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Capital

Onda de tiroteio em favela e bairros assusta, mas há moradores tranquilos

Renan Nucci | 02/10/2014 15:58
Moradores do Dom Antônio e região reclamam da sensação de insegurança. (Foto: Marcos Ermínio)
Moradores do Dom Antônio e região reclamam da sensação de insegurança. (Foto: Marcos Ermínio)

Palco de cinco tiroteios nas últimas duas semanas, a região que compreende os bairros Dom Antônio Barbosa, Parque do Sol e Parque Lageado e a Favela Cidade de Deus, já não é mais um local tão seguro quanto antes, afirmam moradores. Alguns alegam que, temendo por sua segurança, mal saem de casa e por isso, cobram presença constante da polícia na área.

A disputa entre grupos rivais dos bairros tem sido um dos fatores que elevam a violência, aponta a Polícia Civil. Elvira Evangelista, 51 anos, mora com o irmão de 48 anos em uma casa localizada no Dom Antônio, há mais de 20 anos. Ela explica que a presença de menores infratores em frente à sua residência a preocupa. “Eles ficam consumindo droga na frente da minha casa, e ainda ficam me ameaçando se eu digo que vou chamar a polícia”, disse.

Ela explica que por causa disso, evita sair de casa durante à noite e de dia, quando está fora, teme que o local seja invadido. “Esse pessoal fica o tempo todo dizendo que se eu reclamar, vão botar a casa abaixo. Falam que vão queimar tudo. Por causa disso eu fico preocupada e não sei que pode acontecer”, disse a moradora, alegando que se a polícia passasse mais pelo local, de preferência em viaturas não caracterizadas, talvez conseguisse maior efetividade no trabalho de proteção. “Quando eles (marginais) veem a viatura vindo, de longe, correm e escondem tudo para não serem pegos”.

Mais insegurança - Quem também está preocupada é uma dona de casa de 23 anos, moradora no Lageado. Ela vive ao lado de uma boca de fumo, e por questões óbvias, não quis se identificar. A mulher alega que os filhos de três e dois anos, além de um bebê de apenas seis dias, ficam constantemente expostos à fumaça de cigarros de maconha que os vizinhos traficantes consomem.

Andressa ajuda a filha a cuidar de uma conveniência no Parque do Sol. (Foto: Marcos Ermínio)
Andressa ajuda a filha a cuidar de uma conveniência no Parque do Sol. (Foto: Marcos Ermínio)

“Não tem jeito, a fumaça, principalmente de maconha, é muito forte e as crianças ficam submetidas a isso. Já tentei falar com eles, mas não adianta, é só a polícia mesmo que tem condições de fazer alguma coisa”, alega ele que ainda não denunciou com medo de sofrer algum ataque. No dia 19 de setembro, seis pessoas foram baleadas por dois motociclistas no Lageado, e uma delas acabou morrendo. No dia seguinte, João Paulo de Souza Marques, 22 anos, morreu no mesmo bairro, também executado. A polícia acredita que os casos sejam frutos da rixa entre grupos rivais, incluindo do Dom Atônio, envolvidos com o tráfico.

Andressa Lopes, 41 anos, ajuda a filha a manter uma conveniência no Parque do Sol. Ela afirma que está com o estabelecimento há três anos na Rua João Barbosa, e que nunca foi alvo de algum tipo de crime, tanto que as portas do comércio fecham somente após a meia-noite. Apesar de aparentemente tranquilo, ela sabe que é preciso cuidado com o lugar, pois moradores de ruas próximas já foram, por exemplo, roubadas.

“Aqui na minha rua eu nunca vi nada, mas sei que não é uma paz total. Vizinhos da rua ao lado já foram assaltados, e um supermercado aqui perto já foi roubado várias vezes. A gente também ouve as histórias de brigas e tiroteio”, explicou. No Parque do Sol, moradores incendiaram na noite de domingo (28), um ônibus de transporte público em retaliação à prisão de dois jovens de 19 e 21 anos, que haviam atirado contra uma terceira pessoa, identificada apenas como Felipe.

A vida na favela - Na Favela Cidade de Deus, uma equipe da Guarda Municipal que mantém uma base móvel para proteger dois geradores instalados pela prefeitura, foi alvo de um atentado na noite de quarta-feira (24). A viatura foi atingida por disparos, mas ninguém se feriu.

Na manhã do dia seguinte, houve novo tiroteio próximo a um campo improvisado de futebol. Um dos atiradores, um adolescente de 17 anos acabou detido. Ele teria participado, inclusive, do atentado ocorrido na noite do dia 19, no Lageado.

Gaúcho alega que os moradores da favela são tranquilos e que muitos problemas são trazidos por pessoas de outros bairros. (Foto: Marcos Ermínio)
Gaúcho alega que os moradores da favela são tranquilos e que muitos problemas são trazidos por pessoas de outros bairros. (Foto: Marcos Ermínio)

Mesmo diante deste cenário, moradores da favela alegam que o local é calmo. José Carlos Xavier, 52 anos, conhecido como Gaúcho, mantém um bar em frente à base da Guarda. Ele toca o comércio há pouco mais de um ano e diz que nunca se meteu em confusão. O homem diz que a comunidade é tranquila e que os tiroteios que ocorrem lá são provocados por moradores dos outros bairros.

“Todo mundo se conhece e a gente sabe quem é quem. Aqui tem muita gente boa, mas os malandros vêm de fora pra aprontar aqui. Os tiroteios daqui são confusão de gente dos outros bairros. Eles aprontam pra lá e correm pra cá para se esconder. Estou com meu bar aqui e nunca fui roubado, mesmo antes da presença da Guarda Municipal”, explica. O discurso é reforçado pela dona de casa Elizandra Farias, 31 anos. “O pessoal da favela é tranquilo e evita confusão”, alega.

Segurança - A Guarda Municipal mantém a base na favela, com reforços. O efetivo foi aumentado e as polícia civil e militar prestam apoio por meio de trabalhos de inteligência e operações repressivas. Durante a visita da equipe de reportagem ao local, além dos guardas, foram vistos investigadores no local. O major Marcos Paulo, comandante da equipe de Choque da Polícia Militar, alega que toda a região, com todos os bairro, está sob vigia constante da corporação.

“Nunca deixamos a favela e aquela região. Temos combatido a criminalidade com ações específicas”, disse ele, lembrando que a denúncia por parte dos moradores é importante. “Os moradores possuem informações importantes para o trabalho da polícia, e por isso, esperamos contar com eles quando necessário”, comentou.

Guarda Muncipal e Polícia Civil, com apoio da Polícia Militar, fazem a segurança no local. (Foto: Marcos Ermínio)
Guarda Muncipal e Polícia Civil, com apoio da Polícia Militar, fazem a segurança no local. (Foto: Marcos Ermínio)
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