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Comportamento

Ele passa dias com elástico nas mãos para proteger vidas do outro lado da janela

Paula Maciulevicius | 21/02/2016 07:12
Ninho fica na árvore em frente da sala de apartamento. (Foto: Marcos Ermínio)
Ninho fica na árvore em frente da sala de apartamento. (Foto: Marcos Ermínio)

Da janela da sala, do segundo andar de um edifício na Rua 13 de Junho, seu Mirched acompanha o vai e vem da mãe pomba no ninho. Há dois meses, desde quando percebeu a movimentação de gravetos na árvore em frente à janela, viu nascer também um afeto às aves. Na volta do trabalho, o lugar preferido da casa acabou se tornando aquela janela e as visitas lhe ensinaram muito sobre a rotina da família.

"É uma pomba fogo apagou, porque a hora que ela canta é assim: fogo apagou, fogo apagou", explica o empresário Mirched Jafar, de 80 anos. No momento em que o Lado B foi visitar o ninho e a rotina de quem cuida dele, a pomba mãe fez só uma passagem, para alimentar o filhote.

"Como ele está crescendo, a mãe sai mais vezes para buscar alimento", explica Mirched. Os cuidados já têm dois meses e são intensos. De quem fica à espera do predador para defender a ninhada. Na chave que fecha a cristaleira ao lado da janela, ficam as armadilhas usadas pelo simpático senhor. São borrachinhas, elásticos que ele garante que não machucam, apenas espantam quem quiser tirar o sono do filhote.

Da janela, seu Mirched cuida e espanta quem tentar derrubar ninho. (Foto: Marcos Ermínio)
Da janela, seu Mirched cuida e espanta quem tentar derrubar ninho. (Foto: Marcos Ermínio)

"Esses dias um tucano chegou num outro ninho, ele é carnívoro, mas pouca gente sabe. Ele jogava o passarinho para o alto e comia. Não é para machucas, só para espantar", reafirma. Ele segue a explicação dizendo que seu papel ali é o de cuidar. "Eu sei que a gente não deve interferir na natureza, que é a lei do mais forte, mas ela está cuidando do filhote e não quero que aconteça o que aconteceu com o outro pássaro", completa.

Nem a pomba nem o cuidador parecem se importar com a movimentação intensa de carros e obra que a rua tem. Do lado de lá da via, uma construção martela manhã e tarde, um barulho que reveza entre as buzinas e freadas do trânsito. A paz que existe no segundo andar, janela adentro e janela fora, parecem poesia para quem acompanha.

"Hoje ela está demorando para voltar..." seu Mirched sabe até o tempo, o intervalo entre um passeio e outro da mãe. "Ele já está grande, então não cabem mais os dois no ninho, ela alimenta ele, mas depois fica no galho", conta sobre as observações.

Coleção de elásticos ficam a mão, para quando for preciso salvar filhote. (Foto: Marcos Ermínio)
Coleção de elásticos ficam a mão, para quando for preciso salvar filhote. (Foto: Marcos Ermínio)

Quando a mãe não está, o filhote mal levanta a cabecinha. Fica o tempo todo encolhido no ninho de tal forma que até é difícil enxergá-lo. Só quem conhece, como seu Mirched, que consegue saber. "Quando ela chega, ele se mexe, se alonga, se exercita", diz.

Ele se defende sabendo que não o alimenta porque tem consciência das doenças que podem transmitir, mas não deixa de ter o cuidado. Na chuva forte dos últimos dias, a preocupação foi com o balançar dos galhos. "Eu fiquei com medo, mas ela estava ali, ficou em cima dele e os dois abaixadinhos", conta.

O tempo está passando e seu Mirched sabe disso. Pelas contas, ele acredita que em uma semana, o filhote já deve estar voando e o ninho será desfeito. "Gostar eu gosto muito. Gosto de natureza, de pescar e não faço nada predatório, pelo contrário, até combato. Sempre convivi com a natureza, é onde eu me sinto melhor", narra. Se vai fazer falta quando o filhote voar? E como, responde seu Mirched.

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Essa foi uma sugestão de pauta do publicitário e leitor, Henrique Atílio. 

"Sempre convivi com a natureza, é onde eu me sinto melhor", diz senhorzinho. (Foto: Marcos Ermínio)
"Sempre convivi com a natureza, é onde eu me sinto melhor", diz senhorzinho. (Foto: Marcos Ermínio)
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