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Comportamento

Batizada de Justa, ela já quis fazer jus ao nome e provar que tem 100 anos

A identidade mostra que ela tem 92 anos, mas dona Justa diz que tem 100 e com jeitinho de menina que ainda encanta a vizinhança

Thailla Torres | 02/08/2018 06:10
Dona Justa diz ser centenária, professora aposentada e, até hoje, ajuda os "concurseiros" de plantão. (Foto: Marina Pacheco)
Dona Justa diz ser centenária, professora aposentada e, até hoje, ajuda os "concurseiros" de plantão. (Foto: Marina Pacheco)

De justa ela só tem o nome, porque na carteira de identidade carrega uma confusão. Dona Justa Emilia Ibáñes, moradora do bairro Mário Covas, é a paraguaia que há anos escolheu Mato Grosso do Sul para viver e nesse mesmo tempo já tentou provar que completou 100 anos de vida.

Sorridente e com o documento em mãos, ela explica a desordem. "Eu nasci em 1918, em Assunção, no Paraguai. Mas naquele tempo ninguém tinha condições de registrar logo que nascia e meu pai só me registrou aqui, quando eu tinha oito anos de idade", conta.

Por isso brinca que a idade não faz jus ao nome que ganhou em homenagem a madrinha. "Não é justo", sorri. "Na verdade nem gosto muito desse nome, prefiro Emilia", comenta. 

Se tivesse como provar que tem 100 anos, Justa seria hoje uma das moradoras mais antigas, em idade, do bairro. Aos 92 anos, como consta na identidade, ela é a maior surpresa entre os vizinhos. "As pessoas dão risada e perguntam como eu cheguei assim nessa idade. Mas é que eu sempre fui muito feliz", explica enquanto toma uma cerveja gelada na hora do almoço. "Mas é só uma. Todos os dias. E não me faz mal", justifica.

(Foto: Marina Pacheco)
(Foto: Marina Pacheco)

Se ninguém acredita na idade, quando o papo começa, o conhecimento dela não nega. Se trata de uma senhorinha cheia de experiência que chegou em Campo Grande em 1926, acompanhada dos 8 irmãos e a mãe que veio trabalhar em uma fazenda no interior do Estado.

Estudou durante anos em colégio de freira, depois terminou os estudos na Escola Joaquim Murtinho e por quase 50 anos foi professora da Educação Infantil. "Ensinei todas as matérias, mas o que mais gosto é Ciências e História. A história é maravilhosa", diz.

Justa tem um jeitinho de menina que encanta a vizinhança e uma inteligência que surpreende a juventude. Com memória intacta, até hoje ela ajuda os concurseiros de plantão no bairro. "Eu não consigo mais ler com tanta facilidade por causa dos problemas na visão. Mas se alguém me procura com os questionários em mãos eu ajudo a resolver qualquer coisa", diz orgulhosa.

Mãe de quatro filhos e avó de dez, hoje ela mora sozinha. Descreve que sempre foi uma mulher independente e após ter ficado viúva, leva a vida com tranquilidade, sem perder um dia de sorriso.

"Eu sempre fui feliz mesmo, Graças a Deus. Exceto um desastre de carro que tirou a vida de um dos meus filhos. Isso foi um momento triste. Não gosto nem de falar muito".

Justa faz questão de mostrar os documentos que não exibem 100 anos. (Foto: Marina Pacheco)
Justa faz questão de mostrar os documentos que não exibem 100 anos. (Foto: Marina Pacheco)
Mas na identidade ela só tem 92 anos. (Foto:
Mas na identidade ela só tem 92 anos. (Foto:
Ela, a mãe e a irmã. (Foto: Arquivo pessoal)
Ela, a mãe e a irmã. (Foto: Arquivo pessoal)

O motivo por trás de tanto sorriso? Ter compartilhado tudo que sabia com os alunos da escola. Durante o período escolar, além ensinar, dona Justa ganhou grandes amigos que até hoje se orgulham dela ter sido professora. "Já encontrei advogado que olhou pra mim e disse: foi essa mulher que me ensinou matemática, se sou esse homem hoje, é graças a você", conta orgulhosa.

Ela assume que era uma professora rígida, mas sabia das dificuldades de todos. "Eu nunca deixei aluno sem aprender. Sala de aula era para ensinar e aluno tinha obrigação de aprender. Eu pegava no pé mesmo, alguns não gostavam, mas quando eles aprendiam, saíam felizes da sala de aula", garante.

A educação para ela na atualidade não é a mesma. Com tempo de experiência e memórias da sala de aula, dona Justa declara o que não é "justo" no modelo educacional que ela enxerga hoje. "Antigamente quem mandava na escola era o professor. Além de conteúdo, a gente reforçava a educação que vinha de casa. Hoje, quem manda na escola, especialmente as particulares, são os pais. Com isso a gente vê aluno batendo em professor. E isso não está certo, no meu tempo isso não acontecia", lamenta.

Se pudesse voltar atrás, entraria pela porta da sala de aula novamente. "Queria ter forças e saúde para lecionar de novo.  Passei por grandes escolas de Campo Grande, como Joaquim Murtinho, Bernardo Franco Baís, Vespasiano Martins e General Melo, foram os melhores tempos da minha vida", finaliza.

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Batizada de Justa, ela já quis fazer jus ao nome e provar que tem 100 anos
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