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Arquitetura

Aos 99 anos, Renato não deixa a mansão que construiu para viver com os filhos

Casa moderna para a década de 60, foi projetada por arquiteto famoso e hospedou presidente na Rua 15 de Novembro

Thailla Torres | 24/04/2017 06:05
Casa foi construída em 1969 para ser morada do agrônomo e pecuarista Renato Alves Ribeiro. (Foto: Marcos Ermínio)
Casa foi construída em 1969 para ser morada do agrônomo e pecuarista Renato Alves Ribeiro. (Foto: Marcos Ermínio)

Apesar da pintura desgastada da fachada, a casa enorme na Rua 15 de Novembro chama atenção no Centro de Campo Grande. Teve gente que já achou que fosse prédio comercial. Por isso, para romper com às dúvidas, o Lado B resolveu bater à porta. Fomos recebidos pela história de seu Renato Alves Ribeiro, de 99 anos, que não abre mão do endereço.

Engenheiro agrônomo e pecuarista famoso em Mato Grosso do Sul, Renato é dono de uma das fazendas históricas na região do Pantanal, com mais de 170 anos, que já virou tema do livro "Taboco - 150 anos: balaio de recordações", publicado em 2010 e escrito por ele.

Em Campo Grande, decidiu construir a mansão para viver eternamente ao lado dos filhos e depois dos netos. A residência com mais de 2 mil metros quadrados tem três andares e 25 cômodos, distribuídos entre suítes, banheiros, sala de estar, jantar, TV, cozinha e área de serviço, além do salão de festas, piscina e área de churrasqueira.

Renato está com 99 anos e apesar dos sinais de esquecimento, parece ter saúde de menino. (Foto: Marcos Ermínio)
Renato está com 99 anos e apesar dos sinais de esquecimento, parece ter saúde de menino. (Foto: Marcos Ermínio)

A casa foi erguida em 1969 e o projeto moderno para a época é assinado pelo arquiteto Marcello Accioly Fragelli. O mesmo que projetou em 1968 a linha norte-sul do metrô de São Paulo, a primeira do Brasil.

A ligação com o arquiteto existia porque a irmã de Renato era casada com o José Manuel Fontanillas Fragelli, ex-governador de Mato Grosso na década de 1970 e presidente do Senado no período de 1985 a 1987.

Quem recorda todas as histórias que envolvem a residência é o neto do pecuarista, André Ribeiro Correa, de 47 anos, que hoje administra os negócios do avô ao lado dos irmãos.

No térreo, sala foi espaço para grandes festas de família e até casamentos. (Foto: Marcos Ermínio)
No térreo, sala foi espaço para grandes festas de família e até casamentos. (Foto: Marcos Ermínio)
Sala de estar no primeiro andar com móveis de luxo e obras de arte. (Foto: Marcos Ermínio)
Sala de estar no primeiro andar com móveis de luxo e obras de arte. (Foto: Marcos Ermínio)

“Meu avô decidiu construir porque queria os filhos sempre por perto. Um tio não quis morar e só minha mãe viveu aqui até falecer. Por isso, a casa tem um elevador que vai até o terceiro andar, o último que não terminou de ser construído por conta disso, mas tem estrutura para receber mais um”, explica André.

Quando Renato quis construir, havia também um terreno na Avenida Afonso Pena, mas por escolha do arquiteto a casa foi projetada na rua 15 de Novembro. “Ele disse que não era para construir por conta do barulho. Que com o tempo ninguém aguentaria. Aqui na rua não tinha nenhuma casa, era só terra e mato. Hoje, meu avô não se arrepende, ele prefere a 15 de Novembro”.

A casa é decorada por todos os cantos, com mobiliários antigos e sofisticados, a maioria das peças é das décadas de 1960 e 1970. Já os móveis de madeira de todos os cômodos da casa foram produzidos na marcenaria da fazenda da família.

Parede de vidro na parte térrea da residência. (Foto: Marcos Ermíni)
Parede de vidro na parte térrea da residência. (Foto: Marcos Ermíni)
Do lado de fora, o Jardim traz toda beleza à casa. (Foto: Marcos Ermínio)
Do lado de fora, o Jardim traz toda beleza à casa. (Foto: Marcos Ermínio)

“Minha avó Rosa Maria Ribeiro Corrêa gostava de coisa boa. Ela viajava muito e comprava de tudo. Naquela época, fazenda dava mais dinheiro, então ela gostava de comprar e adorava obra de arte”, lembra o neto.

Curiosidade - A casa também serviu de embaixada por um dia, durante uma visita do ditador Alfredo Stroessner Matiauda, que foi presidente do Paraguai no período de 1954 a 1989. “Ele esteve em Campo Grande para assinar a construção da usina hidrelétrica de Itaipu com o presidente Ernesto Geisel”, lembra o neto.

O encontro entre os presidentes foi no Rádio Clube e por conta da ligação da família com a política na época, Alfredo ficou hospedado na casa de Renato por um dia. “O presidente dormiu aqui e essa casa ficou rodeada pelo exército paraguaio”, diz André.

O prédio já foi cenário para grandes festas e até casamento dos netos. Hoje, só quatro pessoas vivem na residência. Os netos fazem questão de visitar o avô quase todos os dias, mas o restante da família já frequenta bem pouco a residência.

“Era muita bagunça, a gente se divertia muito por aqui. Na infância, pulávamos do segundo andar até a piscina. Meu avô era muito festeiro, gostava de reunir os amigos e a família”, recorda André.

Detalhes do banheiro. (Foto: Marcos Ermínio)
Detalhes do banheiro. (Foto: Marcos Ermínio)
Sala de jantar em um dos andares. (Foto: Marcos Ermínio)
Sala de jantar em um dos andares. (Foto: Marcos Ermínio)

Enquanto caminhamos pela casa, seu Renato está concentrado em seu escritório, lendo o jornal. Nas paredes estão as fotos de família e o mapa da fazenda feito a mão em 1827.

Por conta da idade, ele já vem dando sinais de esquecimento e tem dificuldades para escutar. Mas responde as palavras e compreende quando questionado sobre a história dele. “Tenho muito orgulho de toda minha vida”, resume. “Tudo que eu tenho é orgulho da minha vida, não tenho segredos”, reforça.

Apesar de lhe faltar uma palavra ou outra, Renato não tem problemas de saúde e não toma medicamentos. Até parece ter saúde de menino. “Ele não fica parado dentro de casa de jeito nenhum. Todo dia sai de carro, gosta de tomar uma água de coco e relaxar, acho que é isso que o mantém vivo”.

Apesar da falta dos filhos e netos pela casa, nada tira da cabeça de Renato a ideia de viver ali para sempre. “Ele já afirmou para gente que só sai daqui quando morrer”, conta.

Apesar de ter se aposentado aos 90 anos, nem de longe ele esquece do trabalho. Sempre pergunta aos netos como estão os negócios da família e, principalmente, sobre a fazenda, o bem mais precioso dos Alves Ribeiro Corrêa.

Conhece alguma residência histórica em Campo Grande? Mande sugestão no Facebook do Lado B. 

(Foto: Marcos Ermínio)
(Foto: Marcos Ermínio)
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