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Artes

Com 69 obras, exposição virtual de movimento artístico oitentista está aberta

Mostra é composta de 69 obras, das décadas de 1980 e 1990, que fazem parte de acervos públicos e particulares

Thailla Torres | 24/08/2021 06:25
Artista visual Miska Thomé gravando depoimento para o projeto.
Artista visual Miska Thomé gravando depoimento para o projeto.

Importante movimento artístico-cultural, a Unidade Guaicuru ganhou uma nova mostra, a primeira virtual, desde o último sábado (21), por meio do projeto Unidade Guaicuru Viva. A exposição é permanente e pode ser acessada pelo site. Ela é composta de 69 obras, das décadas de 1980 e 1990, que fazem parte de acervos públicos e particulares.

Encabeçado por Henrique Spengler, Unidade Guaicuru foi um movimento que buscava a identidade sul-mato-grossense no início dos anos 1980 e estendeu suas atividades até o início dos anos 2000. Ele e outros expoentes do campo cultural encontraram essa identidade na história dos povos originários que viviam na região, os guaicurus, daí o nome do movimento.

“Nessas obras, eles tratam de questões indígenas, preservação da natureza, denunciam a caça às onças e jacarés para exportação de couro, assuntos que tinham a ver com questões da época e que são relevantes até hoje, nos âmbitos social, político e artístico. O regionalismo, com raras exceções, se tornou uma reinterpretação do Pantanal, uma alusão ao Pantanal bucólico. Com seus trabalhos, conseguiam falar sobre nossa fauna, flora, história, raízes indígenas e tecer críticas também”, afirma a idealizadora do projeto, Caroline Garcia.

O interesse de realizar a pesquisa sobre o assunto e montar a exposição virtual, veio a partir de sua curiosidade por este momento histórico. “Existem várias histórias diferentes sobre o movimento Unidade Guaicuru, foram tantos artistas emblemáticos que fizeram parte... Temos a curiosidade de saber quem eram eles, o que os motivava e cada vez mais, fui me deparando com a grandiosidade deste movimento, não só para a arte, mas também para a política cultural, era um potente ativismo”, reflete Caroline.

Paulo Paes, professor do curso de Artes Visuais da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), pesquisador de arte contemporânea e autor do texto de apresentação da exposição digital Unidade Guaicuru Viva, afirma que os movimentos de arte modernistas de países da América Latina têm essa característica de retorno às raízes indígenas.

“Era um momento em que o Estado precisava de uma identidade e o Henrique já era próximo da cultura indígena desde a adolescência. Esse movimento reverbera em toda a cultura e tem a importância histórica da valorização da cultura indígena, na terra do boi e da bala”, ressalta.

A partir de então, a classe começa a ter mais contato com a iconografia Kadiwéu, últimos remanescentes dos guaicuru. Ela é identificada pela abstração geométrica, utilização de cores, pintura do couro, entre outras singularidades. “Essa iconografia é muito avançada em relação a outras etnias e havia um registro sistemático dela em livro, uma base visual, já que na época, era difícil o acesso a estes trabalhos a não ser pela oralidade, não havia internet”, explica Paulo.

No entanto, a Unidade Guaicuru não se limitou ao campo das artes visuais. No Casarão da família do artista Henrique Spengler, local que serviu como sede para o movimento situado na Avenida Calógeras, artistas das mais diversas áreas se reuniam e até produziam.

“Esse casarão era um local com grande efervescência cultural. Eu, que na época estava como presidente do cineclube Campo Grande, exibia filmes no salão da frente, a Cristina Mato Grosso ensaiava com seu grupo de teatro nos fundos e outros diversos artistas passavam por lá. Muito do movimento surgiu ali, era um espaço vivo”, conta o professor.

Na exposição virtual, parte dessa história será retratada por meio das obras, entrevistas exclusivas com artistas que vivenciaram o movimento, documentos históricos, reportagens de jornais, entre outros materiais.

“Projetos de memória não são simplesmente por saudosismo. Toda vez que mergulhamos na história fortalecemos nossa identidade, refletimos a respeito, valorizamos o que é nosso e contribuímos com as novas gerações. Além disso, temos que mostrar a importância da arte e da cultura na vida das pessoas e no desenvolvimento de território, e que os artistas têm a prática da coletividade, da união, de questionar e apontar caminhos mais humanistas para sociedade”, pontua Caroline.

Este projeto foi contemplado com recursos da Lei Aldir Blanc, através do edital Morena Cultura e Cidadania, promovido pela Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo), por meio da Prefeitura Municipal de Campo Grande.

Homenagem - O artista visual Jonir Figueiredo fez a curadoria de 16 mostras organizadas pela Unidade Guaiguru. Integrante do movimento desde seu início, Jonir retorna para a curadoria dessa nova exposição com obras desses artistas. Ele selecionou 69 obras para serem expostas no site e escolheu o artista Clóvis Irigaray – que veio a falecer em abril deste ano – como grande homenageado, além do líder do movimento, Henrique Spengler – morto em 2003.

“Fiz homenagem, além do Henrique, para o Clóvis que é reconhecidamente um dos maiores pintores do Brasil. Ele é precursor dessa preocupação com a temática indígena, o trabalho dele é inquestionável. Ele começou a pintar aqui em Campo Grande, antes de ir para Cuiabá após a divisão do Estado”, explica Jonir.

Adilson Schieffer, Cleir, Mary Slessor, Ilca Galvão, Miska Thomé, Isaac de Oliveira entre diversos outros artistas também terão suas obras expostas e o site será um espaço em constante atualização.

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