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Capital

Em 1 ano, bombeiros atenderam 925 tentativas de suicídio só na Capital

Do total de casos, 50% são crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos tentaram suicídio

Danielle Valentim | 23/06/2018 13:15
Militares do Bope durante negociação com adolescente. (Foto: Fernando Antunes)
Militares do Bope durante negociação com adolescente. (Foto: Fernando Antunes)
Equipe do Corpo de Bombeiros conversando com vítima. (Foto: Fernando Antunes)
Equipe do Corpo de Bombeiros conversando com vítima. (Foto: Fernando Antunes)

"Precisamos falar de suicídio, uma dor compatilhada dói menos”. A frase foi dita pelo professor Edilson dos Reis, coordenador do curso de prevenção ao suicídio na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso Sul), na manhã deste sábado (23), enquanto uma adolescente de 15 anos ameaçava se jogar de uma caixa d’água de 21 metros de altura, no Bairro Pioneiros. O especialista explica que, apesar dos dados alarmantes, o fim do sofrimento pode ser simples: com o rompimento do silêncio.

Em 2017, por exemplo, o Corpo de Bombeiros de Campo Grande atendeu 925 tentativas de suicídio, sendo que 50% das vítimas eram crianças e jovens entre 10 e 19 anos. O número pode ser bem maior, pois segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a cada caso registrado, cinco são subnotificados.

Nesta manhã, uma adolescente de 15 anos, permaneceu na caixa d'água de um condomínio no Bairro Pioneiros por mais de 5 horas. O fato mobilizou duas equipes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e outras duas do Corpo de Bombeiros, que trabalharam na negociação e descida da jovem.

O estopim à tentativa do suicídio, quando envolvem adolescentes, é comparado a um "impulso", para finalizar uma dor. Segundo Reis, as situações são peculiares, mas que em grande parte dos casos se trata da imaturidade. “Os adolescentes e jovens são inconsequentes e infantilizados. Muitas vezes a morte é o que eles buscam para que o sofrimento acabe”, explica.

O professor Reis dá aula no curso que é pioneiro e único em todo o Brasil. Especialista no assunto, ele explica que o suicídio deve ser um debate contínuo. “Temos de quebrar esse “Tabu do Suicídio”, temos que descontruir essa história de que não se pode falar do assunto. Uma dor compartilhada dói menos”, pontua.

Por que acontece? Capelão Reis ressalta - dado da OMS - de que o suicídio é a segunda maior causa das mortes entre os 10 e 19 anos, e que o Brasil se encaixa no 8º lugar no ranking. 

- Algo está incomodando (Mas o adolescente não consegue conversar)
- Silencio e a dor (a vítima não tem com quem falar ou quem pedir ajuda)
- Ausência de afeto no ambiente familiar
- Adolescentes que não saber lidar com frustações (Muitos vezes agem por impulso, por não terem controle de seu temperamento).

Falta de pontos de apoio - No Brasil, cerca de 100 mil leitos psiquiátricos estão fechados. Reis pontua que o setor de psiquiatria da Santa Casa, por exemplo, que era um grande local de acolhimento dessas pessoas que precisam de acompanhamento médico e de internação, não existe mais.

Onde encontrar? O professor reitera que Campo Grande precisa criar espaços de “circulação de palavras”, mas que vítimas de depressão e demais sofrimentos psicológicos podem buscar ajuda em escolas-clínicas de psicologia, Caps e pelos telefones 141 e 188 CVV, 190 da PM e 193 dos Bombeiros, que ajudam pacientes a romper o silêncio.

Qual a preocupação ? Reis explica que a OMS também aponta o Brasil como o país mais ocioso e deprimido do mundo, mas que todo o diagnóstico deve ser feito por um profissional da área.

“Tem que haver o diagnóstico. O rompimento do silêncio. Muitos adolescentes não aderem ao tratamento indicado pelo profissional, principalmente, quando o tratamento envolve medicação. A justificativa é que a medicação pode viciar. No entanto, as pessoas se medicam todos os dias para tratar demais doenças, mas quando envolve a recomendação é do psiquiatra as pessoas não querem seguir”, disse.

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