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Comportamento

Dos bares à música, ninguém vai embora inteiro quando deixa história

Campo Grande se despediu em 2025 de personagens da cidade, amigos e artistas

Por Thailla Torres | 31/12/2025 08:54
Dos bares à música, ninguém vai embora inteiro quando deixa história
Imagem traz o rosto de Betinha, Seu Nelson, Ana Rosa, Eules, Dona Rosa, Stanley, Mamede, Moreira e Jonir. (Foto: Arquivo Pessoal)

RESUMO

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O ano de 2025 foi marcado por perdas significativas em Campo Grande, com a partida de figuras emblemáticas que ajudaram a construir a identidade da cidade. Entre os que partiram estavam Jânio Batista de Macedo, líder comunitário do bairro Maria Aparecida Pedrossian, e Mamede Antônio Verão, proprietário do tradicional Summer Beer.A cidade também se despediu de artistas como Jonir Figueiredo, que por cinco décadas retratou Mato Grosso do Sul em suas obras, e Betinha, das Princesinhas da Fronteira. O cenário boêmio perdeu Dona Rosa da Conveniência Yamazaki, Seu Nelson do Copo Sujo e o garçom Eules do Canto do Cupim, personagens que transformaram estabelecimentos em pontos de encontro e pertencimento.

Aos poucos, 2025 foi ensinando uma lição dura para quem já passou dos 30. Não foi só o calendário que virou. Foram os rostos conhecidos que começaram a faltar. Gente que ajudou a formar a cidade, a trilha sonora da infância, o caminho da adolescência, o ritual adulto de sentar na calçada, pedir uma cerveja e reconhecer o mundo ao redor. Esta retrospectiva é sobre ausências que ficaram grandes demais para caber no silêncio.

Em abril, o bairro Maria Aparecida Pedrossian amanheceu diferente. A notícia da partida de Jânio Batista de Macedo caiu como quem apaga uma luz sem avisar. Jânio não era só morador. Era pai coletivo, conselheiro improvisado, político de calçada, daqueles que fazem política sem cargo, mas com escuta. Lutou por melhorias, defendeu o bairro como extensão do próprio corpo e deixou um vazio que os moradores resumiram numa palavra simples e devastadora: órfão. Porque quando alguém assim vai embora, o lugar perde chão.

Maio chegou com um golpe íntimo para a própria imprensa. No Dia das Mães, o Campo Grande News se despediu de Marionildo da Costa Moreira, o Moreira. Motorista, sim, mas sobretudo presença. Daqueles que fazem a notícia chegar porque respeitam o caminho, o tempo e as pessoas. Moreira dirigia como quem cuida. Aos 52 anos, partiu cedo demais, deixando saudade em cada quilômetro percorrido, em cada redação, em cada conversa silenciosa no banco da frente.

Junho trouxe a surpresa amarga da morte de Jonir Figueiredo. Um artista que carregava fé no nome e na obra, e que por cinco décadas transformou Mato Grosso do Sul em cor, forma e narrativa. Jonir morreu em Bonito, em meio a um festival de cinema, como se a arte ainda estivesse em volta quando ele se despediu. Sua obra permanece espalhada pelo Estado, como pistas de quem contou a história daqui com o olhar atento de quem entende o tempo.

Ainda em junho, Campo Grande perdeu Mamede Antônio Verão. Dono do Summer Beer, o Bar do Mamede, ele fez algo raro: colocou cadeiras na calçada e conseguiu paz. Transformou um antigo espaço de oficina em ponto boêmio, sem briga, sem pressa, sem precisar levantar a voz. Mamede morreu aos 64 anos, mas deixou um legado que não se mede em metros quadrados, e sim em encontros. A calçada continua lá. O bar também. O dono, não.

O rock da cidade ficou mais silencioso com a partida de Luiz Cláudio Cordeiro, o Louis Stanley. Aos 61 anos, depois de um AVC, ele se foi deixando guitarras penduradas no ar. Louis viveu “a mil”, como lembram os amigos. Tocava no Boteco do Miau, consertava instrumentos, cantava como quem precisava dizer algo urgente ao mundo.

Novembro chegou pesado para quem frequenta botecos de memória longa. Primeiro, o adeus a Yoshie Yamazaki, a Dona Rosa, da Conveniência Yamazaki. Por 40 anos, ela garantiu cerveja gelada, sorriso constante e um balcão que virou ponto de amizade. Filha de imigrantes japoneses, construiu mais do que um comércio. Construiu pertencimento. Aos 82 anos, deixou filhos, netos, bisnetos e uma cidade que aprendeu a chamá-la pelo primeiro nome.

Ainda nesse ano de despedidas, os bares também choraram Eules Aparecido Costa da Silva, garçom querido do Canto do Cupim. Flamenguista roxo, morreu aos 47 anos, de forma repentina. Para os clientes, Eules não era só quem servia. Era quem lembrava o pedido, o nome, a conversa. Foi lembrado com versos de Gonzaguinha, porque algumas pessoas vivem mesmo assim: sem vergonha de ser felizes.

O Bar Vitorino’s fechou as portas em luto pela partida de Ana Rosa de Souza Fonseca, aos 77 anos. Companheira de quase 50 anos de Vitorino Martos Caetano, ela foi braço direito, base silenciosa, amor cotidiano. Gostava da fazenda, das plantas, dos animais. Lutava contra as sequelas de um AVC, mas partiu deixando uma história de parceria que ajudou a transformar o bar em tradição.

Mais recentemente, Campo Grande se despediu de Nelson Hokama, o Seu Nelson, personagem eterno do Copo Sujo. Aos 76 anos, deixou o bar que virou símbolo de convivência simples e honesta. Mesas largas, cadeiras antigas, conversa sem cerimônia. Ele brincava dizendo que “só comprou os copos”. Na verdade, construiu um lugar onde médicos, políticos, empresários e amigos se sentavam no mesmo nível.

E dezembro fechou o ano com a partida de Eleonor Aparecida Ferreira dos Santos, a Betinha. Uma das maiores vozes da música sul-mato-grossense. Ao lado da irmã Beth, formou as lendárias Princesinhas da Fronteira. Foram 67 anos de história, resistência, risos e sanfona em um ambiente que muitas vezes tentou silenciá-las. Betinha partiu cercada de afeto, deixando o acordeão calado, mas a memória viva de quem nunca desistiu.

Em 2025, Campo Grande perdeu gente demais. Mas também confirmou algo essencial: ninguém vai embora inteiro quando deixa história.

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