Amigos tapeceiros mantêm tradição de 38 anos sem fechar para o almoço
Com a escassez de mão de obra, até a hora de descanso é motivo para manter a loja aberta
A casa de parede vermelha e portas antigas pode parecer bagunçada para quem olha rápido, mas, para a dupla de tapeceiros Adelson Justino Alves e Edevair Gomes de Sá, o lugar abriga um mundo inteiro, do jeitinho que é. Há mais de quatro décadas na Rua Pedro Celestino, os dois viram o prédio envelhecer e o trabalho aumentar ao longo dos anos. Não é à toa que eles revelam, com orgulho, nunca terem fechado a loja para o almoço.
Com mão de obra escassa na cidade, os dois contam que viver disso é mais do que bom, é maravilhoso e relaxante. Sócios no negócio e amigos de vida, eles compartilham a bancada do lado de fora do imóvel e os clientes que se revezam para atender.
O ofício foi apreendido logo cedo. Adelson está há 38 anos ali e aprendeu as tarefas antes dos 20. Já o colega, Edevair, começou com 16 anos e se encantou pela profissão. Ao todo, são 43 anos do trabalho que ele faz com prazer.
“Essa tapeçaria foi fundada em 1968. Posso dizer que quase 80% dos tapeceiros da cidade foram formados aqui. Foi uma ‘escola’ para a gente. Eu vim através de um amigo, com 16 anos. Ele me convidou para trabalhar, era funcionário aqui. Eu vim, gostei e é o melhor emprego que tive. Nunca pensei em trabalhar com outra coisa. Para mim, isso significa o meu tudo, é algo que gosto de fazer”, conta Edevair.
Para ele, estar ali é terapêutico devido ao contato com o trabalho manual que, embora pareça igual, sempre é diferente.
“É um serviço que mexe com tecido, espuma, que a cabeça da gente fica bem. É algo que encaixou para mim, é como terapia. A gente interage bastante com os clientes, é coisa boa, nunca brigamos entre a gente”, acrescenta.
Adelson corta madeira para consertar um sofá enquanto fala. Ele ressalta que, a cada dia que passa, a mão de obra para fazer o que eles fazem está ficando mais escassa.
“Nós herdamos isso do patrão. A gente trabalhava com o Pedro e ele parou, e continuamos. É uma coisa gostosa porque é um artesanato e pouca gente faz. Cada dia vai ficando mais extinto e mais caro porque tem pouca gente. Melhor para trabalhar, mas difícil, porque a gente vai ficando velho. É algo que amo. Aprendi em uma loja e gostei, acho que nasci com o dom”.
Trabalhando das 7h às 17h, a dupla fala que, para viver do ofício, tem que gostar muito, pois exige renúncia de tempo livre. Ali não existem quase feriados ou folga em datas comemorativas e prolongadas, como Carnaval ou final do ano.
“Pra ficar tanto tempo tem que gostar. Vivo bem, paga as contas e, às vezes, sobra um pouco para viajar de vez em quando. O carro-chefe é reforma de sofá. A gente nunca fecha para o almoço. Moramos longe e não compensa voltar. Tem cliente que vem na hora do almoço. Não cansa, não. É gostoso, tranquilo, porque a gente faz o que gosta e ainda ganha pra isso”, comenta Adelson.

Durante muitos anos, foram apenas os dois sócios, mas, recentemente, Adelson começou a treinar o sobrinho para herdar o ofício.
“Trouxe já para me suceder no trabalho. Ele está muito bem, é um bom profissional. Faço de tudo: sofá, cadeira, poltrona. Desde quando comecei na tapeçaria estou aqui. É algo que aconteceu. Eu saí do quartel, comecei no trabalho e estou até hoje”.
Ele explica que o estado do imóvel é reflexo dos anos e da impossibilidade de mexer na casa, que é alugada.
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