Acanhado, ele criou o instrumento símbolo do médico
Quem usa batina é padre. Farda, só para militares. A toga é a veste típica dos juízes. E o jaleco? Ao contrário do que podem pensar, não é vestimenta simbólica dos médicos, pertence a todos que trabalham com o sistema de saúde. Desde o encarregado do descarte de material contaminado até enfermeiros e médicos. O “esteto” se tornou um símbolo do médico, usado em volta do pescoço ou enfiado no bolso do jaleco, é o “cetro” para o jovem estudante de medicina que o entroniza perante os pacientes e garante que seja chamado de “doutor”. Como surgiu esse fundamental aparelhinho?
Um homem austero.
Quem conhece Paris talvez tenha passado em frente do Hospital Necker, um dos mais famosos da capital francesa. Lá, há uma placa de mármore bem modesta que não chama a atenção à primeira vista. Nela se lê: “Neste hospital, Laennec descobriu a auscultação”. Acima da placa, está esculpido o perfil de um homem austero. A sobriedade, com certeza, agradaria o homenageado. Magro, sempre desleixado, cabelos revoltos, nariz fino e pontudo, lábios quase ausentes, Laennec era tido como um quase asceta. Ainda assim, todo mundo reconhecia seu rigor e os conhecimentos científicos.
Uma mulher muito “roliça”.
Os textos das época, considerados provavelmente desrespeitosos atualmente, nos contam que certo dia Laennec não conseguiu dormir e estava exasperado por causa de uma mulher “roliça”. Não conseguira chegar a um diagnóstico para os acessos de tosse que pareciam sufocá-la. Ele a tinha examinado meticulosamente e também tentara auscultar seu coração, colocando a orelha sobre seu peito, como mandava o costume. Mas, por causa da espessura das várias camadas de roupa que ela usava, ou da abundância de seu busto, ele não conseguiu ouvir nada. Tinha um puritanismo de padre, despir a dama estava fora de questão . Ia contra a moral e, pudico de carteirinha, isso sequer lhe passava na cabeça. Mas foi por causa dela que Laennec teve uma ideia.
Telefone sem fio das crianças.
Lembrou-se de uma brincadeira de criança que fazia quando era pequeno. Um dos meninos raspava a extremidade de uma coluna com a ponta de um canivete; na outra extremidade, com o ouvido colado na coluna, seus colegas absorviam os sons, acotovelando-se para ouvir, às gargalhadas, os sons magicamente transmitidos.
Páginas de um caderno.
Apressado, Laennec queria testar a ideia. Arrancou as paginas de um caderno que uma freira tinha à mão e as enrolou em um cone. Em seguida, posicionou uma das extremidades em cima do peito de sua avantajada paciente e colocou a orelha na outra extremidade. E então - que milagre! Conseguiu ouvir os ruídos de seu coração. Naquele dia, Laennec inventou o principio do estetoscópio.
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