“Água da chuva deu um pouco de energia”, diz jovem perdido por 16 horas em mata
Trio sentiu medo de encontrar animais comuns na região, como onças e porco do mato; homens andaram cerca de 20 km

“Saímos catando pequi, achamos que o carro estava perto e, quando tentamos voltar para tomar água, percebemos que estávamos perdidos”. É assim que descreve o vendedor Maxsuel Souza Almeida, de 25 anos, o momento que ele e outras duas pessoas se perderam em área de mata fechada, na região rural de Sonora, a 364 quilômetros da Capital, no último sábado (9).
O trio havia saído para pegar pequi, quando se perdeu. Foram cerca de 16 horas entre a certeza de estarem perdidos e o encontro com familiares e militares do Corpo de Bombeiros que montaram um verdadeiro plano de resgate para socorrer as vítimas.
Sinais sonoros, como fogos, buzinas, sirene e apitos foram utilizados na tentativa de ajudar as vítimas a localizarem a saída. O mais difícil, segundo Maxsuel, foi passar a noite no local.
“Andamos com a lanterna do celular do meu tio, que ainda tinha bateria. Estávamos cansados, dando câimbra, paramos para escutar os fogos e tentar direcionar no rumo dos barulhos. Ficamos com medo de bichos, só tínhamos uma faca e um facão, é um lugar perigoso, que tem muita onça e porco do mato. Graças a Deus não batemos de frente com nenhum”, relata o jovem.
Ainda segundo o vendedor, até por volta das 22h o único aparelho celular que estava com eles funcionou. Foi com ele que o trio conseguiu pedir ajuda a um amigo, que acionou o Corpo de Bombeiros.
Maxsuel revelou ainda, acreditar que ao logo das 15h na mata, o três percorreram aproximadamente 20 quilômetros, a pé. “Ficamos escutando os fogos e a gente só ficava pensando em encontrar os bombeiro”, lembra.
Sem água no local, os amigos apenas conseguiram beber algum líquido após amanhecer. “Choveu, conseguimos beber um pouco da água da folha das árvores, deu para ter um pouco mais de energia”, destaca.
Sobre o pequi, o jovem brinca: “ficamos sem, jogamos tudo fora no sábado mesmo, estava pesando”. Agora, com todos salvos, fica o aprendizado. “Foi uma experiência! Agora a gente sabe que, quanto mais você anda, mais você se perde, tem que tomar cuidado. Foi desesperador, o pior foi domingo de manhã, parecia que não íamos achar, que teríamos que passar mais um noite ali”, comenta.
Resgate – Maxsuel, o tio, conhecido como “Mai”, de 53 anos, e um amigo, conhecido por “Dentinho”, de 36 anos, foram resgatados com ajuda de militares do Corpo de Bombeiros de Coxim, a 260 quilômetros da Capital.
Foram pouco mais de 11h de buscas, lembra sargento Luciclei. “O chamado entrou no começo da noite. Familiares tinham contato pelo celular com eles, mas o sinal era ruim. Os amigos e parentes tiveram a ideia de usar fogos, porém eles estavam em uma região com bastante buraco, pedras e paredões. As vezes acontece do som bater e dar eco”, ressalta o militar, ao relatar algumas das dificuldades enfrentadas ao longo do resgate.
Com a sirene da viatura, além de apitos, fogos e demais sinais sonoros, as vítimas conseguiram após pouco mais de 15 horas na mata, localizar a saída e encontrar os militares.
Cuidados – Ao Campo Grande News, Sargento Luciclei ressaltou ainda, cuidados que as pessoas precisam ter em áreas de mata. “Aqui na região tem muito pequi, as pessoas costumam sair para pegar. Toda vez que adentrar uma mata, que a pessoa não vá sozinha e esteja, de preferência, com alguém que conheça a área”
O alerta continua. “Antes de entrar é preciso ter alguma referência, como a posição do sol, alguma montanha ou serra. Aplicativos de celular, como os que são usados por ciclistas para demarcar trajetos, também podem ajudar. E claro, sempre levar água e algum tipo de alimento, uma barra de cereal ou fruta, além de estar sempre com facão para abrir caminhos”, reforça.