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Reportagens Especiais

De idosa a criança, Mato Grosso do Sul teve 1.804 vítimas de estupro em 2022

Entre as vítimas, Estrelinha foi estuprada, espancada e morta um dia antes de completar seu 11º aniversário

Ana Paula Chuva | 28/12/2022 08:52
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Estrelinha foi sepultada sob aplausos e comoção de vizinhos, familiares e policiais do GOI. (Foto: Marcos Maluf)
Estrelinha foi sepultada sob aplausos e comoção de vizinhos, familiares e policiais do GOI. (Foto: Marcos Maluf)

De idosa casada a criança cuidando dos irmãos, em 2022 foram registrados em Mato Grosso do Sul 1.804 casos de estupro entre o dia 1º de janeiro e 26 de dezembro, o número dá uma média de cinco por dia. Entre todas essas mulheres, que acabam ficando anônimas nas páginas dos jornais, para não serem ainda mais expostas, a história de duas meninas acabou gerando comoção no findar do ano.

A primeira delas, Estrelinha, moradora da Vila Nossa Senhora das Graças, em Campo Grande, a menina foi estuprada, espancada e morta um dia antes de completar seu 11º aniversário. O autor? Maykon Araujo Pereira, 31 anos, que ainda tentou alegar que “só passou a mão” na criança.

Estrelinha estava cuidando de dois irmãos mais novos quando o homem invadiu a casa pela porta dos fundos. Ela gritou, mas foi derrubada pelo autor, 21 anos mais velho. A mãe da menina acabou sendo presa também por abandono de incapaz e chegou a culpar os vizinhos que “não viram o que estava acontecendo”. O caso da menina faz parte dos 523 registros só na Capital.

A pequena, citada pelos vizinhos como a “mãe da casa”, não foi a única criança a ter o estupro exposto em uma situação trágica. Em Corumbá, uma menina de 12 anos revelou à mãe que começou a ser estuprada aos 6. Um dos autores seria o próprio avô. Mas a história só foi contada após a menina engravidar de um homem de 43 anos. O caso é investigado pela Daiji (Delegacia de Atendimento à Infância, Juventude e Idoso).

Mas na lista cabem as mulheres mais velhas, que mesmo casadas não escapam da insegurança de serem vitimadas pelo crime cruel. E não importa a idade ou o tempo de relacionamento, elas foram estupradas pelos próprios companheiros. Algumas chegaram a ser mantidas em cárcere privado, sob tortura e ameaça por aqueles com quem escolheram dividir a vida.

Suposto pai de santo preso por estuprar adolescente durante sessão espiritual. (Foto: Marcos Maluf | Arquivo)
Suposto pai de santo preso por estuprar adolescente durante sessão espiritual. (Foto: Marcos Maluf | Arquivo)

Aos 71 anos, uma mulher foi estuprada e mantida em cárcere pelo marido, um homem de 35. O caso aconteceu em Brasilândia, a 366 quilômetros de Campo Grande, e só foi descoberto após uma denúncia. O suspeito foi detido tentando fugir e já tinha contra si um mandado de prisão por violência doméstica.

Em Bataguassu, um caso semelhante também veio à tona durante uma confraternização de empresa, quando um homem de 44 anos foi preso em flagrante por cárcere privado e estupro contra a esposa. A mulher foi mantida trancada em casa por uma semana e, ao sair para a festa com o companheiro, foi espancada no banheiro do local. O autor foi detido tentando fugir.

Durante este ano, nem delegacia ou sessão espiritual escaparam dos cenários usados para o crime de violência sexual. Em abril deste ano, o investigador Elbesom de Oliveira foi preso por estuprar uma detenta de 28 anos, dentro da unidade policial em Sidrolândia, a 71 quilômetros de Capital. Ele foi denunciado por presos que estavam no local. Ele negou o crime e chegou a pedir promoção por tempo de serviço. O processo está em fase final para julgamento.

Sutiã de Edione, rasgado e jogado no local onde ela foi estuprada. (Foto: Paulo Francis | Arquivo)
Sutiã de Edione, rasgado e jogado no local onde ela foi estuprada. (Foto: Paulo Francis | Arquivo)

E aos 15 anos, adolescente teve sua dignidade sexual violada durante uma sessão espiritual no Bairro Almeida Lima. O homem de 63 anos, que se apresentava como “pai de santo”, foi preso em flagrante e disse que não se lembrava de nada porque estava
 “incorporado pela entidade”. O caso foi registrado no dia 22 de novembro deste ano.

E, para Edione Bersocana, 43 anos, a história foi ainda mais triste. A mulher que vivia em situação de rua foi estuprada e morta por Milton César de Souza. Em junho, ela foi encontrada nua e machucada em um prédio abandonado no Bairro Tiradentes e 27 dias depois morreu na Santa Casa. O autor foi preso no mês seguinte e o crime teria sido cometido porque a vítima não aceitou fazer um programa sexual com ele.

Infelizmente, essas são uma pequena parte das histórias registradas pelo Campo Grande News, durante os 12 meses de 2022, e que não ultrapassam os 7% dos casos registrados pela Polícia Civil em todo Mato Grosso do Sul, isso sem contar os que sequer são denunciados ou que acabam vindo à tona muito tempo depois de terem acontecido.

No entanto, este ano o Estado registrou 153 casos de estupro a menos que em 2021. O número representa uma redução de 7,8 %, já que ano passado foram 1.957 boletins de ocorrência pelo crime contra a dignidade sexual.

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