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Em Pauta

E as mulheres foram para a guerra

Mário Sérgio Lorenzetto | 15/06/2017 07:42
E as mulheres foram para a guerra

Quando as mulheres entraram para o exército pela primeira vez na história? Já no século IV a.C., em Atenas e Esparta, havia mulheres lutando nas tropas gregas. Depois, elas participaram das campanhas de Alexandre, o Grande. As eslavas às vezes iam para a guerra com seus pais e maridos, sem temer a morte.

Assim, no cerco a Constantinopla, em 626, os gregos encontraram muitos cadáveres de mulheres entre os eslavos mortos. E na Idade Moderna? Primeiro, na Inglaterra, nos anos de 1560 a 1650 começaram a engajar mulheres-soldados que iam montar hospitais militares. Já no começo do século passado, na Primeira Guerra Mundial, na Inglaterra, começaram a aceitar mulheres na Força Aérea Real; foram formados um Corpo Auxiliar Real e uma Legião Feminina de Transporte Rodoviário: eram 100 mil mulheres engajadas.

Na Rússia, na França e na Alemanha, nesse tempo, muitas mulheres começaram a servir em hospitais militares e em trens-enfermarias. Mas, na Segunda Guerra Mundial, o mundo foi testemunha do fenômeno feminino. As mulheres serviram em todas as forças armadas: nas tropas inglesas eram 225 mil; nas norte-americanas eram 450 mil; nas alemãs, 500 mil... No exército soviético lutaram 1 milhão de mulheres. Elas dominavam todas as especialidades militares, inclusive as "mais masculinas".

Surgiu até um problema linguístico: as palavras "tanquista", "soldado de infataria", "atirador de fuzil", até aquela época, não tinham gênero feminino, porque mulheres nunca tinham feito esse trabalho. O feminino dessas palavras nasceu na guerra... e elas retornaram para seus lares com novas ideias... queriam a igualdade no trabalho, na política, na economia... só admitiam a diferença nas tarefas cotidianas de suas famílias. Da guerra fraticida à guerra por direitos.

E as mulheres foram para a guerra

Quem escreverá a história das mulheres na guerra contra o Paraguai?

Junho, mês de santos festeiros...e de guerra. Retomada de Corumbá que ficou mais de dois anos sob o domínio de tropas paraguaias. Mais uma nota sobre essa perversa guerra? Para quê? Do que vale falar e escrever sobre guerras, já aconteceram milhares - pequenas e grandes, famosas e desconhecidas. E o que se escreveu sobre elas é ainda mais numeroso. Mas... foi escrito por homens e sobre homens. Tudo que sabemos das guerras conhecemos por uma voz masculina.

Somos todos prisioneiros de representações e sensações masculinas das guerras. Já as mulheres estão caladas. Ninguém, além de mim, fazia perguntas para minha bisavó que viveu durante essa guerra. Até as que estiveram no front foram caladas pela história manca e caolha, que só anda e enxerga o que os homens viveram. Se de repente começam a lembrar, contam não a guerra feminina, mas a masculina. Seguem o cânone. Só conheço a voz dessa guerra pelos soluços de minha bisavó. Um dos maiores espantos de minha infância - constatar que um adulto chorava. O lamento era pela lembrança dos meses que viveu fugindo das tropas paraguaias, enterrada em um enorme buraco cavado em uma distante fazenda.

A lembrança da fome que sentia e que se eternizou por muitas décadas. Mesmo muito tempo depois dos combates, mesmo com alimentos em fartura, a lembrança da fome cobrava seu preço. A memória do medo de todos que não fossem da família, muitos peões dessa fazenda eram paraguaios ou descendentes e, portanto, suspeitos. Poderiam entregar aos militares do Paraguai a localização do esconderijo.

Quando as mulheres falam, não aparece nunca, ou quase nunca, aquilo que estamos acostumados a ler e escutar: como umas pessoas mataram heroicamente outras e venceram. Ou perderam. Qual foi a técnica e quais eram os generais. Os relatos femininos são outros e falam de outras coisas. A guerra feminina têm suas próprias cores, cheiros, sua iluminação e seu espaço sentimental. Suas próprias pessoas ocupadas com uma tarefa desumanamente humana.

E ali não sofrem apenas elas, as pessoas, sofrem a terra, os pássaros, os animais de criação, as árvores. Todos os que vivem conosco na terra. Sofrem sem palavras, o que é ainda mais terrível. A memória de minha bisavó ainda sofria pelo destino de uma vaquinha chamada Filomena, de uma "caturrita", um pequeno papagaio, que morreu durante a guerra. Da escuridão que se eternizava no buraco onde viviam, onde até mesmo uma reles lamparina era proibida.

Em suas lembranças não havia a história oficial. Não existia bravura alguma de um militar chamado Antônio Maria Coelho. Seu herói era um salvador da hora da invasão, o homem que auxiliou a todas as famílias quando a guerra começou, um homem que a história oficial esqueceu: Manoel Cavassa.

E as mulheres foram para a guerra

Um terrível incêndio se transforma em uma trégua para o ódio religioso

E os muçulmanos viraram heróis... Esse é um raro momento para a humanidade respirar em meio a tanta fumaça criada pelo ódio religioso. Pelo menos 12 pessoas morreram e outras 74 estão feridas, 20 delas em estado crítico. Esse é, até agora, o rescaldo do terrível incêndio de um prédio de 24 andares e 120 apartamentos no oeste de Londres. Mais de 200 bombeiros foram mobilizados para acabar com as chamas e resgatar os moradores do edifício. Mas, desta vez, eles ocupam um papel secundário na lista de façanhas e de heroísmo para salvar as pessoas que viviam no prédio.

A imprensa mundial está glorificando o papel exercido pelos muçulmanos que residiam nesse mesmo prédio e nas habitações e comércios em sua imediação. Devido ao Ramadã, os muçulmanos dormem tarde e acordam cedo e foram muitos deles que deram o alerta de incêndio para a imensa maioria que dormia, salvando uma grande quantidade de vidas. Também foram eles que acolheram os primeiros moradores que conseguiram sair do prédio em chamas, oferecendo-lhes cobertas, alimentos e máscaras contra gases.

Outras declarações mostram a criatividade dos muçulmanos que miravam suas lanternas nos apartamentos onde pessoas pediam socorro, chegando a organizar uma rede de iluminação com os pequenos fachos de energia. Há, ainda, declarações de que os muçulmanos ficaram o tempo todo incentivando mães desesperadas para não atirarem seus filhos pelas janelas e aguardar o socorro que chegava, salvando algumas crianças da morte certa.

Enfim, se a atrocidade de um incêndio em um prédio é um momento de pesar para o mundo, temos a primeira trégua na imensa lista de ódio religioso. Até que enfim resolveram reconhecer que os muçulmanos são gente como a gente e, alguns, podem ser heróis. Allahu Akbar, Deus é grande!

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