretor do Imol, Carlos Idelmar de Campos Barbosa, explicou que quatro vítimas permanecem no Instituto, mas apenas três sem identificação. O impasse acontece devido à trâmite judicial, que prolonga o tempo de liberação.

“Dos quatro que ainda estão aqui, três são ossadas e o último um corpo ignorado, sem identificação. Uma das ossadas já foi identificada, mas permanece no Imol por causa dos trâmites de cartório, porque eles precisam confeccionar a certidão de óbito", expplica.

O restante já possui o exame necroscópico finalizado, e dados genéticos armazenados para possíveis exames de identificação no futuro. Outro problema, que impede um sepultamento como indigente, por exemplo, é que após 30 dias, o cartório não emite o atestado de óbito, sem uma liberação judicial e isso também aumenta o tempo de permanência dos restos mortais no local, disse.

De acordo com o diretor do Imol, não há limite de tempo para a permanência de corpos no Instituto, tendo em vista que câmara fria tem capacidade de congelar. O problema seria o espaço, já que o local armazena no máximo 30 corpos.

“Estamos próximos disso (limite). Mas estamos sempre liberando corpos. A questão é se acontece uma tragédia com vários corpos, aí é complicado. O exame dessas vítimas já terminou, já temos dados no banco de DNA, vamos evoluir para inumação (sepultamento) do corpo, assim que o cartório liberar”, finalizou.

Diretor do Imol, perito médico legista Carlos Idelmar de Campos Barbosa e perita criminal Josemirtes Socorro Fonseca Prado da Silva, diretora do Ialf.
Diretor do Imol, perito médico legista Carlos Idelmar de Campos Barbosa e perita criminal Josemirtes Socorro Fonseca Prado da Silva, diretora do Ialf.
Ossadas e objetos encontrados durante escavações. (Foto: Polícia Civil)
Ossadas e objetos encontrados durante escavações. (Foto: Polícia Civil)

Software usado pelo FBI – A perita criminal Josemirtes Socorro Fonseca Prado da Silva, diretora do Ialf (Instituto de Análises Laboratoriais Forenses), pontua que além dos exames periciais laboratoriais, relativos às infrações penais na área de genética, o instituto possui o mesmo software usado pelo FBI (Federal Bureau of Investigation) - a Polícia Federal dos Estados Unidos - para armazenar dados genéticos de todos os procedimentos já realizados.

A tecnologia, presente em pelo menos 18 Estados da Federação, organiza os dados genéticos de corpos e ossadas encontradas e interliga as informações em tempo real. Ou seja, se um familiar doa amostra genética em qualquer desses locais em busca de algum parente, todos os Estados recebem a informação.

“Tudo quanto é tipo de ossada encontrada e, que vem para o Imol, uma amostra é encaminhada ao Ialf para o exame de DNA das amostras e as informações colocadas no Codes, software que é dividido em amostras de local de crime, como sangue ou esperma, e amostras de ossos”, explica.

Família é única forma de identificação - No caso Nando, 11 amostras foram enviadas ao Ialf. De acordo com a diretora Josemirtes, apenas nove familiares procuraram o Instituto para os exames, mas duas vítimas, do sexo masculino, permanecem sem identificação.

O exame de DNA é um confronto entre dois perfis genéticos e um dos impasses é a ausência da família. Não há identificação sem a comparação com parente, seja descendente ou ascendente.

“Das 11 amostras enviadas ao Ialf, nove foram identificadas através de pais, mães, filhos ou irmãos biológicos. Dessas duas que ainda restam sem identificação, ninguém nos procurou, ninguém foi à delegacia denunciar o desaparecimento. Não temos como identificar se não virem parentes. O ideal é que se ainda houver famílias com suspeita de que tenham parentes envolvidos no caso Nando, que disponibilizem uma amostra para exames”, finalizou.

Matava "por gosto" - Conforme as investigações da Deaij (Delegacia de Atendimento à Infância e a Juventude), na época, Nando não recebia nada pra matar, matava por gosto e depois voltava às covas para contemplar o que tinha feito.

Os primeiros registros de desaparecimento começaram em 2012 e Nando chegava a receber o “convite” de outros 17 membros do grupo de extermínio para “matar vagabundo”.

A investigação envolvendo o grupo chefiado por Nando começou após a morte de Leandro Aparecido Nunes Ferreira, o 'Leleco', assassinado em vingança pela morte de um dos desaparecidos atribuídos ao suspeito no Danúbio Azul. Segundo a polícia, as vítimas eram atraídas para o Jardim Veraneio, estranguladas e enterradas de ponta cabeça em covas no cemitério clandestino no local.

Perfil das vítimas

1 – "Café", ainda não identificado - morto por Nando, Jean e Michel, porque devia dois fretes para o Nando no valor de R$ 170. Ele foi encontrado enterrado no Jardim Veraneio no dia 17 novembro.

2 - "Alemão", ainda não identificado - morto por Nando e Jean em 2012, porque vendeu uma televisão furtada para Nando, e o dono acabou o cobrando. O corpo foi enterrado no mesmo lugar que de Flávio Soares Correia, 25 anos, onde foram encontradas ossadas.

3 – Nando confessou o assassinato de Ariel Fernando Garcia Lima Teixeira, 22 anos. Ariel foi encontrado morto, com vários tiros na cabeça e pelo corpo, em fevereiro de 2012, embaixo de uma árvore, no Jardim Veraneio.

4 - Flavio Soares Corrêa, 25 anos – sumiu em abril de 2015. Era usuário de drogas, cometia furtos, mas teria sido morto por ser "afeminado".

5 - Jhennifer Luana Lopes, a Larissa, de 16 anos – desapareceu em junho de 2014 e foi morta por causa de furtos e vício em droga. Os restos mortais também foram localizados no “cemitério clandestino” em novembro de 2016.

6 - Daniel de Oliveira Barros, 28 anos – usuário de drogas. Furtava moradores do bairro. Foi morto em março de 2014, com golpe de chave de fenda no pescoço.

7 - Bruno Santos da Silva, 18 anos - era usuário de drogas e costumava furtar casas no bairro. Sumiu em 2013. Foi morto porque tirou sarro de um sobrinho do Nando.

8 - Eduardo Dias Limas, 15 anos - “Eduardinho” – desapareceu em dezembro de 2015. Era usuário de drogas e morreu após furtar garrafas de um bar que Nando estava montado.

9 - Daniel Gomes de Souza, 17 anos - desapareceu em dezembro de 2012 e teve a ossada localizada em dezembro de 2016. Ele foi morto porque era usuário de drogas.

10 - Alex Alves da Silva Santos, 18 anos, “ladrão” – era usuário de drogas. Tinha hábito de furtar no bairro. Sumiu em março, após ser morto por Nando e Vagner.

11 - Aline Farias da Silva, 22 anos – era garota de programa, amiga de Nando, pois ele arrumava clientes para ela. Mãe de dois filhos, ela foi morta em março de 2016 e a ossada encontrada em novembro do mesmo ano.

12 - Lessandro Maldonado de Souza, 13 anos - morto em agosto de 2016, por que viu a cunhada, Talita, fazendo carinho em um traficante e ameaçou contar para o marido dela. A ossada foi localizada em novembro do mesmo ano.

13 - Ana Claudia Marques, 37 anos – mãe de seis filhos, sumiu em setembro deste ano. Morta por Nando por ter sido uma das primeiras a fornecer droga para viciar moradores do bairro. A ossada da vítima foi encontrada no dia 22 de novembro de 2016.

14 - Jhennifer Lima da Silva desapareceu aos 13 anos. Teria sido enforcada por Wagner, Jean e Nando, porque praticava furtos no bairro para conseguir manter o vício. Foi convidada a usar entorpecentes pelo trio e assassinada.

15 – Vanderlei de Almeida Junior, 20 anos, "Juninho" – foi morto em março de 2016, mas não por Nando. Porém, é considerado vítima do grupo porque Nando tentou matá-lo em 2013.

16 - Outro caso relacionado a Nando é a morte de Rogerio Cesar de Brito, 45 anos. Ele foi encontrado degolado, com vários tiros pelo corpo, no dia 4 de janeiro deste ano, na Rua Água Azul, no Jardim Veraneio, a 500 metros da BR-163.

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