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Economia

Com juros de até 80%, empréstimo de R$ 1,6 mil pode virar dívida de R$ 3,8 mil

Especialista alerta para risco de empréstimo feito de maneira impulsiva, não planejada

Liana Feitosa | 17/08/2022 17:52
Homem saca dinheiro de caixa eletrônico. (Foto: Kísie Ainoã / Arquivo)
Homem saca dinheiro de caixa eletrônico. (Foto: Kísie Ainoã / Arquivo)

Desde o começo desse mês os beneficiários do Auxílio Brasil, o programa de transferência de renda do Governo Federal, podem contratar crédito com desconto automático no benefício. No entanto, há financeiras que cobram juros superiores a 4% ao mês para emprestar dinheiro, o que significa quase 80% ao ano. A situação pode ser considerada “assédio comercial”.

Se um banco oferece R$ 1.600 de crédito com juros de 4% ao mês, por exemplo, isso significa que, ao final de 2 anos pagando parcelas de R$ 160 o beneficiado terá pago ao banco um total de R$ 3.840, mais que o dobro do valor emprestado.

Cautela - De acordo com a pós-doutora em Administração, Yasmin Casagranda, professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), contratar empréstimo de maneira segura só é possível com planejamento.

“Está tudo bem pegar um empréstimo, realmente podem surgir momentos em que a pessoa precise, às vezes é uma situação emergencial, mas empréstimo exige cautela, ele vai ser uma dívida”, pontua a especialista.

“Quando há esse grau de endividamento de uma parte da renda é muito importante olhar para os juros. Quando a gente compromete uma parte da renda com dívidas, não podemos esquecer que a sobra é tudo o que teremos para todas as outras coisas, como contas mensais, água, energia elétrica, cartão de crédito”, lembra.

A professora não vê os empréstimos como proibições, mas considera que é preciso usar com cautela. “É preciso fazer uma busca de mercado por melhores taxas de juros. Existem várias modalidades de banco e de taxas também. Por isso, o consumidor pode fazer uma busca para ver quais são as menores taxas. Geralmente a gente se preocupa muito com o valor da parcela que vamos pagar, mas é preciso olhar o valor dos juros, perguntar qual a taxa de juros do empréstimo e comparar as taxas praticadas nos diferentes bancos”, orienta a especialista.

Como contratar - Ainda de acordo com Yasmin, há perguntas primordiais que devem ser feitas antes de contratar um empréstimo: “quanto estou buscando de dinheiro, de quanto realmente preciso? Qual a taxa de juros? Quanto vou pagar no final? Vá anotando as opções fornecidas pelos bancos, faça uma pesquisa mesmo”, aconselha.

Outra dica da professora é fazer as contas de quanto vai custar o valor total do empréstimo. “Às vezes essa é uma informação que assusta, mas isso vai dar uma ideia do montante final de quanto o empréstimo vai realmente custar”, esclarece.

Ela também explica que, de maneira geral, existem duas modalidades de empréstimo: o direto com banco ou o consignado, como o oferecido a contemplados pelo Auxílio Brasil. Geralmente o consignado é mais barato, ou seja, os juros são menores porque o valor da parcela é descontado diretamente do salário do beneficiado. Por isso, os juros de 4% ao mês cobrados no caso de empréstimos via Auxílio Brasil são considerados abusivos por especialistas em finanças.

O que fazer - “Uma das primeiras soluções que deveríamos disseminar para contratar empréstimo de forma segura é que todas as famílias, independente do poder aquisitivo delas, deveriam ter parcela da renda não consumida. Ou seja, é o conceito da poupança. Parcela não consumida da renda é a melhor saída para comprar coisas à vista, usar menos o cartão e ter recurso para ser usado em caso de emergência. Se por acaso você tiver esse recurso, um pouquinho que seja, em algum momento você vai aproveitar isso”, aconselha Yasmin.

A professora Lúcia Ferreira conta que pegou um empréstimo consignado anos atrás para comprar um carro e que virou uma verdadeira “dor de cabeça”. “Me preocupei só com o valor das parcelas, eu dividi o valor emprestado na quantidade de parcelas que eu conseguia pagar e foi assim que decidi como faria pra pagar. Depois que peguei o dinheiro no banco, resolvi fazer as contas de quanto ia ficar o valor total do empréstimo no final de 48 meses e vi que era mais que o dobro do valor que eu tinha emprestado. Não compensa”, desabafa.

“Se eu tivesse só guardado o valor das parcelas durante esse tempo, teria pago o carro à vista, sem fazer uma dívida que me foi difícil me livrar”, relata a professora.

Medida - Para tentar inibir financeiras a cobrarem taxas abusivas de juros em empréstimos via Auxilio Brasil, foi apresentado no Senado o PL (Projeto de Lei) 2.081/2022. A proposta do senador Paulo Paim (PT-RS) estabelece um teto de 15% por ano para a cobrança de juros em empréstimos consignados contratados por beneficiários de programas federais de transferência de renda ou de benefício de prestação continuada da assistência social.

O autor afirma que o objetivo é evitar, além da cobrança de juros abusivos, também o “assédio comercial” dos bancos, que pode prejudicar famílias de menor renda. Conforme a proposta, caso as financeiras desrespeitem a Lei, poderão ser punidas com suspensão de novos contratos por 90 dias a até 5 anos. A proposta ainda não tem data para ser votada.

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