Polícia investiga se, além da mãe, mais alguém estava com bebê morto
A Depca (Delegacia Especializada na Proteção da Criança e do Adolescente) já ouviu a filha de Marlene Romeiro da Rocha, 37 anos, uma adolescente de 17, na manhã desta sexta-feira. Vizinhos e familiares também serão ouvidos na investigação que apura os maus tratos que resultaram na morte de uma criança de 1 ano e dois meses na madrugada de hoje. Kemely Romeiro Rocha morreu na Santa Casa depois de dar entrada com sinais de espancamento. A mãe, Marlene, está presa desde a madrugada, suspeita pela agressão.
“O que a gente quer esclarecer é em que circunstância que a criança morreu. Que ela morreu em virtude de agressão física não há dúvida nenhuma”, disse a delegada responsável pelo caso, Regina Márcia Rodrigues.
Em depoimento, Marlene disse à Polícia que saiu as 19h30 de casa para pegar leite na casa da filha e que deixou a criança dormindo e que ao retornar, meia hora depois, a menina estava desacordada e o padrasto, Francisco Gomes de Carvalho Filho, 54 anos, que havia ficado em casa com a criança, contou que Kemily caiu da cama.
Da casa a criança foi levada para o posto de saúde do bairro Nova Bahia onde chegou em estado grave e teve uma parada cardiorrespiratória. De lá, o bebê seguiu para a Santa Casa e morreu.
“A investigação vai esclarecer essa circunstância. Se realmente ocorreu os maus tratos durante a saída dela ou se já havia ocorrido antes e quem estava na casa no momento da agressão”.
A filha que prestou depoimento na Depca nesta manhã confirma a versão de que a mãe chegou até a casa dela pedindo leite por volta das 19h30. Marlene que é usuária de pasta base não estava, conforme relatos da adolescente, sob o efeito de drogas.
A testemunha contou que ela permaneceu por meia hora e voltou para a casa dela. A distância entre uma casa e outra é de pouco mais de quatro quadras. Sobre a filha bebê, Marlene respondeu à adolescente que deixou a criança dormindo, com o padrasto.
Vizinhos da casa de Francisco serão ouvidos na tarde de hoje pela Polícia. Um deles chegou a relatar que ouvia brigas entre o casal com frequência. Eles estavam juntos há cinco meses.
Na versão da mãe à Polícia, os maus tratos ocorreram quando ela estava fora. Na versão de Francisco, foram antes de Marlene ter saído para buscar leite.
A mãe que está presa teve nove filhos no total. Com a morte do bebê, é a segunda filha de Marlene que morreu. Um dos filhos foi adotado e outro está sob cuidado do Conselho Tutelar há três anos.
“Falaram que a agressão foi 20h. Ela chegou em casa essa hora, então não foi ela. Lá pelas 20h30 ela ligou para minha tia dizendo que ela tinha caído da cama”, diz a adolescente.
A menina conta que ficava por muitas vezes cuidando da irmã durante o dia e que nunca viu marcas de agressão na criança. “Nem quando ela estava sob efeito de droga. Pelo contrário, era quando ela mais cuidava”, descreveu a adolescente.
Sobre a relação com o padrasto, a menina diz que Kemely tinha medo dele. “Ela tinha pavor, não gostava. Porque criança sente”.
A filha relatou estar em choque. “Nunca vi nada de diferente nela. Para mim, foi um choque e até agora eu não acredito. É porque ela é usuária de drogas e tem passagem. É claro que vai cair nela”, fala sobre a prisão da mãe.
A tia de Kemely foi quem socorreu junto do marido, o bebê até o posto de saúde. Ao Campo Grande News ela disse que não acredita que Marlene tenha sido a autora das agressões. “Ela não fez isso com os outros filhos dela”, argumentou.
Ela disse ainda que a irmã estava desesperada quando ligou pedindo ajuda e que o padrasto foi chegar na unidade de saúde 45 minutos depois e tranquilo.
“Ele era violento com a Marlene, mas ela falava não vou fazer BO porque não foi nada”.
Kemely não será velada por decisão da família. Segundo a adolescente de 17 anos, ela será enterrada direto.
“Não vou falar que a culpa é dele porque não sei a versão dele. Mas eu não desacredito não, como ela ficava com ele. Medo, trauma, choro, uma criança não fica daquele jeito. A Kemely era uma criança que não chorava, era quieta, não fazia bagunça”, finaliza a irmã.