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Cidades

Polícia quer fazer reprodução simulada de acidente com avião de Luciano Huck

Piloto também vai ser ouvido novamente sobre acidente, investigado em operação contra fraude na manutenção de aviões

Marta Ferreira | 04/09/2019 18:13
Aeronave que transportava Luciano, Angélica, os filhos e duas babás no dia do acidente, em Rochedo. (Foto: Arquivo)
Aeronave que transportava Luciano, Angélica, os filhos e duas babás no dia do acidente, em Rochedo. (Foto: Arquivo)

Mil e quinhentos dias atrás, Campo Grande virou notícia nacional com o acidente que envolveu o casal global Luciano Huck e Angélica, os três filhos, Benício, Eva e Joaquim, e ainda a babá das crianças. O avião no qual a família vinha do Pantanal para Campo Grande fez pouso forçado em Rochedo, depois de, aparentemente, ficar sem combustível no ar.

Mais de quatro anos depois, a investigação criminal, que ainda não responsabilizou ninguém, aguarda o resultado de laudo pericial. A partir dele, a equipe responsável vai decidir se fará, ou não, reprodução simulada do incidente.

Uma providência, ainda sem data prevista, já está definida. O piloto Osmar Frattini será ouvido novamente, segundo informou a delegada Ana Cláudia Medina, responsável pelo inquérito.
Frattini, desde o acidente, viveu momentos de altos e baixos. Primeiro, quando tudo aconteceu, foi tratado como herói, por ter salvo a família famosa.

Depois, quando saiu relatório do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) da FAB (Força Aérea Brasileira), teve a conduta considerada imprudente. Pelo relatório, de abril de 2017, ele não teria feito as checagens necessárias antes de voar.

Os elementos levantados no inquérito, porém, estão descontruindo essa segunda impressão. O próprio relatório do Cenipa afirma que havia algo errado com os sensores de combustível, chamados capacitores. “Na asa esquerda, os sensores de combustível estavam com suas posições trocadas, ou seja, o sensor do tanque interno da asa esquerda estava instalado no tanque externo e vice versa”.

 Detalhe da célula do tanque de combustível da asa esquerda do avião. (Foto: Reprodução do relatório do Cenipa)
Detalhe da célula do tanque de combustível da asa esquerda do avião. (Foto: Reprodução do relatório do Cenipa)

O texto segue explicando que, apesar de serem aparentemente iguais, os sensores possuíam capacitâncias distintas, em razão da diferente capacidade volumétrica das células de combustível correspondentes. “Consequentemente, os sinais transmitidos aos liquidômetros resultavam em uma indicação de quantidade superior à real”.

Na prática, isso quer dizer, segundo a delegada Ana Cláudia, que o piloto fez as checagens e foi induzido, pela falha técnica, a achar que havia mais combustível do que de fato havia no tanque da asa esquerda. Foi justamente o motor esquerdo que falhou e provocou o pouso de emergência.

“Vou esperar” - Procurado pela reportagem, Osmar foi sucinto. Disse que vai aguardar o desdobramento do inquérito. Mas deixou um recado. “Novidades vão começar a surgir”, afirmou.

“Eu sempre estive aliviado, só fiquei muito sentido de pessoas ao redor da gente não pensarem dessa forma”, respondeu, quando indagado sobre o sentimento de ver a investigação caminhar para algo mais próximo do que ele dizia à época. “Quem acreditou, acreditou, muitos pagaram para ver”, afirmou.

“Eu sei o que fiz, eu fiz tudo para salvar a família, e graças a Deus eu consegui”, concluiu.

Maior – A investigação sobre o acidente envolvendo a família de Angélica e Luciano Huck faz parte de apuração bem mais complexa, envolvendo fraude na manutenção de aeronaves. A suspeita é de que os serviços usavam peças de “segunda mão” e desrespeitavam orientações técnicas.

Pelo menos três acidentes atribuídos às falhas de manutenção foram identificados. Em dezembro de 2014, a aeronave Cesna 206 caiu na região de Jaraguari, matando o advogado Marco Túlio Murano Garcia e o piloto Genêse Pereira, de 44 e 55 anos. No dia 24 de maio de 2015, o monomotor modelo Turbo Hélice Carajá, transportava os apresentadores Luciano Huck e Angélica, os filhos e duas babá, e precisou fazer pouso forçado em uma fazenda próxima a rodovia MS-080.

Pouco mais de um ano depois, Marcos David Xavier morreu após o avião que pilotava cair na região do Pantanal sul-mato-grossense.

Os três acidentes acabaram unidos por um único motivo: o erro na manutenção da aeronaves. Foi durante a Operação Ícaro, realizada desde 2015 pela Deco (Delegacia Especializada de Repressão do Crime Organizado), que as falhas começaram a ser desvendadas.

O inquérito já tem mais de 12 volumes, mais de mil páginas.

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