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Comportamento

Sebastião e Washington: 2 gerações em ofício rural, mesmo na cidade

Mas a arte de transformar couro e tecidos em selas tem ficado na mão de poucos em Campo Grande

Aletheya Alves | 05/06/2022 08:00
Sebastião Inácio Andrade e Washington Luiz Albuquerque da Silva são seleiros em Campo Grande. (Foto: Aletheya Alves)
Sebastião Inácio Andrade e Washington Luiz Albuquerque da Silva são seleiros em Campo Grande. (Foto: Aletheya Alves)

Seja através dos pais ou de profissionais mais velhos, a arte da selaria guarda lembranças de quem já teve contato com o campo e decidiu transformar couro e tecidos em produtos para a montaria. Essa é a explicação dos seleiros Sebastião Inácio Andrade e Washington Luiz Albuquerque da Silva, que, como eles dizem, são parte dos poucos profissionais que mantêm a arte viva em Campo Grande.

Trabalhando na área há mais tempo, Sebastião, de 69 anos, conta que aprendeu as técnicas com seu pai e, desde então, guardou os detalhes na mente. “Meu pai foi me ensinando quando a gente morava em Rochedinho e hoje eu passo para meu filho, então é de geração em geração mesmo”.

Técnica de produtos feitos por Sebastião foram aprendidas com seu pai. (Foto: Arquivo Pessoal)
Técnica de produtos feitos por Sebastião foram aprendidas com seu pai. (Foto: Arquivo Pessoal)

Por ter crescido no campo, o seleiro se aproximou ainda mais das peças para montaria quando se tornou peão de comitiva. Conforme ele explica, foi unindo os ensinamentos do pai às experiências boiadeiras que viu seu trabalho realmente proporcionar a conexão com o Pantanal.

“Eu tenho essa tradição, tá no sangue. Acho que é por isso que a gente tem esse conhecimento profundo da arte da montaria, porque além de aprender a gente foi de comitiva, fui boiadeiro”, detalha.

Sebastião relembra que viajou por várias partes de Mato Grosso do Sul durante seu período como peão, mas que encerrou suas aventuras quando perdeu o pai. Desde então, ele trabalhou em outras áreas, mas acabou retornando às origens e se dedicou à selaria.

Um dos modelos de sela em que o artesão está trabalhando. (Foto: Aletheya Alves)
Um dos modelos de sela em que o artesão está trabalhando. (Foto: Aletheya Alves)

Em um espaço simples, mas com tudo o que ele precisa, o artesão cria tanto selas quanto arreios e outros acessórios, além de fazer manutenção em peças já existentes.

Sobre ser parte dos poucos profissionais que continuam fabricando selas na Capital, ele explica que, assim como em outras atividades tradicionais, poucos jovens continuam mantendo o interesse pelo aprendizado.

“Eu passo para meu filho, mas para outras pessoas é difícil porque a juventude de hoje não quer mais aprender sobre. Mesmo assim, eu acredito que é uma tradição que nunca vai acabar totalmente, ainda mais aqui por conta do Pantanal”, pontua.

Compartilhando o pensamento de que a profissão tem se esgotado cada vez mais, Washington Luiz Albuquerque da Silva, de 48 anos, detalha que, ao contrário de Sebastião, seus filhos não quiseram seguir no ramo. Por isso, de tempos em tempos ele arrisca contratar funcionários que indiquem o desejo de aprender.

No ramo há 33 anos, Washington, que é proprietário da Selaria Nogueira, aprendeu a profissão pelo desejo de trabalhar.

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Eu aprendi com um senhor que tinha uma loja perto do Mercadão Municipal, quando o trem ainda passava ali por perto. Foi ali que aprendi, em 1989, diz Washington.

Após receber o voto de confiança do antigo seleiro, Washington se apaixonou pela arte e nunca mais se afastou da profissão.

Hoje, já consolidado no ramo, ele explica que na sua família apenas seu avô era do campo e é dele que acredita ter herdado o dom para lidar com os materiais.  No seu caso, as lembranças e conexões foram construídas a partir do contato com o avô.

“Meu pai era da construção civil, então isso foi um dom herdado do meu avô, que era chefe de comitiva. É até engraçado porque somos em 33 netos e o único que trabalha com couro sou eu. Daí que veio essa profissão, acho que estava no couro e eu não sabia”, comenta.

Arreios pantaneiros feitos artesanalmente por Washington. (Foto: Divulgação)
Arreios pantaneiros feitos artesanalmente por Washington. (Foto: Divulgação)

Além de trabalhar com a produção de selas e arreios, o profissional expandiu o conhecimento durante sua vida e hoje faz desde mochilas até acessórios.

Para conhecer mais sobre o trabalho de Sebastião é necessário ir até sua oficina, localizada na Avenida Tamandaré, esquina com a Rua Frederico Abranches, enquanto os produtos de Washington podem ser conferidos no perfil do Instagram @selarianogueira.

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