ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
OUTUBRO, QUARTA  22    CAMPO GRANDE 28º

Em Pauta

Laguna Carapã e o bolicheiro da pedra de túmulo

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 22/10/2025 08:06
Laguna Carapã e o bolicheiro da pedra de túmulo

A Fazenda Campanário, em Laguna Carapã, é centenária. Já foi um grande centro populacional. Foi em seu entorno que um bolicheiro, vindo do Paraná, resolveu montar seu negócio, nos legando uma imagem vivida de como era um pequeno armazém no inicio do século passado.


Laguna Carapã e o bolicheiro da pedra de túmulo

Chegaram com uma carreta e duas juntas de bois.

Sabendo que por ali passeia uma nova trilha de erva-mate, o paranaense, com sua mulher e um filho de dez anos, levantaram um rancho. Na frente, um cômodo estreito, porém comprido. Era o bolicho. A pouca mercadoria estava na carreta com duas juntas de bois. Quando a grosseira prateleira e o balcão ficaram prontos, começou a venda.


Laguna Carapã e o bolicheiro da pedra de túmulo

Bem sortido?

Um bolicho do sertão era tido como bem sortido se tivesse pinga, sardinha, querosene, leite condensado, velas, açúcar, farinha de trigo, rapadura, vermute, fernet, chapéu carandá, fumo, charuto, fósforo, pólvora, chumbo e balas 38 e 44.


Laguna Carapã e o bolicheiro da pedra de túmulo

Sucesso absoluto!

O lugar virou passagem obrigatória para a peonada da empresa Matte Laranjeira. Gastavam desregradamente. O bolicho criou fama de lugar para dormir seguro. Quem por lá não ficasse, era desmoralizado. A empresa Matte triplicou o numero de peões contratados. O bolicho passou a ser abastecido duas a três vezes por mês para encher o novo depósito. O bolicheiro tinha paciência com a peonada. A bebedeira, os xingamentos, as quedas no chão duro…o bolicheiro sabia que naquela marcha acabaria ficando bem de vida.


Laguna Carapã e o bolicheiro da pedra de túmulo

Não perguntavam preço.

Certo dia, lá pelas duas da tarde, o bolicho ficou superlotado. Paravam para uns tragos e comerem alguma coisa. O encarregado de cada turma, geralmente o único que sabia ler e escrever, era o responsável. Compravam e pagavam. Nem preço perguntavam. Era habito do sertão.


Laguna Carapã e o bolicheiro da pedra de túmulo

Perdeu uma chave e descobriu uma pedra de túmulo.

Esse encarregado perdeu uma chave. Caiu no meio das garrafas que estavam no balcão. Cuidadosamente foi removendo as garrafas. Com os dedos, procedia a busca. Removeu todas. Abaixou-se e firmou a vista. Deu um grito de pavor: “Nuestra Virgene! Diós Mio!”. Apontou o escrito com os dedos. Estava escrito no balcão, embaixo das garrafas: “Aqui jaz…”. Era a pedra de um túmulo. O bolicho ficou vazio em poucos minutos. Virou casa de aranha preta cabeluda, lagartixa, marimbondo amarelo, sapo e cupim.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.