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Comportamento

Por que discursar contra homossexuais é tão arriscado na atual conjuntura?

Aline Araújo | 02/10/2014 12:39
Durante protesto, casal se beija na Avenida Paulista (Foto: Nelson Almeida)
Durante protesto, casal se beija na Avenida Paulista (Foto: Nelson Almeida)

“O fato de eu não ter uma religião e não gostar, nem concordar com nenhuma delas, é uma posição minha. Mas eu não saio por ai dizendo que religião é ruim e algo errado. Eu defendo o direito do indivíduo de ser quem ele quiser”.

A afirmação é do professor da UFMS e doutor em Sociologia, Aparecido Francisco dos Reis, de 50 anos. Especialista em sexualidade, ele tem como rotina falar sobre o limite entre a liberdade de expressão e a homofobia.

Para o professor, o argumento utilizado por muitos pelo direito de falar o que pensam  é arriscado quando vai contra a igualdade, não só quando a diferença é imposta entre gays e héteros.

“A ideia de que o casamento homossexual é errado, não é um bom argumento. Eu poderia ser contra o casamento entre evangélicos, mas eu posso impedi-los desse direito? Porque eu sou contra, eles não devem se casar? Claro que não”, exemplifica o professor.

Aparecido diz ficar preocupado com a exposição de opiniões como do coordenador de Marketing, Adriano Hany, que nesta semana, em entrevista ao Lado B, defendeu o direito de falar publicamente que não concorda com a homossexualidade.

Na atual conjuntura, o professor avalia que qualquer declaração pode potencializar o ódio. “No caso de um crime de homofobia, a pessoa é assassinada por sua orientação sexual, são crimes que têm uma prática de ódio. Assassinatos de uma forma brutal", argumenta.

A discussão toda foi gerada depois que o candidato a presidência da república Levy Fidelix (PRTB), durante debate em rede nacional, associou homossexuais à pedofilia e falou da comunidade LGBT como algo que deveria ser enfrentado.

Diante da possibilidade até de cassação da candidatura, muitos evangélicos saíram em defesa de Fidelix, reforçando o discurso contra as relações homoafetivas.

O professor reclama que expressar opinião sem nenhuma base teórica, que comprove os argumentos, é uma desonestidade intelectual. “Ele foi irresponsável e leviano. Falou besteira e deveria ser punido. A liberdade de expressão não lhe dá o direito de insuflar o ódio. Comparar o homossexualismo com a pedofilia é associar toda uma comunidade a um ato criminoso. Quando é possível constatar que a maioria dos abusos contra criança são feitos por homens héteros e geralmente dentro da família da vítima”, comenta.

“As pessoas enxergam essa discussão pelo viés da moralidade, do certo ou errado, e não do direito”. Existe o direito de expressar a opinião, mas não de ofender, com respeito cada um pode julgar o seu próprio valor.

Contra esse e outros tipos de declarações. ele defende o que todos os movimentos LGBT lutam atualmente no Brasil. "É necessário ter uma lei que puna de maneira correta e também é preciso capacitar a policia para identificar esse tipo de crime”, alerta.

Projeto parado desde 2006 no Senado torna a homofobia crime no País. Para o sociólogo, o motivo da proposta ainda não ter sido votada é apenas politico.

A falta de uma lei permite a descaracterização do crimes contra homossexuais. Este ano, por exemplo, militantes GLBT ficaram indignados com o resultado da investigação sobre o assassinato de João Antônio Donati, 18 anos, em Goiás. O crime não foi considerado homofóbico e sim passional. Apesar do autor, um trabalhador rural de 20 anos, ter dito que não é gay e confessado que matou João depois de fazer sexo com ele.

O Grupo Gay da Bahia, um dos mais atuantes do Brasil, tem produzido várias pesquisas sobre a violência contra LGBT. Na mais recente, comprovou que a chances de um homossexual ser assassinado no Brasil é 80% maior que no Chile, por exemplo. No ano passado, 313 homicídios ocorreram por conta do preconceito.

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