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Comportamento

Presos pela pele com ganchos "Diabos Mutantes" sobem alto, sem medo de limites

Thaís Pimenta | 18/03/2018 07:20
Suspensão do tipo "cama", feita em Alessandra. (foto: Acervo pessoal)
Suspensão do tipo "cama", feita em Alessandra. (foto: Acervo pessoal)

Para a maioria, ver uma pessoa pendurada por ganchos presos à pele, por vontade própria, causa estranheza e até pavor. Mas para quem faz, a suspensão não é dor, é estilo de vida. Em Campo Grande, o contato com esse tipo de performance tem o nome de Angelo Martinez Domingos, criador do grupo Diabos Mutantes, há 12 anos. Ele tem voltado à cidade desde o ano passado para participar do Campo Grande Tattoo Fest e barbariza por aqui subindo alto, preso pela pele.

Aqui, ele apresenta, ao lado da tatuadora Alessandra Favoritto, um espetáculo de suspensão com tendências cômicas, como ele mesmo diz. "Se você vier conferir vai notar que estamos sempre com um sorriso no rosto. Meu filho é pequeno e quando ele me assiste fica gargalhando, então não tem isso de ser chocante pra gente. As suspensões estão sendo cada vez mais usadas como arte de performance e até mesmo para entretenimento", diz Angelo.

A tatuadora Alessandra está a frente do grupo goiano Valkírias Suspensão e aprendeu a técnica com Angelo. Já o Diabos Mutantes vem de São Paulo. "Não é uma coisa que você faz uma vez e sai por aí fazendo com os outros. Exige muito tempo de prática e também não tem nada a ver com ser tatuador e body piercing, afinal, você pode botar em risco a vida de uma pessoa", diz.

Alessandra a Angelo tem diversas modificações corporais, como língua bifurcada e chifres na cabeça. (foto: Thaís Pimenta)
Alessandra a Angelo tem diversas modificações corporais, como língua bifurcada e chifres na cabeça. (foto: Thaís Pimenta)

Nem todos os estilos de suspensão seguem essa temática. De acordo com Alessandra, existe a suspensão ritualística, que retoma os rituais originários dessa prática. "Os índios norte americanos faziam uso da suspensão em rituais de passagem, de cura ou penitência. Na Índia isso é feito até hoje. Na Indonésia, por exemplo, eles têm, no festival vegetariano, apresentações bizarras com a técnica".

Há também a suspensão freak, da qual os Diabos Mutantes também se aproximam em suspensões menos públicas. Por fim, eles explicam que a suspensão pode ser usada também por sadomasoquistas em contextos sexuais. No Tatto Fest, a intenção é só testar limites, mas sem traumatizar ninguém. "No fim do meu espetáculo, a gente chega num limite, mas não chega a chocar", garante.

Com cerca de 30 minutos de duração, qualquer pessoa pode ser suspensa, até mesmo os idosos, garante Angelo. "A gente já fez suspensão de um senhor de 72 anos, por exemplo".

Os vários tipos de perfuração e a força com que se escolhe ser empurrado ou suspenso fazem dessa prática muito particular. Para os dois, o local do corpo que mais dói para ser perfurado é o peito. "Já o que menos dói, o tipo de suspensão mais simples, é pelas costas", completa Alessandra.

Cicatrizes nas costas. (Foto: Acervo Pessoal)
Cicatrizes nas costas. (Foto: Acervo Pessoal)
Suspensão pelo rosto. (Foto: Acervo Pessola)
Suspensão pelo rosto. (Foto: Acervo Pessola)

O que leva as pessoas a buscarem por essa contracultura são motivos diversos. Vai desde os que querem o espetáculo, aos que busca a autossuperação. "Tem gente que quer esquecer dos problemas da vida. Encontra ali um momento de paz. Pra mim, são todos esses motivos juntos e a cada suspensão um deles toma conta", afirma Angelo.

Para o corpo ser içado até as alturas, são feitas perfuração na pele, até o tecido gorduroso, e não chega a atingir nenhum músculo. "Fazemos elas minutos antes de a pessoa subir", diz Angelo.

Para abrir os furos, são agulhas ou catéteres cirúrgicos comuns, algumas vezes com alargadores de baixo calibre, como aqueles ilhós por onde passam os cadarços dos tênis. O número de ganchos instalados vai depender do peso da pessoa e seu nível de experiência, e são colocados de fora que o peso seja distribuído igualmente em cada gancho. "Também existem maneiras diferentes de perfurar o corpo. Dependendo do local, a gente precisa fazer uma amarração porque o tecido é muito fino e pode rasgar", explica.

A duração da suspensão é determinada pela experiência de quem é suspenso e pode durar de alguns minutos a várias horas.

As cicatrizes permanecem como lembrança no corpo. Depois de cada suspensão, são retirados os ganchos, que são os mesmos usados para pesca em alto mar. Depois, são feitas ataduras nos machucados. Cicatrizado, o corpo já está pronto pra outra.

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Diferente tipos e formatos dos ganchos usados nas suspensões. (foto: Acervo Pessoal)
Diferente tipos e formatos dos ganchos usados nas suspensões. (foto: Acervo Pessoal)
Suspensão do tipo "suicide". (foto: Acervo Pessoal)
Suspensão do tipo "suicide". (foto: Acervo Pessoal)
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