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Comportamento

Tetraplégico, Atair encontrou o amor em professora de dança do ventre

Naiane Mesquita | 17/10/2016 06:10
Altair e Lisa, namoro rendeu até ensaio no Parque das Nações (Foto: Juliano Almeida)
Altair e Lisa, namoro rendeu até ensaio no Parque das Nações (Foto: Juliano Almeida)

Tetraplégico há 12 anos, Atair acreditou durante muito tempo que não encontraria uma grande paixão novamente. A luta pela sobrevivência e depois pela recuperação, dia após dia, fez com que os romances ficassem para trás. Isso, até conhecer Lisa. Amigos de Facebook, os dois descobriram afinidades profundas, capazes de ultrapassar as dificuldades de locomoção e até os horários controlados de visita.

"Nós somos amigos de Facebook desde 2015. Adicionei ela sem nenhum interesse, tínhamos apenas muitos contatos em comum. Depois de um ano começamos a conversar no messenger, depois fomos para o Whatsapp", conta Atair Ramos da Silva, 44 anos.

Altair e Lisa começaram a namorar há dois meses pela internet (Foto: Juliano Almeida)
Altair e Lisa começaram a namorar há dois meses pela internet (Foto: Juliano Almeida)

O carinho que cresceu virtualmente inspirou Lisa a conhecer Altair. Ao lado de amigas, ela decidiu visitá-lo no Sirpha, lar para Idosos onde ele residente atualmente. "Eu sempre ia curtindo, vendo as fotos e me deu aquele estalo. Eu vou visitar ele. Conversamos um pouco no dia, fomos visitá-lo e eu senti algo diferente. As coisas foram acontecendo", ri.

Aos 38 anos e professora de dança do ventre, Lisa acredita que nunca sentiu algo tão intenso. O mesmo diz Altair. Em quinze dias, ele decidiu apresentá-la como namorada a família e daquele momento em diante, tudo mudou. “Estava em um curso aqui no meu estúdio de dança quando ele me convidou para o aniversário de uma sobrinha. Nisso já perguntou se poderia me apresentar como namorada. Nossa, eu levei aquele susto, mas aceitei. Isso foi no dia 21 de agosto, estamos juntos desde então”, relembra Lisa.

Os amigos falam em alma gêmea, Altair em felicidade. “Ela se identificou muito comigo. É muito intenso, ela é muito atenciosa. Quando sofri o acidente de moto e fiquei tetraplégico há 12 anos eu não quis me envolver com mais ninguém. Falava para mim mesmo que esperaria eu melhorar, enquanto eu não voltasse ao normal, não namoraria”, explica.

A rotina de exercícios na fisioterapia e as longas conversas na internet foram a distração do ex-mecânico industrial durante muito tempo. Agora, ele fica contando os dias para encontrar Lisa. Como as visitas são restritas, todas as segundas, quartas, sextas e domingos, Altair espera ansioso o momento de ficar ao lado da bailarina.

“Fiquei muito mais contente, muito mais feliz. Ela vem no horário de visita, que é das 13 horas às 16 horas. E sempre comentamos que o tempo passa muito rápido. A gente começa a conversar, contar história e fica aquele sentimento de que queria ficar mais tempo com você”, diz, apaixonado.

Ele, tetraplégico, ela dançarina (Foto: Juliano Almeida)
Ele, tetraplégico, ela dançarina (Foto: Juliano Almeida)

Lisa não mede elogios para quem lhe faz tão bem há dois meses. “Não sei explicar o que eu sinto, nunca senti isso por ninguém. Nós saímos juntos, nos divertimos. Não é o fato de ele ser tetraplégico ou deficiente visual ou qualquer outra coisa que define o caráter, a honestidade, a felicidade de alguém”, acredita.

Enquanto os dias não chegam o jeito é conversar das 9 horas da manhã a meia-noite. “Quando comecei a namorar ele perceberam que eu estava muito feliz. No início achei que iriam julgar, questionar o que estou fazendo com ele, mas foi pelo contrário. Fiquei muito surpresa, a maioria das pessoas que me conhece é a favor porque veem a minha felicidade. O futuro a Deus pertence. Tanta gente é casada e não é fácil, não é feliz. Eu sou”, assume.

Antes do acidente, Altair foi casado duas vezes e tem dois filhos, uma menina de 22 anos e um menino de 18 anos. Com os pais falecidos, o jeito foi encontrar uma casa de idosos que o acolhesse.

“Eu morei um bom tempo com meu tio, depois com minha irmã. Na época meu pai ajudava a cuidar de mim, mas ele faleceu. Depois ela me colocou em uma casa de idosos no Caiobá, mas não deu muito certo. Então meu filho, minha ex-mulher e o marido dela me tiraram de lá. Fiquei dois anos morando com eles até encontrar essa casa. Aqui é bem estruturado, como eu demando de muitos cuidados, foi o melhor para todo mundo”, acredita.

Para Lisa, essa garra de viver é emocionante. “O que eu mais admiro nele é a força interna para seguir em frente”.

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