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Comportamento

Da Copa do Mundo à literatura, a coragem e a beleza dos homens da África

Andrea Bruneto | 29/06/2014 07:34
Albert Camus, o ex-goleiro que virou escritor..
Albert Camus, o ex-goleiro que virou escritor..

Hoje queria falar de um famoso jogador argelino. Não, não é Zinedine Zidane, porque este nasceu em território francês, embora de família argelina. Esse do qual vou falar era goleiro, jogou na liga universitária, teve que abandonar o futebol por causa de uma tuberculose, mas continuou amando esse esporte até morrer.

Escrevo este texto inspirada pelo jogo da Argélia na Copa do Mundo. Com quatro gols, os argelinos fizeram a festa no estádio em Porto Alegre e lembrei-me desse que foi um dos mais famosos nomes da Argélia, e que também foi jogador.

Foi um homem muito inteligente, um grande escritor, politizado, participou da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial, Prêmio Nobel da Literatura de 1957. Um homem lindo, do Norte da África, que encantou as mulheres: Albert Camus.

Tentou se alistar por duas vezes, nas batalhas de Argel e na Segunda Guerra, mas foi recusado por causa de uma tuberculose da qual nunca se curou inteiramente. Por que, mesmo com a tuberculose, quis ir à guerra? Explica: “Uma vez instalada a guerra, é vã e covarde a posição de se distanciar sob o pretexto de que não se é responsável”. Ele não disse que estava criticando a posição teórica existencialista de Jean-Paul Sartre, mas o próprio vestiu a carapuça, pois vivia dizendo que não estava implicado com aquela guerra. Seus vizinhos e amigos indo para os Campos de Concentração e ele dizendo que um homem poderia ficar livre mesmo entre quatro paredes.

Cada vez que leio biografias sobre Sartre e Simone de Beauvoir, e de outras pessoas contando as histórias que viveram com eles – como o depoimento de Claude Lanzmann, em A Lebre da Patagônia – mais sinto desprezo pela empáfia de Sartre, por seu sentimento de superioridade intelectual.

Enquanto Albert Camus estava trabalhando na Resistência Francesa, movimento contra os nazistas que entraram na França, Sartre estava lá, filosofando nos cafés parisienses sobre a liberdade do homem. Camus, um estrangeiro na França, empenhado para que o outro pudesse ter a liberdade que acreditava que era a essência do humano.

Mas Sartre tinha inveja da beleza de Albert Camus. Dizia que Camus não tinha consciência do quanto era bonito, que ele Sartre precisava muita erudição, muita conversa inteligente para conquistar uma mulher, que pelo físico dele não conquistava nenhuma. Albert Camus chegava e todas as mulheres olhavam para ele. Além de tudo, o feioso, era um invejoso.

Esse homem bonitão que era Albert Camus foi um dos melhores escritores que já existiram. Não vou comentar aqui sobre os livros dele, só sugiro que vocês leiam. E olhem bem a foto dele para ver se concordam comigo, e com Sartre, que ele era um homem muito bonito.

É muito grande a sensibilidade e o amor que tem ao falar de sua gente e de seu país. Ao falar de suas paisagens, do céu azul sobre o mar azul de Argel, dos cantos estridentes das cigarras, nos ciprestes das colinas. As colinas acima de Mers-el-kébir eram a paisagem perfeita para ele. “A estrada no sopé da encosta domina o mar. Transitável, mas abandonada. Ela está agora coberta de flores. Margaridas e botões dourados fazem dela uma estrada amarela e branca”. São exemplos das descrições das paisagens de sua terra. Torci muito para que a Argélia de Albert Camus ganhasse o jogo.

Camus foi para Paris, viveu muitos anos lá e na França morreu. Morreu jovem.

E saindo do futebol e da literatura, poderia também lembrar que a maior personalidade do Século XX também é africana: Nelson Mandela.

Nelson Mandela e Albert Camus, dois grandes homens do século passado, dois africanos. Por que os homens da África são tão especiais assim? Por serem forjados na dificuldade, no calor da pobreza e da opressão, do deserto e também da fertilidade desse continente mãe de todos os demais? Inclusive no futebol, porque o que seriam das equipes europeias sem os jogadores africanos? Mas também superior na natureza, na fibra de sua gente, nas suas paisagens.

E termino com uma brincadeira, na falta de um final melhor: Mama África é mãe solteira, canta Chico César. Com esses homens que a África tem, só se quiser.

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