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Em Pauta

A estranha amizade entre Houdini e Conan Doyle

Mário Sérgio Lorenzetto | 21/05/2018 09:45
A estranha amizade entre Houdini e Conan Doyle

Quando pensamos em Harry Houdini, inevitavelmente nos vem à mente a imagem de um homem atlético usando calções, com o corpo preso em correntes e escapando das prisões mais impossíveis: um tanque de água, um cofre ou uma caixa cheia de leite e trancada por cadeados. Mas há outra face de Houdini menos recordada, apesar de na época ter lhe dado muito mais fama: Houdini foi um caçador de falsos fantasmas, atacou o espiritismo como ninguém havia feito. Até 1922 foi um homem-show, inclusive estrela do cinema mudo, em seus últimos anos de vida dedicou-se a caçar fantasmas.

A estranha amizade entre Houdini e Conan Doyle

A morte da mãe teria levado Houdini ao espiritismo.

Segundo a versão mais divulgada, foi a morte de sua mãe que teria levado Houdini ao espiritismo. Desde seu nascimento em Budapeste, passando pela migração de sua família judia para os Estados Unidos e seu triunfo como mágico, Erik Weisz - seu verdadeiro nome - sempre professou uma profunda adoração por sua mãe,a qual qualificava como "anjo na Terra" ou o "farol que o guiava" e um de seus dois amores, junto com sua esposa Bess. Depois da morte de sua mãe, em 1913, por causa de um derrame cerebral, Houdini não voltou a ser o mesmo. Se converteu em um espectro taciturno, que passava longos períodos no cemitério, caído sobre a tumba e falando com a terra.
Segundo essa versão, a partir de então começou a assistir sessões de espiritismo para contatar com sua mãe, o que o levou a descobrir as falsificações dos médiuns e a iniciar sua cruzada pessoal contra as fraudes. Mas, há outra versão para essa história. Contam que ele só foi se interessar pelo espiritismo mais de dez anos depois da morte de sua mãe e que desde criança participou de algumas sessões espíritas e começou a suspeitar que existiam muitas enganações.

A estranha amizade entre Houdini e Conan Doyle

Arthur Conan Doyle, o "pai do segundo" de Houdini.

Houdini nunca acreditou no espiritismo, afirmam seus mais respeitados biógrafos. Quando era jovem montou sessões falsas, assim sabia muito bem o que ocorria na quase totalidade daquelas reuniões. O "nascimento do segundo" Houdini teve data certa e "pais" afamados: Arthur Conan Doyle e sua esposa Jean, com quem o mágico travou uma grande amizade em um giro de shows na Inglaterra, em 1920. Os Conan Doyle acreditavam profundamente no espiritismo e, inclusive, Jean era tida como uma médium.
Em 17 de junho de 1922, durante uma sessão espírita que reuniu os Conan Doyle e os Houdini em Atlantic City, nos EUA, lady Doyle se ofereceu para contactar com a mãe de Houdini. O resultado foram 15 páginas de escritas automáticas nas que, supostamente, a mãe de Houdini se comunicava com seu filho em perfeito inglês e com desenhos da cruz de Cristo. Houdini não acreditou. Disse a sua esposa que sua mãe não sabia escrever em inglês e que ela era esposa de um rabino e, portanto, não desenharia uma cruz. Mas, não querendo ferir a amizade com os Doyle, ocultou seu ceticismo.
O criador de Sherlock Holmes saiu dessa sessão acreditando que Houdini não só era um espírita como, provavelmente, seria um poderoso médium. Assim continuaram amigos até que Conan Doyle passou a apresentar o amigo publicamente como um crente. Houdini reagiu e desmentiu o amigo. As duas celebridades, a partir de então, se enroscaram em uma controvérsia pública que os jornais e leitores seguiam com avidez. A amizade terminou sob um fogo cerrado de acusações e amargos comentários.

A estranha amizade entre Houdini e Conan Doyle

"Eu sou Houdini". "Isto é uma fraude".

Houdini entrou em uma fase de combate direto aos médiuns. Dizia que queria desacreditar a quantos médiuns pudesse contatar. Seus conhecimentos sobre mágica lhe permitiam averiguar as artimanhas usadas por eles, afirmava aos jornais. Começou a assistir a sessões espíritas disfarçado e acompanhado por policiais incógnitos. Em cada uma delas acendia uma lanterna para mostrar o engano e punha-se em pé ao grito de: "Eu sou Houdini". "Isto é uma fraude".
Houdini foi convidado para participar de um comitê criado pela revista "Scientific American", que existe até os dias atuais, que prometia um premio substancioso "a quem pudesse demonstrar de forma confiável algum poder paranormal". O mágico prometia uma segunda recompensa de seu próprio bolso. Uma médium de Boston acabou com tudo. Mina Crandon, esposa de um respeitado cirurgião, convenceu os membros do comitê. Houdini, pelo contrário, denunciou seu truque. O mágico afirmou, publicamente, e de forma estriptosa, que Mina Crandon havia beneficiado membros do comitê com favores sexuais. Se os espíritos não vieram abaixo, o mundo do escândalo destruiu tudo. Não sobrou cientistas, médiuns e nem Houdini.
Mas ironicamente, após a morte de Houdini de peritonite, aos 52 anos, sua esposa Bess começou a organizar sessões de espiritismo em todas as noites de Halloween - o aniversário de falecimento do mágico, em que instava os médiuns a revelar o código secreto que havia tratado com seu marido. O código era "Rosabelle believe", em alusão a uma canção. Só Arthur Ford, conseguiu dizer o código. Após outra longa batalha de dez anos na imprensa entre espíritas e cientistas... chegaram a um empate técnico. Cada lado disse que venceu.

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