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Arquitetura

Em festival, arquiteto mostra o valor do complexo ferroviário para cidade

Caminhada no Campão Cultural destacou a beleza e importância histórica da região que é a 'casa' do festival

Evelise Couto | 10/10/2022 07:27
Na manhã deste domingo (10), João Santos realizou essa andança com moradores e participantes do festival. (Foto: Eduardo Medeiros)
Na manhã deste domingo (10), João Santos realizou essa andança com moradores e participantes do festival. (Foto: Eduardo Medeiros)

Uma das melhores maneiras de conhecer uma cidade e seus detalhes é andar a pé. Por isso, o Campão a Pé, projeto do historiador e arquiteto João Santos chegou ao Campão Cultural como forma de mostrar o valor do Complexo Ferroviário para a cidade.

Na manhã deste domingo (10), João realizou essa andança com moradores e participantes do festival. A proposta foi conhecer a fundo o Complexo Ferroviário, um local de grande valor histórico e arquitetônico e que faz parte do dia a dia campo-grandense.

João apresentou a região comparando-a a uma pequena cidade, com seus estratos sociais e também com toda a estrutura que os trabalhadores da ferrovia necessitavam.

Pelos caminhos da história 

O ponto de partida da caminhada foi o Monumento Maria Fumaça, que é uma homenagem ao Complexo Ferroviário, o grande motivo do passeio. Ele compreende o espaço de 22 hectares, 135 imóveis, além dos diversos trilhos, viadutos e bens móveis e imóveis que o compõem.

A primeira parada foi em uma casa localizada na Orla Ferroviária, logo atrás da Maria Fumaça. Ela foi a primeira construção de alvenaria do complexo e hoje encontra-se inteiramente conservada. É possível observar que em sua estrutura foram utilizados até mesmo os próprios trilhos.

Logo depois, atravessando a avenida Mato Grosso, o grupo chegou a um dos prédios mais icônicos da Esplanada Ferroviária: a casa do Engenheiro-Chefe. Construída na década de 1930, hoje ela é utilizada ocasionalmente como Gabinete da Prefeitura Municipal de Campo Grande.

O relógio – um dos poucos da cidade, em 1914 – marcava as horas para quem chegava ou partia. (Foto: Eduardo Medeiros)
O relógio – um dos poucos da cidade, em 1914 – marcava as horas para quem chegava ou partia. (Foto: Eduardo Medeiros)

A estação em si é uma construção digna de atenção, composta por um pavilhão central e duas alas laterais. Em sua fachada, o relógio – um dos poucos da cidade, em 1914 – marcava as horas para quem chegava ou partia. Hoje, o salão que acompanhou tantas idas e vindas, é a sede da AFAPEDI – Associação dos Ferroviários, Aposentados, Pensionistas, Demitidos e Idosos. As alas laterais também foram ressignificadas, o antigo armazém de mercadorias, tornou-se o Armazém Cultural e a estação também dá lugar a um ponto de cultura, com a Casa de Vidro e seu espaço externo.

A caminhada então chegou às ruas perpendiculares à Estação: a rua Doutor Temístocles e a General Mello. “Aqui viviam funcionários intermediários, por isso temos casas menos generosas, menos ornamentadas, mas ainda com detalhes lindíssimos como os ladrilhos hidráulicos”, apontou o professor. No caminho, o grupo passou ainda pela antiga sede administrativa da Noroeste do Brasil, onde hoje se encontra a sede do IPHAN, que está sendo restaurada, e a antiga escola dos filhos dos ferroviários, que hoje abriga a sede do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/MS).

A próxima parada foi a rua Doutor Ferreira, a conhecida vila de casas geminadas, onde viviam os funcionários que trabalhavam pegando no pesado na estação. O professor apontou que as casas não têm recuo frontal como as anteriores e, as que mantiveram suas características originais, têm tijolos aparentes e poucos elementos decorativos, dando um ar de vila operária.

João mostrando detalhes do complexo. (Foto: Eduardo Medeiros)
João mostrando detalhes do complexo. (Foto: Eduardo Medeiros)

Após finalizar a simpática rua de paralelepípedos, o professor guiou o grupo pela rua 14 de Julho até chegarem ao Complexo da Rotunda, o ponto alto do conjunto ferroviário. Sua instalação, no início da década de 1940, foi muito esperada, pois ela dinamizaria o serviço da Noroeste do Brasil. Antes disso, as locomotivas precisavam ir até Bauru para que fossem realizadas manutenções. Com a construção do complexo, que conta com a Rotunda, um Girador (que direcionava as máquinas para as baias de conserto) e um abrigo de locomotivas, isso não seria mais necessário.

“A beleza dele está em sua brutalidade e monumentalidade. Hoje existem apenas três rotundas tombadas em todo o Brasil: a de São João Del-Rey, em Minas Gerais, a de Porto Velho, em Rondônia e a nossa, em Campo Grande”, destacou João. No entanto, apesar da grandiosidade desse conjunto, ele encontra-se atualmente abandonado e em estado de degradação. Os visitantes se encantaram com a beleza do local que está em ruínas, tiraram fotos e muitos refletiram sobre a necessidade de um projeto para que o local seja recuperado e conservado.

Após cerca de duas horas e meia de caminhada, o tour chegou ao final, ao lado da Maria Fumaça, em frente ao Ateliê 118, um espaço de cultura urbana que ocupou uma das casas de antigos ferroviários.

O ponto de partida da caminhada foi o Monumento Maria Fumaça. (Foto: Eduardo Medeiros)
O ponto de partida da caminhada foi o Monumento Maria Fumaça. (Foto: Eduardo Medeiros)

Para João, poder oferecer atividades como o Campão a Pé é fundamental para a cidade e seus moradores. “Tenho certeza que quem participou vai multiplicar a experiência que teve com outras pessoas, contando que viveu uma ação que quer reconhecer e reviver espaços e memórias ligados  a nossa história, cultura, economia e aos nossos problemas sociais e econômicos”, explicou.

Ele pontuou ainda que o projeto é uma forma de sensibilizar que temos espaços locais belíssimos com poucos investimentos e problemas sociais para serem enfrentados. “Além de um passeio é uma beliscada! É um lembrete de que tudo isso aqui é nosso e que precisamos acordar para isso”, finalizou.

Quem perdeu essa edição da Oficina Campão a Pé, deve ficar ligado. A próxima acontece na manhã do próximo sábado (15) e percorrerá o centro de Campo Grande. A saída é em frente ao Sesc Cultura, na avenida Afonso Pena, às 8 horas da manhã.

A programação completa do Campão Cultural pode ser conferida aqui. 

O professor guiou o grupo pela rua 14 de Julho até chegarem ao Complexo da Rotunda, o ponto alto do conjunto ferroviário. (Foto: Eduardo Medeiros)
O professor guiou o grupo pela rua 14 de Julho até chegarem ao Complexo da Rotunda, o ponto alto do conjunto ferroviário. (Foto: Eduardo Medeiros)

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