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Sabor

Sírio foge da guerra e abre barraca na Feira Central mesmo sem falar português

Anny Malagolini | 09/05/2014 07:00
Yasser Sasaa hoje vende doces e salgados na feira. (Foto: Marcelo Victor)
Yasser Sasaa hoje vende doces e salgados na feira. (Foto: Marcelo Victor)

Por conta da guerra civil na Síria, que se arrasta por 3 anos, o comerciante Yasser Sasaa, deixou o país acompanhado da esposa e de mais dois filhos e escolheu Campo Grande como destino. Mesmo sem falar português, há um mês, ele abriu no corredor principal da Feira Central a barraca “Sham”, para viver da única coisa que restou, as receitas árabes.

Yasser tem amigos aqui, que como ele, há anos resolveram deixar a instabilidade política da Síria para começar do zero longe do conflito. Todos tinham parentes ou conhecidos na cidade, uma das capitais com maior colônia árabe do Brasil, por isso a opção.

Confiando na experiência dos que vieram antes, ele vendeu carro, casa e todos os bens para se mudar. Em Campo Grande, o dinheiro serviu para comprar uma casa na Vila Planalto e o ponto na Feira.

O restante da família, pais e irmãos, ficaram. Segundo Yasser, nenhum deles nunca sofreu violência por conta da guerra, mas as dificuldades econômicas enfrentadas pelo povo sírio é uma realidade assustadora. Sem perspectivas, achou que Mato Grosso do Sul seria a terra das oportunidades.

Sem saber falar português, o comerciante arisca algumas palavras, com “obrigado”. “É difícil o idioma, mas estou aprendendo assistindo televisão”, explica em inglês.

Na hora de vender, é impossível manter um diálogo com o cliente. Então, para facilitar, ele já oferece o cardápio a quem chega à barraca.

Também para não haver muita pergunta, os doces árabes foram adaptados para o português, como o “Harise” que no cardápio é o "Bolo de Coco". O Ras Al Abed é o "Bolo de Chocolate", cada fatia vendida por R$ 2,00.

Curiosa, a costureira Cristina Rolon, de 57 anos comprou o doce para experimentar. “É muito gostoso. E não tive dificuldade em comprar. Recomendo”, elogia ao ressaltar que na hora de comer, não há idioma que sirva de barreira.

O comerciante vende também os salgados árabes tradicionais, como kibe e esfiha, também por R$ 2,00. Os produtos ficam expostos em uma estufa, mas nem todos que estão no cardápio são feitos todos os dias. Yasser explica que ele e a esposa – que fica em casa enquanto ele trabalha – preparam juntos os produtos.

Ele explica que na Síria mantinha um comércio, também com alimentação, e que por isso foi fácil montar o negócio na Feira Central. “Me trouxeram aqui pra comer, me disseram que era turístico. Aqui é mais barato que abrir algo no centro, então escolhi a Feira”, justifica.

Ele parece feliz com a nova vida e garante que nunca mais vai regressar à terra natal.  “Aqui eu vou viver e morrer”, finaliza.

Yasser tentando uma conversa com as clientes. (Foto: Marcelo Victor)
Yasser tentando uma conversa com as clientes. (Foto: Marcelo Victor)
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