ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, DOMINGO  28    CAMPO GRANDE 24º

Capital

Menina estuprada por pai não tem familiar apto e ficará em abrigo

Rafael Ribeiro | 01/06/2017 12:51

Vítima de estupros e agressões por parte do próprio pai há seis anos, em caso revelado pelo Campo Grande News na terça-feira (30), a adolescente de 14 anos não tem como deixar o abrigo para onde foi encaminhada após a prisão do acusado, de 38, no último sábado, por falta de familiares considerados aptos para cuidarem dela.

O alerta foi dado pelo advogado Edylson Durães Dias, que na quarta-feira (31) disse que ajudará a jovem e assumirá seu caso para mover um processo contra o Estado e o Poder Judiciário por tratarem com descaso as denúncias que a vítima fazia desde 2011.

“Não tenho como assumir o caso, a representação da menina já que neste momento ela está em um abrigo sem ninguém designado como tutor oficial, ou seja, responsável por ela. É uma situação muito triste”, disse.

Somente um tutor dativo, como o Judiciário define quem responde legalmente por uma criança e adolescente, poderia autorizar não só repassar a representação para Dias como também tirar a adolescente do abrigo.

“Abalada psicologicamente como ela está, não acho que permanecer seja a melhor das opções para essa jovem”, disse um dos policiais da Depca (Delegacia de Proteção a Criança e Adolescente), que cuidaram do caso.


Segundo a polícia, dois familiares estão impedidos judicialmente. A mãe da jovem, que a ajudou na denúncia do pai à polícia, é usuária de drogas e foi afastada do convívio com a filha por acusações de maus-tratos, omissão e negligência.


Além das denúncias contra a mãe, um casal de tios que também mora em Campo Grande estão impedidos de terem contato com a jovem por supostamente serem cúmplices do acusado no crime. O tio, aliás, também teria ajudado em alguns dos estupros.


“Sobrariam familiares que estão afastados pelo Brasil, mas em estados muito longes e cuja comunicação é difícil. Estamos à espera de algo positivo, que alguém se comova”, disse o policial.


Para o advogado Dias, instituições de apoio às crianças e adolescentes poderiam se comover com a história e auxiliar a jovem. “Precisamos agilizar os processos”, disse, destacando que assumir a tutela não é o mesmo que adotar. “As pessoas confundem, talvez pelos direitos serem semelhantes.”

O caso - Por questões de segurança, a Polícia Civil não divulgou a identidade do pai agressor, que mantinha com a menina uma relação forçada de marido e mulher. Foram cinco anos ao todo de agressões e estupros na casa onde moravam, nas cercanias da Júlio de Castilho (região oeste de Campo Grande).

De acordo com a delegada Marília de Brito Martins, da Depca, a garota procurou a polícia no dia 21 deste mês, ao lado da mãe, que é usuária de drogas, e de quem havia sido afastada pela Justiça, por sofrer maus-tratos, omissão e negligência.


Na delegacia, a garota apresentou um vídeo em que o pai, no dia do aniversário dela, a estuprava. A mãe contou que a filha era abusada pelo ex-marido e pediu a prisão dele.


Com a prova nas mãos, a polícia acolheu a denúncia da garota e indiciou o pai por estupro de vulnerável. A menina também passou por exames de corpo de delito e foi encaminhada a um abrigo, já que não poderia conviver com a mãe, por conta de uma ordem da Justiça de 2015.

Histórico – O primeiro registro da menina contra o pai é por ameaça, em 2011. O segundo foi feito em 2015, de maus-tratos.

No terceiro registro, também em 2015, a adolescente denunciou o pai por estupro. Em uma quarta vez, a garota denunciou um tio pelo mesmo crime. E por último, já em 2016, a vítima fez um registro de violência doméstica.


A delegada não deu detalhes sobre o inquérito, mas informou que todos eles foram relatados à Justiça dentro dos prazos estabelecidos, inclusive, aquele em que o pai da garota é acusado de estupro.


“O que posso dizer é que em todos os casos que ela procurou a polícia, a denúncia foi investigada e relatada à Justiça. Agora, o que a Justiça fez a partir disto já não está dentro das nossas competências”, explicou Marília.


A reportagem procurou a titular da Vara de Infância, Juventude e Idoso de Campo Grande, que também é coordenadora da Infância e Juventude do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), Katy Braum, por mensagem, a juíza se limitou a dizer que “infelizmente a Lei Orgânica da Magistratura me impede de falar sobre os processos que estão sob minha jurisdição”, e completou solicitando que a reportagem entrasse em contato com a assessoria de imprensa do TJ.


A assessoria respondeu que o caso segue sob os cuidados do juiz Marcelo Ivo, da 7ª Vara Criminal, e que ele não poderia comentar as circunstâncias do processo, pois está em segredo de Justiça.

Nos siga no Google Notícias