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Consumo

Para preservar as ferramentas do pai, Rafael virou craque em carro antigo

Pai fechou oficina porque já não tinha equipamentos para carro moderno, mas Rafael reabriu justamente por isso

Ângela Kempfer | 06/12/2021 06:45
Rafael entre as duas Kombis récem-reformadas por ele. (Foto: Henrique Kawaminami)
Rafael entre as duas Kombis récem-reformadas por ele. (Foto: Henrique Kawaminami)

Na fachada da oficina no Bairro União, a Kombi azul impecável só perde a atenção para outro modelo de 1960. Lá dentro, um Gol BX verde, de 1976, apareceu só na lataria e já está praticamente pronto para seguir para ganhar tapeçaria. Mas as antiguidades mais valiosas na oficina Los Raros, de Rafael Ruffo, são as heranças deixadas pelo pai, seu Rocio, que mudaram a vida do filho.

Essa história não envolve grandes quantias em dinheiro ou propriedades valiosas. O que ficou é riqueza enferrujada na parede, além de um conjunto completo de ferramentas, esse sim, em pleno uso na oficina da Rua José Garcia Lopes Filho, aberta há mais de 40 anos pelo mecânico Rocio.

Praticamente tudo que Rafael usa na oficina foi herdado do pai. (Foto: Henrique Kawaminami)
Praticamente tudo que Rafael usa na oficina foi herdado do pai. (Foto: Henrique Kawaminami)

Quando pergunto: o que você guardou do seu pai, a resposta é emocionada: “Você veio para me fazer chorar... Eu guardei tudo, até sentimentos. Tem coisas que eu nem toco. Todas as ferramentas são dele”, diz.

No alto da parede, o capô de uma caminhonete Ford F3 1948, originalmente verde, hoje, está completamente enferrujado, mas não tem preço que pague.

“Era do meu pai, que ele teve de vender em 2002, com muito pesar. Um dia, um amigo me chamou e disse que tinha uma peça lá para ver se eu tinha como vender. Quando eu cheguei, eu vi que era o capô da F3 do meu pai e na hora eu comprei. Não posso ter a caminhonete inteira, mas pelo menos, uma parte eu guardo”.

No alto da parede, capô da caminhonete antiga do pai, de 1943. (Foto: Henrique Kawaminami)
No alto da parede, capô da caminhonete antiga do pai, de 1943. (Foto: Henrique Kawaminami)

Criado entre os veículos de clientes do pai, na época modernos, ele até tentou seguir o caminho do Design de Interiores, mas o cheio da graxa falou mais alto e Rafael foi para São Paulo para curso de restauração e elétrica de veículos. Um ano após o retorno, Rocio morreu.

Em 2004, o pai já havia fechado a oficina para auxiliar a esposa Rosimeire, que estava doente e precisava de ajuda no mercado da família. Quando ela melhorou, o marido pensou: “Vou voltar, mas os carros já estavam muito atualizados e as ferramentas obsoletas, já não serviam para essa tecnologia nova. Tinha muito carro que já tinha saído de linha também”, conta Rafael.

Rafael montou todo o motor e parte elétrica do Gol BX, só não faz a tapeçaria. (Foto: Henrique Kawaminami)
Rafael montou todo o motor e parte elétrica do Gol BX, só não faz a tapeçaria. (Foto: Henrique Kawaminami)

Fusca cupido

Para não aposentar nenhum instrumento de trabalho de Rocio, o filho reabriu a oficina em 2017, especializada em carros que ainda precisam desse tipo de ferramentas, os antigos, com motor a ar.

Aos 33 anos, Rafael já fez muito serviço em Kombis, Karmann Ghia, Variant, caminhonete... mas o que ele ama mesmo é Fusca.

Rafael ao lado do Pai e de Maverick, que até hoje continua na garagem do filho. (Foto: Los Raros)
Rafael ao lado do Pai e de Maverick, que até hoje continua na garagem do filho. (Foto: Los Raros)

Até o casamento de 4 anos começou por conta de um desses carros antigos. “Eu sempre brinco com a minha mulher, que passava lá na frente da casa dela e via o Fusca parado no fundo, que não funcionava. Aí pensei: 'Vou ver se tem alguém aí interessante para eu namorar e me aproximar do Fusca'”, ri.

Ele deixou o carro tinindo e hoje, é mais uma memória sem preço para o casal. “Quando meu sogro morreu, o Fusca ficou para a minha esposa Juliana”, conta.

A preferência dos dois pelo modelo retrô mais popular do mundo tem motivo simples. “Eu gosto de Fusca, porque ele cativa as pessoas. Normalmente, quando alguém compra um carro, diz: ‘comprei um carro’. Mas quando é um Fusca, a pessoa já fala: ‘comprei um Fusca”, explica.

Herança de seu Rocio, Maverick é lembrança do homem que foi inspiração para Rafael. (Foto: Henrique Kawaminami)
Herança de seu Rocio, Maverick é lembrança do homem que foi inspiração para Rafael. (Foto: Henrique Kawaminami)

Sobre os valores dos trabalhos, ele prefere guardar segredo, até por respeito aos clientes. 'Tem alguns, que quando fazem o orçamento, pedem para eu falar baixinho para a mulher não ouvir o valor e dizem: 'Se ela souber, vai querem comprar um bolsa do mesmo preço'", confessa.

Rafael também gosta de inventar, ganhou um Puma de um amigo e já colocou também na parede, e até painel de caminhão virou rádio com som potente (veja no vídeo abaixo).

É paixão mesmo pelo cheiro de motor e lataria, que faz brilhar o olho e tornou a casa de Rafael em um santuário à memória do pai e a tudo que não merece ser descartado.



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