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Em Pauta

Brumadinho: os metais destruíram populações

Mário Sérgio Lorenzetto | 27/01/2019 10:58
Brumadinho: os metais destruíram populações

Caso você tivesse uma máquina do tempo e digitasse no painel: 1.400 a.C. Iria posar em um mundo dominado por quatro povos poderosos: egípcios, hititas (persas), micênios (gregos) e mesopotâmicos (iranianos, sírios e iraquianos). O Mediterrâneo estava congestionado de cargueiros a remo, é claro. Comerciantes subiam o Eufrates carregados de grãos e tecidos de algodão, especialmente produzidos no Egito. Desciam com o estanho extraído das montanhas nevadas de Elburz, no Irã atual, cheio de mineradoras. Milhares de pessoas morriam a cada ano para extrair estanho. Em Elburz começa a história das mineradoras massacrando populações.
Era tanto movimento nessa da região da Mesopotâmia que 90% da população vivia em cidades. Taxa similar á de São Paulo. No Egito era parecido. Mas com as cidades um pouco mais espalhadas. Pululavam às margens férteis do Nilo - Mênfis, Tebas e Heliópolis. Do outro lado do mar, ficavam os micênios, que originariam os gregos. Ali perto, na Turquia atual, reinava o Império hitita. Essas civilizações formavam o quarteto do poder.

Brumadinho: os metais destruíram populações

Às armas cidadãos, mas elas são de cobre.

O único metal usado em larga escala era o cobre. Por dois motivos: era abundante e tinha um ponto de fusão baixo. Derrete a 1.085 graus Celsius. Uma quantidade de calor não muito difícil de obter aquela época. Mas as armas de cobre não eram tudo isso. É um metal maleável e quebradiço. Até funcionava para pontas de lança e de flechas. Mas as espadas não eram confiáveis. Quebravam-se facilmente.
Só que uma hora, esse problema acabou. Algum iluminado, não se sabe quem foi, uniu o cobre com o estanho. Inventou o bronze. Pronto, graças ao bronze, passaram a produzir espadas maiores, mais resistentes, mais afiadas. Quem tivesse bronze, vencia a guerra. Quem tinha bronze, dominava. Quem não tinha, escafedia. A gloriosa Idade do Bronze. Mas custou as vidas de milhares de pessoas que mineravam o cobre e, principalmente, o,estanho. Esse estanho tinha o mesmo valor do atual petróleo. Mas as minas tratavam seus trabalhadores como tratam até hoje: em regime de escravidão e constante perigo

Brumadinho: os metais destruíram populações

Os espanhóis ingressam o mundo na Idade do Ouro.

Quatro caravelas comandadas pelo espanhol Hernán Cortêz, chegam a Cozumel. O chefe da expedição, jogou tudo ou nada. Mandou incendiar as quatro embarcações para que ninguém desistisse da expedição de caça ao ouro. Já sabiam que naquela terra havia ouro. Duas anteriores expedições espanholas apontavam para a riqueza. Antes de Cortêz, o mundo conhecia e negociava com o ouro. Mas era um metal raro.
Aliados a milhares de índios que odiavam e eram escravizados pelos astecas, os espanhóis chegaram ao rio Tabasco. Lá enfrentaram a primeira batalha contra as tropas astecas. Após a derrota, os índios de Tabasco, aliados dos astecas, ofereceram tecidos, iguarias e mulheres. Entre essas mulheres estava La Malinche. Ela seria a figura mais importante para a conquista do monumental império asteca, formado por mais de 25 milhões de pessoas. Conhecia profundamente os costumes daquele povo. Sabia que suas guerras sempre eram apenas para aprisionar seus adversários com redes, nunca para matá-los. A expedição chegou a Vera Cruz. Ampliou enormemente suas alianças com outros povos indígenas, como os totonacas. Em 8 de novembro de 1519, com 900 homens e alguns canhões, Cortêz estava em Tenochtitlán, a bela e populosa capital dos astecas, comandada por Montezuma, maior e mais rica que qualquer cidade europeia. Cortêz prendeu Montezuma. O Império Asteca tinha caído. Em seu lugar, de seus escombros e do ouro que produzia, nasceria o Império do Consumo, que vivemos até hoje. A civilização asteca simplesmente desapareceu depois de Montezuma ser decapitado. Mas o ouro asteca foi à Europa. Lá construiu uma novidade: uma classe média. Classe que passou a consumir especiarias, sedãs, diamantes e pérolas do Oriente. E nunca mais abandonaram esse consumo.
No outro lado do mundo, os espanhóis tomaram todo o,ouro que já havia sido minerado pelos astecas. E continuaram a procurar por uma lenda: Eldorado, a cidade do ouro. Nunca a encontraram. Mas conseguiram retirar dezenas de toneladas de ouro mexicano massacrando milhares de indígenas anualmente. Novamente a história era repetida. Um minério forjaria uma nova sociedade, mas as custas da vida de milhares de pessoas esmagadas para que esse minério saísse da terra.

Brumadinho: os metais destruíram populações

Potosi e as montanhas de prata bolivianas.

Porco, esse o nome da principal mina de prata, dentre tantas outras, que os espanhóis fundaram em Potosi, na Bolívia atual (nessa época, era Peru). Milhões de indígenas foram levados para Potosi. Um pequeno vilarejo, inexistente no mapa, cresceu. Virou a maior cidade do mundo.
Todos escravizados. Com a experiência adquirido no México. Passados vinte anos, os espanhóis eram agraciados com outra fortuna inimaginável. Abarrotaram o mundo com a prata de Potosi. Um autor criou uma imagem que mostra o tamanho da riqueza retirada.Diz que seria possível construir uma ponte de prata ligando a América do Sul à Europa.
Todos os anos milhares de indígenas eram mortos nas minas de Potosi. Começaram a fugir, a morte era certa. Os espanhóis, percebendo a falta de escravos a cada ano, começaram a levar africanos para as minas. Mas o contrabando era gigantesco, maior que o que hoje é praticado nas desguarnecidas fronteiras brasileiras. Provavelmente nem a metade da prata retirada de Potosi chegava às arcas do governo espanhol. Desse contrabando e procura por índios para escravizar, nasceu a hoje poderosa Argentina. A história se repetiria mais uma vez. A prata jorrada de Potosi criou um novo mundo. Um mundo onde o Oriente voltou a ter força descomunal. A China chegou a proibir a entrada da prata boliviana em seu solo pela inflação que estava criando. Mas as vidas de milhares de trabalhadores era ceifada anualmente.
Tudo a ver com o que ocorreu em Minas Gerais da Vale e dos ingleses. E no Pará dos noruegueses.

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