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Capital

Morte de travesti pode ter relação com uso de silicone industrial

Paula Maciulevicius | 03/02/2012 20:05

Pabrícia deu entrada no centro cirúrgico para retirar parte que havia sido injetada e a gordura em excesso no abdômen e nas coxas

Para médico silicone industrial pode ter entrado na corrente sanguínea. “É um risco que vai espalhando pelo corpo sem segurança nenhuma”. (Foto: João Garrigó)
Para médico silicone industrial pode ter entrado na corrente sanguínea. “É um risco que vai espalhando pelo corpo sem segurança nenhuma”. (Foto: João Garrigó)

A morte da travesti Pabrícia, 26 anos, após uma lipoescultura na tarde desta quinta-feira no hospital Infantil São Lucas, em Campo Grande, pode ter relação com o uso de silicone industrial. Essa é uma das hipóteses levantadas pelo médico que fez a cirurgia, Paulo de Oliveira Lima.

“O silicone ou a gordura podem ter entrado pela corrente sanguínea causando um infarto pulmonar, cardíaco ou microinfartos. É um risco que vai espalhando pelo corpo sem segurança nenhuma”, explicou.

O silicone industrial foi justamente o motivo da lipoescultura. Pabrícia deu entrada no centro cirúrgico para retirar parte que havia sido injetada e a gordura em excesso no abdômen e nas coxas.

Morando há três anos na Itália, ela chegou ao especialista por indicação de uma amiga da Itália, paciente do cirurgião. O primeiro contato foi por telefone, agendando a consulta, que foi realizada cinco dias antes da cirurgia.

De Cuiabá ela trouxe os exames do pré-operatório. “Ela queria ver se servia. Mesmo sendo de Cuiabá, os exames estavam dentro do padrão, e foi considerada apto a fazer a cirurgia”, explica Paulo de Oliveira Lima.

O médico explica que, diante dos exames trazidos de Cuiabá, não havia necessidade de pedir outros. Pabrícia tinha em mãos avaliação cardíaca, eletrocardiograma, exame de sangue e hemograma completo.

O único exame pedido pelo especialista em Campo Grande foi uma ultrassonografia de mamas, já que a paciente tinha prótese de silicone há mais de cinco anos.

Morando há 3 anos na Itália, ela chegou ao especialista por indicação de uma paciente do cirurgião. (Foto: Arquivo de família)
Morando há 3 anos na Itália, ela chegou ao especialista por indicação de uma paciente do cirurgião. (Foto: Arquivo de família)

“Ela estava bem, forte, não aparentava nenhuma deficiência”, acrescenta o cirurgião.

Ainda no pós-operatório Pabrícia começou a ter paradas cardíacas. O médico já não estava mais no hospital, apenas a equipe assistente, que entrou em contato e Paulo de Oliveira Lima retornou ao São Lucas.

“Foi uma sequência de paradas cardíacas. Ele nem saiu do centro cirúrgico, não houve recuperação, foi uma fatalidade”, define.

Fatalidade - Ainda de acordo com o médico, o centro cirúrgico do São Lucas, mesmo sendo infantil, é totalmente aparelhado e não teria necessidade de CTI, porque havia uma na própria sala de cirurgia.

“Eu opero há mais de 15 anos lá. Já fiz mais de mil cirurgias e sair um fato assim. Outras especialidades também operam lá, otorrino, ortopedia”, acrescenta. O especialista reforça que o caso foi uma fatalidade e que o laudo do IMOL (Instituto Médico Odontológico Legal) aponta que não houve imperícia.

Depois de constatar o óbito, o cirurgião ligou para o IMOL e foi orientado a acionar a Polícia e registrar um Boletim de Ocorrência. “Mas foi um equívoco, não era crime, não era um caso de Polícia”, comenta.

O médico vai aguardar o resultado do laudo pericial. Segundo ele deve ser feito exame toxicológico porque não tem condição de dizer se Pabrícia tinha feito uso de droga.

Quanto ao que a família questiona, do médico realizar a cirurgia sem que o paciente tenha acompanhante, ele explica que não é uma exigência e que Pabrícia disse que alguém chegaria.

“Ele falou que chegaria mais tarde, mas mentiu. Veio de Cuiabá direto para cá, não parou em hotel nada”, afirma.

O procedimento foi realizado em oito pontos. No total foram retirados 3 litros entre gordura, silicone industrial e soro.

O especialista descarta a possibilidade de a complicação ter surgido por conta da anestesia, que foi geral. “Durante todo o tempo não aconteceu nada”, diz.

Paulo de Oliveira Lima é cirurgião plástico há 30 anos em Campo Grande e as travestis fazem parte da clientela. Muitas vezes, elas vem de fora para o procedimento. Mesmo pela distância, o médico afirma que não há consulta por telefone e que toda cirurgia tem pelo menos duas consultas. Uma para solicitar exames e a de retorno.

Questionado se deveria haver um tempo entre a consulta e a cirurgia, ele afirma que não, se o paciente estiver apto pode ser realizada até no mesmo dia.

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