Para manter o isolamento social, famílias elegem o “faz tudo” durante pandemia
Quando há necessidade de sair às ruas, os campo-grandenses deixam a responsabilidade nas mãos do parente “escolhido”

Em tempos de coronavírus as famílias encontraram uma alternativa para manter o isolamento social e resolver os problemas que exigem atendimento presencial: sortear o “faz tudo” da casa. O “escolhido” fica responsável desde as compras até o pagamento das contas de todos os integrantes da residência. É uma espécie de motorista da rodada, mas sem a possibilidade de rodízio.
A dona de casa Rose Madalena, de 43 anos, é a escolhida da família. Nesta quarta-feira (15) ela foi até o centro de Campo Grande para pagar as contas dela e da mãe. Antes do coronavírus, as duas costumavam sair juntas.
Rose aproveitou que já estava no centro para comprar utensílios domésticos para a família. “Deixei minha mãe e vim para cá”, resume. Ela disse ter aproveitado a manhã para pagar contas e ir até o banco. “Teve coisas da minha mãe que não consegui resolver porque ela não estava”.
A funcionária pública Liane Pereira, de 52 anos, foi escolhida como a “faz tudo” da família dela. Ela diz estar evitando sair às ruas, mas hoje não pode evitar porque a temperatura na cidade caiu e precisava comprar um cobertor. Acostumada a sair acompanhada do marido ela teve de mudar a rotina.
Liane conta que o marido a deixou no centro, voltou para casa e só retornou quando ela disse ter resolvido tudo. A medida foi tomada para evitar as filas e possíveis aglomerações nas lojas. “Estou me cuidando e achei melhor desse jeito porque senão são duas pessoas expostas. Confio em mim e desse jeito consigo cuidar”.
Quem também saiu sozinha como forma de demonstrar cuidado pela mãe de 78 anos foi Iracema Alves Medida, de 55 anos, que estava com as contas das duas em mãos. Antes da pandemia do coronavírus era comum encontrar as duas mulheres nas ruas do centro.
“Eu vinha umas duas vezes por semana antes de tudo isso”, diz. Iracema ainda não tinha saído de casa para ir até o centro desde que adotou o isolamento social, mas hoje precisou pagar as contas da família. “Minha mãe é cuidadosa e fez questão de não vir. Ela também não queria que eu viesse”. Iracema só saiu de casa porque está responsável por auxiliar toda a família.
O problema maior é quem é o “escolhido” por falta de opção, mesmo fazendo parte do grupo de risco para a doença. É o caso da aposentada Cecília Camilo, de 62 anos, que hoje saiu de casa para comprar remédios.
Cecília mora na área central da cidade e conta que não tem quem faça este serviço para ela. Questionada sobre a possibilidade de pedir por telefone, ela responde não ter esse costume e nem familiaridade com as tecnologias. “Tento tomar o máximo de cuidado possível. Não estou saindo de casa para nada, mas não tenho filho perto e nem vizinho”, finaliza.