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Comportamento

Maria fugiu para curar a dor de perder a mãe, a 1ª cacique mulher

Filha da cacique Enir Terena, Maria relata como precisou ficar longe de Campo Grande para lidar com o luto

Bárbara Cavalcanti | 28/09/2021 06:55
Maria Auxiliadora conta como foi embora da cidade após a morte da mãe. (Foto: Henrique Kawaminami)
Maria Auxiliadora conta como foi embora da cidade após a morte da mãe. (Foto: Henrique Kawaminami)

Atrás do balcão do Memorial da Cultura Indígena Cacique Enir Terena, no Bairro Tiradentes, a filha da cacique e coordenadora do projeto, Maria Auxiliadora Bezerra, de 49 anos, embala os artesanatos e conversa com os visitantes.

Enir Terena, primeira cacique mulher eleita em Mato Grosso do Sul, faleceu em 2016, o que abalou Maria de tal forma, que ela não conseguia sequer ficar em Campo Grande. Para ela conseguir estar ali, em pé, em meio a inúmeras lembranças da mãe, Maria primeiro fugiu de Campo Grande por um tempo para conseguir lidar com a dor da perda.

“Sou professora de formação, mas não exerço mais a profissão desde que minha mãe morreu. Eu fiquei só cuidando dela, então, acho que com a morte dela também se encerrou esse ciclo da profissão. Mas quando ela faleceu, em 2016, eu fui embora. Peguei meu filho e saí daqui, não consegui ficar, fui embora para me resolver”, relembra.

No balcão do memorial, Maria Auxiliadora embala os artesanatos à venda. (Foto: Henrique Kawaminami)
No balcão do memorial, Maria Auxiliadora embala os artesanatos à venda. (Foto: Henrique Kawaminami)

A fuga levou Maria e o filho, Kauhê, na época com 9 anos de idade, para alguns lugares diferentes do Brasil. Ela viveu em estados como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e até no Rio Grande do Norte.

Ficava hospedada em hostels ou em cômodos mais simples. Trabalha aqui e ali, por vezes, oferecendo aulas de pintura indígena em escolas e eventos culturais. “Eu não podia ser nômade demais também, porque meu filho estava em idade escolar”, ressalta.

O que, por fim, foi a maior ajuda para Maria, foi ter encontrado um curso de xamanismo. “Conheci o xamanismo no Rio de Janeiro, o que também foi o motivo que me levou para o Rio Grande do Norte. Essa parte espiritual ajudou muito. Foi por meio do xamanismo que consegui entregar minha mãe ao universo, deixar que a luz dela brilhasse”, explica.

Foto da cacique Enir e artesanatos indígenas no Memorial da Cultura Indígena. (Foto: Henrique Kawaminami)
Foto da cacique Enir e artesanatos indígenas no Memorial da Cultura Indígena. (Foto: Henrique Kawaminami)

Com a reforma do memorial em 2018, Maria Auxiliadora recebeu a oferta de poder assumir a coordenação. Assim, voltou para Campo Grande e encerrou a vida de viajante.

“Acho que tudo tem seu tempo, então, naquele momento, eu já sentia que estava na hora de voltar. Hoje, consigo falar sobre a minha mãe sem chorar. Escrevi até um livrinho, com uma homenagem a ela e a meu filho. E assim foi, consegui, por fim, me resolver com isso”, detalha.

Maria Auxiliadora conversando sobre a mãe, hoje conseguindo não se emocionar. (Foto: Henrique Kawaminami)
Maria Auxiliadora conversando sobre a mãe, hoje conseguindo não se emocionar. (Foto: Henrique Kawaminami)

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