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Comportamento

Choro no avião é lembrança que Eva tem 68 anos depois de ser dada pelos pais

Lembrança é narrada após um reencontro emocionante, de Eva com sua família biológica, em Mato Grosso do Sul

Thailla Torres | 30/08/2018 07:48
Olhar emocionado marcou reencontro com uma das irmãs que Eva nunca mais viu. (Foto: Arquivo Pessoal)
Olhar emocionado marcou reencontro com uma das irmãs que Eva nunca mais viu. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ontem, Eva Pereira da Silva deu o abraço que ela esperava há 68 anos. Nascida em Coxim,  ela foi embora na infância, depois de ser adotada por uma família e levada para o Pantanal. A última lembrança que tinha de casa era o choro no avião quando estava sendo levada, sem que os pais pudessem a ver novamente.

Em Coxim, ela só passou 5 anos de vida, até ser levada por outra família quando foi doada pelo pai, que na época havia se separado e dizia não ter condições de criar as três filhas. "A última coisa que lembro é de entrar no avião chorando para ser doada. Nunca mais vi ninguém".

A primeira adoção não foi amorosa. Isso fez Eva passar por cerca de quatro famílias até os 15 anos de idade. "Na primeira, a mulher não queria ser minha mãe porque eu era muito pequena, eles queriam uma criança maior para ajudar na casa", recorda Eva, aos 73 anos.

Nessa rotina de famílias adotivas, aos 15 ela fugiu em busca de uma vida melhor, com liberdade. "Fui trabalhar em casas de famílias, para recomeçar minha vida".

Tudo que conhecia do passado era o nome dos pais e das duas irmãs da época. Por isso, com poucas lembranças o caminho para encontrar a família biológica, na fase adulta, foi ainda mais doloroso e difícil.

Família gigantesca esperava dona Eva na porta da delegacia. (Foto: Arquivo Pessoal)
Família gigantesca esperava dona Eva na porta da delegacia. (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi depois do casamento e o nascimento das filhas que sua procura veio à tona dentro de casa. Há 16 anos, Erika Cristina Pereira da Silva e a irmã Ellen Pereira da Silva, buscavam incansavelmente a família verdadeira da mãe. "Desde pequena, eu escutava que ela queria reencontrar os pais, ver as irmãs. As histórias são cruzadas, ela acreditava que a família não queria vê-la, mas descobrimos que isso não era verdade".

Atualmente Eva mora no interior de São Paulo com as filhas e foi pela televisão que Erika viu um pontinha de esperança de achar a família verdadeira. "Eu cheguei a ir em Coxim, buscar cartórios, mas ninguém encontrava um registro da família verdadeira dela. Foi uma luta, até que vi na televisão sobre a investigadora Maria Campos, os seu reencontros, e entrei em contato".

Não demorou muito tempo e a Polícia Civil entrou em contato Erika. "Eles encontraram uma das irmãs dela, mas ao contrário de duas, hoje ela tem 12 irmãos. O pai casou novamente depois de ter doado as filhas e teve outros filhos".

O sorriso de Eva ao conhecer irmãs e sobrinhos. (Foto: Arquivo Pessoal)
O sorriso de Eva ao conhecer irmãs e sobrinhos. (Foto: Arquivo Pessoal)

No mesmo dia Erika descreveu a novidade à mãe. Eva foi arrumar os cabelos e as malas acreditando que viria no dia seguinte. "Ficou muito ansiosa, esperançosa, ela mal conseguia acreditar que 68 anos depois esse momento tinha chegado".

Eva desembarcou em Campo Grande ontem (29). Do aeroporto percorreu 254 quilômetros até Coxim. Na porta da delegacia, irmãos, tios e sobrinhos a esperavam e cada vez que um carro passava na rua, o coração acelerava, especialmente o de dona Irani de Souza Fernandes, de 72 anos, uma das irmãs que foi entregue na mesma época de Eva para outra família.

"Assim que soube meu coração disparou. Eu nunca esqueci a Eva, mas nunca soube onde procurar. Minha mãe deixou uma carta para ela e pediu para que a gente nunca deixasse de procurar nossa irmã. Foi Deus que trouxe ela de volta", comemora Irani.

Com sorriso no rosto e os olhos brilhando quando a porta do carro se abriu diante de Eva, ninguém conteve a emoção. Além de abraçar Irani, ela descobriu a família gigantesca que a esperava e ganhou novos irmãos. "Muita emoção, eu nem sei como explicar o que estou sentindo. Mas é muita alegria", resume.

Nesse misto de alegria e surpresa, quem não conteve a emoção foi Luiza Augusta Pereira de Souza, de 66 anos, que não esperava encontrar uma irmã nessa altura da vida. "Eu fiquei imensamente feliz. Quando me falaram foi uma surpresa, o nosso coração encheu de esperança novamente".

Entre versões diferentes da própria história, Eva agora escolheu ficar com o presente. "Eu perdoei meus pais, porque a história que me contaram é diferente. No fundo, eles me procuraram, se arrependeram, mas a família adotiva não quis me devolver", diz.

Para dona Irani, o sono desta quarta-feira foi mais tranquilo. "Agora vou dormir em paz, minha família está completa e unida do jeito que sempre foi aqui. Estou muito feliz por Deus ter nos dado essa oportunidade".

Assista o vídeo do reencontro:

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