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Arquitetura

No Carandá, casa de psiquiatra foi construída com ideia de paciente

Paula Maciulevicius | 13/05/2014 07:00
Na rua Miraflores, o projeto de uma casa para escorrer neve tem quase 30 anos. (Fotos: Cleber Gellio)
Na rua Miraflores, o projeto de uma casa para escorrer neve tem quase 30 anos. (Fotos: Cleber Gellio)

Quem costuma andar pelos altos da avenida Mato Grosso, em direção ao Parque dos Poderes, com certeza já viu uma casa de arquitetura moderna, de telhado arredondado, em forma de abóbada, com teto côncavo e, num palavreado bem simples, como um “u” de cabeça para baixo. A entrada em si não está na avenida. Da via, só se vê o fundo do imóvel, livre ao olhar já que o terreno à frente não tem construção.

A fachada mesmo fica na rua Miraflores, no bairro Carandá Bosque, em Campo Grande. Um projeto de quase 30 anos que fora desenhado primeiro na cabeça de um engenheiro e depois pensado em voz alta em uma sessão de terapia, para o psiquiatra que veio de São Paulo, Ciro Macuco. O imóvel nasceu para abrigar o consultório e a casa. Ciro morava e trabalhava ali e as lembranças do consultório psiquiátrico continuam vivas pela casa, um divã preto que deve ter ouvido muita angústia de pacientes.

Na verdade tudo começou em uma das sessões de quatro anos de terapia. O engenheiro e paciente Paulo Roberto Pereira Arrieiro tinha à frente o dilema de viver com síndrome do pânico. Lá por volta do terceiro ano de tratamento, comentou sobre a vontade de construir uma casa em forma de abóboda, fruto da paixão que nutre pelas pontes.

Passado algum tempo, Ciro procurou Paulo e perguntou se poderia se apropriar da ideia. "Eu disse que sim, porque se eu fosse construir uma casa como aquela, teria que casar com ela. Ninguém ia querer comprar algo tão diferente", diz o engenheiro.

Paulo Roberto sempre foi dedicado às obras estruturais. Corre o Brasil com projetos de construção de pontes e silos. Mas como era um sonho também dele, também se prontificou a construir o imóvel, ao lado da arquiteta Clarisse Borges, à época namorada de Ciro Macuco. A obra durou 8 meses.

Nos detalhes, casa tem formato arredondado pela cobertura e janelas por toda parede.
Nos detalhes, casa tem formato arredondado pela cobertura e janelas por toda parede.

Aos olhos de quem não entende, mas admira, fica a observação de como seria sustentada uma casa daquele formato, com cerca de 100 metros quadrados. Para complicar, o psiquiatra também tinha uma outra condição, além do traçado diferente. "Ele não queria gastar muito", comenta Paulo que guarda até hoje as fotos do andamento do trabalho.

Além do espaço térreo, completamente aberto, há um andar superior, ligado por uma escada de ferro, com três quartos e o banheiro de cima. Um para si e os outros para os filhos dividirem.

Manta asfáltica revestida é o que contorna toda a cobertura.
Manta asfáltica revestida é o que contorna toda a cobertura.

Casa alta, em cores neutras. Duas portas, duas entradas. Ora girava a maçaneta o profissional, ora o pessoal.

Apesar de ser exatamente junto, o consultório ficava na porta à esquerda. O espaço vinha acompanhado de um pequeno banheiro e uma recepção. Do outro lado começava a sala, enorme, por sinal, que abrigou até uma lareira. O jardim que um dia fora verde ainda exibe um Ipê amarelo que floresce a cada chegada da época.

Por fora, o telhado é coberto por manta asfáltica, que junto do formato, caracteriza o estilo para países onde a neve cai sem cessar. Sem neve em Campo Grande, nem hoje, e nem há três décadas, a arquitetura refletia as observações e viagens do médico. 

O dono morreu há sete anos, desde então o que era casa e consultório passou a ser o escritório de advocacia do filho.

Frente da casa, na rua Miraflores.
Frente da casa, na rua Miraflores.
Fundo da casa, visto da avenida Mato Grosso.
Fundo da casa, visto da avenida Mato Grosso.
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