Há 14 anos, Vera conta lenda da coruja em árvore de casa histórica
Apaixonada pelo animal, ela escreveu um livro que fez gente procurar o bichinho nos galhos da árvore

A dúvida que paira há anos sobre a mangueira de uma casa histórica da Capital atrai pessoas interessadas em descobrir ou avistar a coruja famosa que caiu no gosto das crianças e adultos em um livro de fábulas infantis. Com olhar de quem carrega muita história, Vera Tylde de Castro Pinto, de 85 anos, senta para contar um segredo. Afinal, a coruja existiu de fato entre as folhas da árvore?
Desde que foi publicado, em 2011, não faltaram visitas ao Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, que fica ali na Avenida Calógeras. Conhecida apenas como Vera Tylde, a advogada de formação que depois se fez escritora guarda uma paixão pelas corujas que carrega desde sempre.
O gosto pelo animal é tão forte que ela nunca perdeu uma de vista. Isso rendeu uma das fábulas mais conhecidas narradas por ela: A Coruja Internauta. No conto, ela retrata a história de uma coruja que sai de Bela Vista rumo à Capital. Ela viaja no bagageiro de um ônibus até chegar à Esplanada Ferroviária e encontrar na mangueira, plantada na parte da frente do prédio, e fazer dela o novo lar.

Já escrevi mais de 10 livros. Depois de impresso e distribuído, ele tem vida própria, não sabemos onde vão parar. De 2011 para cá, quanto tempo tem, quantas escolas já fui? São anos e o livro sempre ganha novos olhares”, comenta.
Aos leitores que pretendem ler a fábula, fiquem cientes que a partir daqui o texto contém spoiler! A coruja que ela tanto descreve e que virou personagem não existiu no Instituto. Apesar de ser ficcional, Vera ri com o alcance que a escrita tomou ao longo dos anos. A dúvida sobre a existência dela era tanta que os próprios funcionários do Instituto se asseguravam de que ela ficava na mangueira.
“Todo mundo achou o máximo falar dela. No final do livro, eu convido as pessoas que não perderam a alma de infância a procurar, e quem sabe avistar, a coruja que mora aqui. Eu via as pessoas entrando e procurando a casa da coruja. Ela ficou famosa”, acrescenta, brincando.
Vera conta que nunca teve a pretensão de ser escritora, mas que a coisa foi acontecendo e ela aceitou bem.
“Minha entrada na literatura não foi planejada. As fábulas eu fiz pensando mais nos adolescentes, mas quem gostou mesmo foram os adultos. Tenho os originais e estou descartando, porque, quando eu morrer, vai tudo para o lixo. Acho que os livros cumpriram a missão. Para alguns, a coruja é símbolo da inteligência, para outros, mau agouro. Para mim, elas são sorte.”
As corujas sempre estiveram ao alcance dos olhos da escritora, no sítio da família em Bela Vista e nas ruas. O estopim para o livro chamado Fábulas sul-mato-grossenses nasceu com a história de uma rã e essa sim existiu.

“Tudo começou com uma história para contar para minha sobrinha. Ela vinha do Rio de Janeiro passar as férias aqui com os avós e foi no banheiro de noite, viu uma rã no ladrilho. Naquele tempo, não tinha televisão e eu e minha irmã começamos a inventar uma história para ela ficar calma. Aí surgiu a Maria Rosa. O lagarto também existiu, porque passeava no quintal. O vaga-lume é ficcional também.”
O conjunto de fábulas é composto pelas histórias dos quatro personagens. Vera explica que, no caso da coruja, chamada Mayza, da espécie das buraqueiras, o bicho aprendeu a digitar e o livro são os e-mails que ela mandava para Vera.
“Ela tem um projeto na área agropastoril de substituir os agrotóxicos pelo trabalho das caburé, as corujas que podem fazer o trabalho sem custo. Ela me escreve, começa a se inteirar das pessoas que vivem aqui no Instituto e usa o computador. Ela quer a minha ajuda para publicar o projeto. No último e-mail, ela se despede de mim, encontra um fazendeiro que aceita a proposta.”
Vera se inspirou, inconscientemente, no avô que era poeta e na saudade de casa para criar anos depois. Na infância, os pais mandavam ela para o Rio de Janeiro, onde se saía bem nas aulas de redação. O gosto pela leitura logo ficou mais forte e o vocabulário foi se ampliando. Vera conta que ali, sem saber, foi o começo de tudo.
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