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Capital

Há 10 meses, Simone teve muito mais que a perna estraçalhada em acidente

Auxiliar de limpeza teve a perna amputada, depois de ser atropelada por carro conduzido por motorista embriagado

Luana Rodrigues | 15/04/2017 09:58
Há 10 meses, Simone teve muito mais que a perna estraçalhada em acidente
Auxiliar de limpeza lamenta dificuldades enfrentadas até hoje. (Foto: André Bittar)
Há 10 meses, Simone teve muito mais que a perna estraçalhada em acidente
Simone conta que motorista que a atropelou nunca a procurou após atropelamento. (Foto: André Bittar)

Há 10 meses, Simone Maria da Silva, de 30 anos, vive a vida com a esperança da realização de dois desejos: voltar a andar e fazer justiça. Era madrugada de sábado, dia 4 de junho de 2016, quando a auxiliar de limpeza foi atropelada por um motorista bêbado, no cruzamento da Avenida Fábio Zahran com a Bandeiras. Por consequência, perdeu parte de uma das pernas, fraturou a coluna e hoje sobrevive com uma série de limitações e dificuldades.

Pegar a filha caçula no colo, levar o mais velho ao futebol ou brincar no parquinho com a do meio, se tornaram tarefas praticamente impossíveis. A mãe de três crianças de 12, seis e três anos de idade - que antes tomava conta da família sozinha, já que o marido está preso - hoje precisa da ajuda da sogra até para buscar os filhos no colégio, já se locomove com dificuldade, usando muletas.

“Difícil é cuidar da casa, das roupas das crianças. Eles estranham muito, porque sou só eu e eles, mas o meu filho mais velho me ajuda bastante. Limpa casa, lava louça, veste as irmãs. O problema é que nem tudo ele consegue sozinho, afinal de contas, é uma criança ainda”, diz.

Ao lado da mãe, o menino até faz uma carinha de quem não gosta muito dos afazeres domésticos, mas não reclama das tarefas. Apenas diz que também gostaria de vê-la andar logo, “porque é estranho ver ela assim todo dia”.

Pelo menos um dos desejos de mãe e filho pode estar perto de se concretizar. Simone ganhou uma prótese da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Campo Grande), que deve colocar nos próximos meses. Se der tudo certo, e o objeto se adaptar ao membro, ela poderá andar em breve.

Apesar da recente boa notícia, a família sofre com a impunidade de quem lhes causou todo o sofrimento dos últimos meses. Segundo Simone, o farmacêutico Alisson Morais Cordeiro, 33 anos, que conduzia embriagado o carro que a atropelou naquela madrugada, nunca procurou por ela ou a família, desde que tudo aconteceu.

“Ele sequer quis saber se eu estava viva, se precisava de um remédio, ou de alguma ajuda. Que tipo de ser humano é esse?”, questiona a vítima.

Alisson foi preso em flagrante por embriaguez pouco tempo depois do acidente. Ele furou o sinal vermelho, quando bateu na motocicleta conduzida por Simone. Como mostra o vídeo gravado por uma câmera de segurança na época:

Após atingir a motociclista, o condutor ainda derrubou um semáforo e bateu no muro de um comércio na esquina do cruzamento. Alisson sofreu ferimentos leves, foi encaminhado à Santa Casa sob escolta e após receber alta, acabou levado direto para a delegacia. Mas conseguiu ser solto depois de pagar uma fiança pelo crime, no valor de quatro salários mínimos.

Em liberdade, o motorista foi denunciado em fevereiro deste ano por lesão corporal culposa, quando não há intenção de matar, e pelo crime de conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada, em razão da influência de álcool. O processo corre na Justiça, sem prazo para ser julgado.

“Me dá muita angústia, muita revolta, as vezes até penso em fazer uma besteira. Ele tinha que tomar vergonha na cara e aparecer pelo menos, olhar o que fez e tomar uma atitude, porque minha vida toda foi prejudicada. Os meus filhos foram prejudicados e isso não dá para reparar”, reclama Simone.

Para piorar as coisas, em outubro deste ano, o benefício que a auxiliar de limpeza recebe da Previdência Social poderá ser cortado e a família ficará sem o salário mínimo que a mantém. “Disseram que vou ter que passar por uma nova perícia e pode ser que me mandem voltar a trabalhar. Confesso que ainda não sei como fazer isso estando desse jeito”, lamenta.

Após ouvir o relato de Simone, o Campo Grande News tentou contato com Alisson pelo telefone que consta como sendo dele no processo referente ao caso, mas as ligações caem na caixa postal.

A reportagem também telefonou para o local de trabalho do farmacêutico, que consta nos registros, para tentar localizá-lo, mas foi informado que o rapaz já não trabalha mais lá. O objetivo era encontrá-lo para mostrar também a versão dele sobre a situação.

Há 10 meses, Simone teve muito mais que a perna estraçalhada em acidente
Simone e os três filhos, Emile, Eduardo e Mikaeli. (Foto: André Bittar)
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