"A gente é igual": o gesto de Bigaeli e o poder da representatividade
Durante pauta do Lado B, menina se tornou protagonista de um episódio que representa o conceito na essência
“Olha, a gente é igual!!”
Talvez, a pequena Bigaeli, de 5 anos, nem saiba o significado da palavra ‘representatividade’. Mesmo assim, durante pauta do Lado B se tornou protagonista de um episódio que representa o conceito na essência.
Filha de haitianos estabelecidos em Campo Grande, a criança negra, com cabelos crespos trançados e olhos curiosos, se aproximou ao perceber o crachá do Campo Grande News pendurado no meu pescoço. A garota se aproxima, olha fixamente a foto no cartão e dispara a frase cheia de simplicidade e carregada de significado. “A gente é igual”.
Talvez a menina ainda não tenha ideia, mas o que disse com tanta naturalidade carrega décadas de lutas, silenciamentos e reconquistas. Ela se viu em mim. Jornalista, negro da pele retinta e de cabelos crespos como o dela. Viu alguém que se parece com ela ocupando um lugar que, por muito tempo, não era destinado a pessoas como nós.
Em uma situação como essa parece que o tempo dá uma pausa. Fiquei em silêncio, sem saber exatamente o que responder. O que poderia parecer apenas uma observação de criança, dessas que escapam pela boca com a naturalidade do óbvio, na verdade era o que muitos de nós passamos a vida inteira procurando: um reflexo.
Pesquisas e educadores ao redor do mundo já explicaram: crianças negras que não se veem em posições de destaque crescem com menos autoestima e mais dúvidas sobre suas capacidades.
Bigaeli me lembrou por que eu faço o que faço. Me lembrou que, além de contar histórias, eu também sou uma história. E que, só por estar onde estou, visto como estou, sendo quem sou, posso significar alguma coisa para quem me vê.
É por isso que representatividade importa. Porque às vezes, tudo o que uma criança precisa para acreditar que também pode, é ver alguém como ela, de crachá no peito, dizendo com o olha. "Sim, a gente é igual. E você pode ir onde quiser."
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