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Comportamento

Maria revelou aos pais que é lésbica, mas foi internada e devolvida ao abrigo

Ela queria o apoio da família, porém começou uma "guerra" dentro de casa e agora, maior de idade, tem 7 meses para arrumar emprego

Alana Portela | 24/09/2019 09:12

“Contei para minha mãe que era lésbica aos 15 anos. Ela já desconfiava pelo fato de me vestir como homem. Pedi para aceitar, mas sempre me julgava”, conta Maria*. Aos 17 anos, a adolescente relata o preconceito dentro de casa, que a fez ser internada em clínica psiquiátrica e depois devolvida para adoção há seis meses, em Campo Grande. “Isso me machucou muito. Vai deixar traumas”.

“Me prendia dentro de casa. Não deixava sair porque achava que ia pegar minhas amigas. Até me internou, porque achou que estivesse usando drogas. Tive que tomar um monte de remédios que o psiquiatra receitou. Fiquei dopada, ela achava que eu era louca”, continua o relato.

Ela é visivelmente ansiosa, mas carismática e de sorriso tímido. Foi adotada junto com sua irmã gêmea por um casal “tradicional”, quando tinham 7 meses. Cresceu num lar rígido, onde o amor reinava, contudo, a harmonia acabou quando assumiu a sexualidade.

“Tinha 9 anos quando percebi que era lésbica. No começo conversei com uma tia, falei que descobri que gostava de uma mulher”, lembra. Quando era criança, Maria diz que tinha uma boa relação com a família. “A gente saía muito, me levavam na feira”, recorda.

As brigas em casa logo começaram na adolescência. “Teve uma vez que eu e minha mãe brigamos, aí sai de casa e fui parar numa igreja. Uma pessoa perguntou se eu estava fugindo, primeiro falei que não, mas depois confirmei que sim”.

Foram momentos conturbados, mas Maria afirma que a rebeldia veio quando quis estar livre para ser como é. “Matava aula, essa foi à única saída. Com o dinheiro que meu pai dava para o shopping, saía com minha ex-namorada, comprava lanches na escola”.

Se já é difícil para qualquer um encarar o preconceito, para uma adolescente que se sente injustiçada, incompreendida é mais complicado, tudo tomou proporção muito maior. “Me cortava com lâmina porque me sentia muito mal. Nesse ano comecei a pedir pra voltar ao abrigo, e minha mãe mesmo me deu a notícia”, relata. “Aqui as tias me entendem”.

O nervosismo é evidente. Maria ainda superar o drama do segundo abandono. Desde que retornou ao abrigo, Maria não teve mais contato com os pais adotivos. “Preferi dar um tempo, mas acho que um dia vou me entender com minha mãe. Só queria que ela me aceitasse e entendesse um pouco, ser mais parceira, isso me faria bem”.

No dia 13 deste mês, ela não segurou as lágrimas no Fórum de Campo Grande ao ver sua mãe adotiva na audiência. “Chorei muito. Considero como se fosse mãe biológica. Acho que ela me ama e que é só uma fase”.

Oportunidade - No dia 21 de abril de 2020, Maria completará 18 anos, mas antes, precisa se preparar para a fase adulta. Isso porque, ao completar a maioridade, a adolescente tem que deixar o abrigo. São apenas sete meses para se reorganizar, conseguir emprego, juntar dinheiro para alugar uma casa e comprar os móveis.

“Tive um teste de trabalho, mas não passei na prova. Quero trabalhar, e espero um novo processo seletivo. Gosto de computação, seria bom se tivesse oportunidade nessa área, mas o que vier tá bom. Depende da sorte”.

Ela não tem muito tempo de se programar para o que vem pela frente, mas afirma que assim que conseguir trabalho vai guardar dinheiro. “O que eu receber vou guardar e dar para minha família adotiva, se eu tiver oportunidade de me entender com minha mãe, e voltar a ficar com eles. Se não der, aí vou ficar com meu padrinho. Já conversamos sobre isso, e ele disse que me ajuda”.

Desde que voltou para o abrigo, sua rotina mudou. “De manhã limpo, a tarde vou para a escola, faço as tarefas escolares. Estou no 8º ano do ensino fundamental”, conta. Ela até sonha em entrar na faculdade. “Quero fazer Educação Física, mas é muita coisa pra pensar”.

*Maria é um nome fictício da personagem que, por ser menor de idade e segurança, teve a identidade preservada.

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