ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MAIO, SEGUNDA  06    CAMPO GRANDE 25º

Faz Bem!

Dentro da igreja, psiquiatra mostra que suicídio não é “falta de Deus”

Existem inúmeros fatores desencadeantes para o suicídio e ele é um problema de saúde pública, então é preciso buscar informação

Thailla Torres | 14/08/2019 08:07
4ª Igreja Batista para falar abertamente sobre o tema sem "tabus". (Foto: Thailla Torres)
4ª Igreja Batista para falar abertamente sobre o tema sem "tabus". (Foto: Thailla Torres)

Com as redes sociais e os ânimos fervendo toda vez que surge uma notícia sobre suicídio, fica claro o quanto é necessário do papel da sociedade em relação saúde mental. Mas as pessoas também têm demonstrado um desconhecimento sobre o assunto quando colocam a “falta de Deus” como razão para o suicídio.

Na contramão disso, o Seminário Batista Sul-Mato-Grossense, instituição de formação de teólogos, abriu as portas da 4ª Igreja Batista para falar abertamente sobre o tema, durante a semana acadêmica promovida pela instituição.

Nos bancos da igreja, mais de 150 pessoas assistiram atentas a palestra do psiquiatra André Veras que foi enfático em dizer que o suicídio é um problema de saúde pública. “Que na maioria dos casos, do ponto de vista médico, tem como razão a depressão, transtornos de humor, uso de substâncias, transtornos psicóticos e sofrimentos diante das relações sociais”.

O médico esclareceu que o suicídio ou a tentativa dele não deve ser atribuído a uma única causa. “Há uma série de fatores no histórico da pessoa que levam ao suicídio, por isso, é preciso avaliação, cuidado e prevenção”, esclareceu.

Existem fatores desencadeantes, como desesperança, impulsividade, isolamento social e falta de um sentido na vida, comum, especialmente, entre os jovens que vivem conflitos com laços familiares, de orientação sexual, de identidade e gênero.

O mais grave, segundo o médico, é que os casos de suicídio têm se revelado mais cedo, “entre pessoas de 10 a 25 anos, ou seja, crianças estão tirando e querendo a própria vida”, explica. O índice também alto em idosos, especialmente, que têm doenças crônicas ou intratáveis que, perdem amigos e companheiros de vida.

Para quem diariamente é alimentado com as ocorrências trágicas ou tem algum conhecido que já tentou o suicídio, o psiquiatra lembra que ninguém deve culpar, mas sim ajudar. “É preciso discutir o suicídio desprovido de tabus, esses tabus são construídos pelos nossos rituais sociais, mas o suicídio está bastante presente. Essa ocorrência habitualmente trágica gera um profundo entristecimento ao redor, que frequentemente é traumático”, diz. Do ponto de vista médico e psiquiátrico “não se pode mais negligenciar”.

O suicídio não pode se tornar um segredo entre a família e nem ficar isolado das pessoas ao redor. “Qualquer percepção de sofrimento precisa ser falada. É preciso perguntar ao outro de forma clara sobre o suicídio, mas com a conotação de que há preocupação e não julgamentos”.

Entre as medidas de prevenção, além do diálogo e relações sociais saudáveis, a principal é o diagnóstico e tratamento médico, mas para isso, é necessário um aumento acesso aos profissionais da saúde.

Dentro disso, profissionais, acadêmicos, docentes e a própria comunidade, podem trabalhar juntas na prevenção da dor e sofrimento. “Precisamos realizar ações que transformem a vida do outro, que promove integração social e bem-estar”, explica. Como se faz isso? “Com ações de esporte, lazer, ativismo, conforto, socialização e trabalho, por exemplo”.

Ponto de vista religioso – Para quem não é religioso e está cansado de ouvir e ler por aí que a vontade de morrer tem a ver somente com a fé, a palestra soa como alento, ainda que do ponto de vista teológico, muitos afirmem que a pessoa comete suicídio “porque perdeu a esperança em Deus”.

Pastor e diretor do Seminário Batista Sul-Mato-Grossense, Paulo José da Silva contou no púlpito que passou a trabalhar na prevenção do suicídio há décadas, quando houve aumento número de mortes de indígenas na região de Dourados. Para ele, hoje, o assunto é ainda mais importante com o número crescente de suicídio entre crianças e adolescentes.

Ao Lado B o pastor afirmou que a instituição é de uma denominação antiga e conservadora, que preza o ensino religioso como algo importantíssimo na formação do caráter, mas que não são simplesmente religiosos, “são seres humanos e devem tratar o ser humano como um todo”, diz. “É o que chamamos de missão integral da igreja, é cuidar do ser humano e olhar para todas as necessidades”.

Eles seguem a linha de pensamento de que o homem é feito de corpo (físico), alma (psique) e espírito (Deus). “Para nós o suicídio pode advir de uma dessas questões. Então, na abordagem teológica, o homem se suicida quando perde todas as esperanças, inclusive, a esperança em Deus. Mas a gente entende que não é só falta de Deus, pode ser por um problema espiritual, psicológico ou patológico. Como para nós qualquer uma das três pode levar ao suicídio, esse assunto é importante e resolvemos falar sobre ele de forma aberta, para todos, independente da religião”, afirma.

Ajuda - Em Campo Grande, o Grupo Amor Vida (GAV) presta um serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através dos telefones (67) 3383-4112, (67) 99266-6560 (Claro) e (67) 99644-4141 (Vivo), todos sem identificador de chamadas. Ligue sempre que precisar!

Horário de funcionamento das 07:00 às 23:00, inclusive sábados, domingos e feriados. Informações também pelo site (clique aqui).

Curta o Lado B no Facebook e Instagram.

Nos siga no Google Notícias