Para catadores, volta ao trabalho é reforço na renda e alívio
Unidade de triagem voltou a funcionar na semana passada, para alívio de catadores, que viram minguar a renda já escassa

O retorno das atividades da UTR (Unidade de Triagem de Resíduos), no Dom Antônio Barbosa é um respiro para os catadores de materiais recicláveis que passaram tempos de sufoco, dependendo de doações e de “bicos”, principalmente enquanto não tiveram acesso ao auxílio emergencial do governo federal.
A UTR foi fechada no dia 23 de março e voltou a funcionar no dia 11 de maio. Somente daqui uma semana é que os trabalhadores vão conseguir melhor a renda, já que o pagamento é feito a cada 15 dias.
No entorno da UTR, a maioria sobrevive dessa renda, aliada a algum benefício concedido pelo governo, como Bolsa Família. No bairro Dom Antônio Barbosa, a volta ao trabalho significa pagar contas em atraso e colocar comida na mesa.
O retorno estava condicionado a várias medidas de segurança. Dos 134 catadores das quatro cooperativas cadastradas (Belo Horizonte, Timaras, Coopermaras e Cata MS), somente 95 poderão trabalhar diariamente. Os outros são de grupo de risco, como idosos ou gestantes.
Nas esteiras de separação, é preciso respeitar distanciamento mínimo de 2 metros, uso de luvas resistentes a cortes e esfoliações. O material coletado ficará 24h em quarentena, antes de serem processados.
A presidente da cooperativa Cata MS, Lúcia Rodrigues, disse que 23 dos 33 cooperados voltaram ao trabalho. A única preocupação é que com número menor de trabalhadores, o trabalho vai demorar a ser concluído. Segundo Lúcia, por mês, eles conseguiam separar cerca de 100 toneladas e, agora, deve cair pela metade.
Com dinheiro contado, em poucos dias, o fechamento foi sentido. O auxílio emergencial começou a ser pago no dia 3 de abril e os que ainda não tinham sido contemplados com o benefício social tiveram que se virar. “Pessoal limpava terreno, vendia pão, salgado, fazia o que dava”, disse Lúcia.
“Agora a gente está de volta, graças a Deus”, comemorou Jannir Corrêa, 53 anos, residente em barraco na antiga Cidade de Deus. Depois que a UTR foi fechada, ela recebeu doação de cesta básica e, no fim de abril, recebeu os R$ 1,2 mil de auxílio emergência. O dinheiro foi para pagar contas de água e luz e comprar alimentos.
Greyciane Gonçalves, 36 anos, conseguiu auxílio de R$ 600, que substituiu a renda retirada da coleta para ajudar o marido. O casal tem filhos de 7, 13, 18 e 20 anos, sendo que o mais velho também trabalha e participada do rateio das contas. “A gente conseguiu se manter”, mas explica que o retorno das atividades é a garantia da renda fixa.
Fora da UTR – para os catadores de matéria recicláveis que trabalham fora do sistema de cooperativa, o período tem sido de mais limitações do que as já impostas.
As pequenas empresas de reciclagem que compram desses catadores também tinham interrompido atividades e, agora, voltam aos poucos, a exemplo da UTR. Denilce Lopes da Silva, 58 anos, está com saco de latinhas recicláveis e aguarda juntar o suficiente para chegar a R$ 40. Ela mora com dois netos de 6 e 7 anos. “Foi difícil”, disse. A renda com o que recolhe de latinhas reforça o que recebe pelo programa Bolsa Família e ajuda no sustento da casa e dos dois netos, de 6 e 7 anos que moram com ela.
Quem perambulava pelo bairro em busca de latinhas, papelão e outros materiais era Leozar Correia dos Santos. De idade incerta: “não sei quantos anos eu tenho, acho que quase 50”, sobreviveu limpando quintal.
“Eu tirava uns R$ 70 com reciclagem, aí fui me virando, só não passei mais aperto por causa de doações”, lembrando que ganhou botijão de gás e cesta básica de ONG. Viúvo, mora sozinho no Dom Antônio e contou com a colaboração do vizinho, que sempre levava marmita. No carrinho de mão, já tinha recolhido alguns materiais recicláveis. “Tá cheio, mas aqui é mixaria, dá uns R$ 10, R$ 15”, calcula.