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Artes

Esposa reabre galeria e quer museu para eternizar obras deixadas por Isaac

À mostra na Galeria Isaac de Oliveira está uma das últimas obras que o artista estava finalizando antes de falecer

Alana Portela | 04/11/2019 08:00
Selma Rodrigues, mais conhecida como Secéu, mostra um dos quadros inacabados feito pelo marido (Foto: Marcos Maluf)
Selma Rodrigues, mais conhecida como Secéu, mostra um dos quadros inacabados feito pelo marido (Foto: Marcos Maluf)

A Galeria Isaac de Oliveira reabre hoje, às 14h, no Carandá Bosque, desta vez, sem a presença física do dono. O local estava fechado desde o falecimento do artista plástico, no dia 23 de setembro e volta a funcionar como espaço ainda mais importante. Agora, Selma Rodrigues quer montar um museu para eternizar as obras deixadas pelo marido. “É o trabalho de uma vida inteira e encanta crianças e adultos”, justifica. 

Secéu abriu as portas e recebeu o Lado B para falar dos 36 anos que acompanhou o trabalho do esposo, desde que conheceu Isaac durante um estágio da faculdade, em 1984. Na época, era estudante de Artes Plásticas na UFMS. O casamento veio logo no segundo mês de namoro e os dois viraram companheiros no amor e na profissão.

Os ipês amarelo, rosa, roxo e branco que são marcas do artista. (Foto: Marcos Maluf)
Os ipês amarelo, rosa, roxo e branco que são marcas do artista. (Foto: Marcos Maluf)

A esposa conta como foram os últimos três anos de Isaac após descobrir um câncer de pulmão. “Continuou pintando, mas levava cerca de cinco a dez dias para terminar uma tela, dependia de como estava. Quando fazia quimioterapia ficava de três a cinco dias mal, enjoado. Depois que passava, voltava ao normal, pintava, andava, dirigia. Nunca pensou em abandonar a carreira e tínhamos certeza que ia sair dessa”.

Em setembro deste ano, o casal esteve em São Paulo, onde Isaac participou do projeto “Jaguar Parade SP 2019”, com 49 onças pintadas por artistas plásticos do País. É o evento de arte urbana que tem o objetivo de chamar atenção das pessoas para a necessidade de preservação da biodiversidade. Várias artistas do Brasil participaram do processo, no qual o sul-mato-grossense foi um dos escolhidos.

“Mesmo selecionado ele precisava de um patrocinador, e conseguiu. A obra dele está na Avenida Paulista. Ficamos oito dias por lá enquanto ele trabalhava e voltamos numa segunda-feira. Lembro que na terça o Isaac fez exames de sangue para fazer a quimio na quarta. Depois que recebeu a sessão ficou mal, mas no domingo já estava melhor”, recorda a esposa.

Parecia que tudo estava voltando ao normal e Isaac e Secéu iam conversar com a médica para interromper a quimioterapia em março de 2020, pois queriam viajar para Portugal. Estava tudo indo como planejado, porém, no dia 23 de setembro, ao levantar-se para ir ao banheiro passou mal.

“Saiu andando de casa, sem sentir dor. Chegamos ao local às 6h10 e quando deu 6h28 o Isaac faleceu. Os médicos disseram que um vaso do pulmão se rompeu e deu hemorragia”, lembra. 

Pinceis e bisnagas de tintas estão guardados na galeria (Foto: Marcos Maluf)
Pinceis e bisnagas de tintas estão guardados na galeria (Foto: Marcos Maluf)

Falsificações - Isaac ficou famoso por retratar com cores vibrantes as belezas do Estado. No colorido das aves, das flores e das árvores, ele encontrou o caminho da arte. O primeiro quadro com um ipê é guardado por Secéu como relíquia. “Também tenho a primeira tela com pássaros, logo que começou a aplicar os movimentos de ondulações em seus traços”.

As obras de Isaac são valiosas, mas prejudicadas pela falsificação. “Ficamos preocupados com essa situação. Soube através de um amigo apreciador das artes, que uma mulher estava vendendo tudo que tinha na casa, inclusive um quadro do Isaac. Pediu o valor de R$ 2 mil por uma tela de ipê 1,5 x 2, sendo que a obra vale mais”.

O caso aconteceu em julho deste ano e foi registrado pelo Lado B. “Depois que saiu a matéria anunciando a venda, esse amigo ligou pra ela e questionou. A mulher respondeu que a tela não tinha assinatura. Foi então que ele me ligou informando. A pessoa disse que era apenas uma pintura baseada na obra do Isaac, mas não tinha nada a ver com o jeito dele pintar”.

Outra situação de possível falsificação das obras do marido que ficou sabendo aconteceu em Bonito. “Um cara vendeu quadrinhos de ipê 40 x 40 para uma amiga dizendo que era do Isaac. Falei que ele não pintava assim, o menor trabalho que fazia era 1 x 1. Me disse que o quadro que comprou era igual aos do meu marido. Ficamos mais preocupados ainda”.

Secéu levou a mesa onde o marido pintava para a galeria (Foto: Marcos Maluf)
Secéu levou a mesa onde o marido pintava para a galeria (Foto: Marcos Maluf)

Inacabados - Preocupada com a saúde, o casal não seguiu com procedimentos para encontrar os falsificadores. Para Isaac, a prioridade no tempo que estava bem era continuar pintando. No seu ateliê, deixou oito obras inacabadas. Uma arara parada no tempo está a mostra na galeria. “Ele pintava vários fundos e ia colocando uma tela ao lado da outra. A que ficava na ponta era a que ele pintava, e acho que esse seria o quadro da vez para ser concluído”, diz Secéu.

Ela desmontou o ateliê de Isaac e levou a mesa onde ele pintava para decorar a galeria. “Já tinha essa mesa há oito anos. Os pincéis, as telas e os outros materiais que usava pra trabalhar quero deixar para colocar tudo nesse museu, se der certo”, finaliza. O que falta agora para transformar o lugar em um tributo à história do artista é patrocinadores.

Enquanto o museu não se viabiliza, a Galeria funciona na Avenida Antônio Teodorowich, n°125, Carandá Bosque. O funcionamento será de segunda a sexta, das 14h às 20h, e aos sábados das 9h às 13h.

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