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Comportamento

De volta à terra dos bisavós, Marcel fez irmãos e viveu Okinawa de perto

Descendentes de okinawanos, ele passou 10 dias no país onde viveu do tradicional ao moderno que a ilha oferece

Por Jéssica Fernandes | 24/07/2025 07:13
De volta à terra dos bisavós, Marcel fez irmãos e viveu Okinawa de perto
Em Okinawa, Marcel aprendeu a confeccionar Kubagasa, chapéu icônico do país. (Foto: Arquivo pessoal)

Em 10 dias, Marcel Arakaki Asato esteve na terra dos bisavós, em Okinawa, no Japão. Descendente de okinawanos, ele viveu as descobertas de quem cresceu cercado pela cultura dos antepassados e decidiu, aos 35 anos, ir pela primeira vez ao lugar de que tanto ouviu falar nas histórias e músicas da infância.

RESUMO

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Marcel Arakaki Asato, descendente de okinawanos, realizou sua primeira viagem à terra de seus bisavós em Okinawa, Japão. Aos 35 anos, ele descobriu contrastes entre a ilha imaginada e a real, encontrando uma Okinawa moderna e turística, diferente das histórias de sua infância. Durante os dez dias de viagem, Marcel visitou desde a capital Naha até a remota ilha de Iheya, onde participou de uma aula de confecção do chapéu tradicional kubagasa. Apesar de inicialmente se sentir um estranho, foi acolhido pela comunidade local, que mantém forte identidade cultural e se considera primeiramente okinawana, antes de japonesa.

A viagem foi um encontro com a história, um contraste entre a Okinawa imaginada e a real, permeada por sentimentos de pertencimento, mas não exatamente à ilha onde nasceram seus antepassados.

Entre templos, ruas modernas e praias de águas cristalinas, Marcel passou de um “estranho no ninho” para alguém que foi muito bem acolhido pelos seus “irmãos” okinawanos.

De volta à terra dos bisavós, Marcel fez irmãos e viveu Okinawa de perto
Marcel e o pai na companhia de amigos e funcionários da biblioteca de Okinawa. (Foto: Arquivo pessoal)

No Voz da Experiência de hoje, ele conta como foi estar e viver Okinawa.

"Esta é uma visão de um descendente de okinawanos que viajou para Okinawa como turista. Alguém que mora lá pode ter uma visão diferente.

Muitos descendentes de imigrantes têm o sonho de viajar para conhecer a terra de seus ancestrais. E comigo não foi diferente. Sendo descendente de okinawanos, eu queria muito conhecer a terra dos meus bisavós. Os descendentes de okinawanos, em especial, possuem uma ligação muito forte com a terra de origem dos antepassados, além do fato de Campo Grande ter uma das maiores comunidades de descendentes de okinawanos no mundo, fazendo com que a cultura esteja muito presente no dia a dia, tornando esse sentimento de conhecer essa terra ainda maior.

Foi a minha primeira vez lá. O meu encanto pela terra de origem dos meus bisavós vem desde criança, através das músicas e da história, além do que já fui presidente da Associação Okinawa de Campo Grande há 2 anos, já viajei para o Japão há 1 ano, mas apenas agora, aos 35 anos, tomei a iniciativa de viajar para lá. Talvez seja porque eu tinha um certo receio de algum tipo de frustração, pois sabia que a Okinawa de hoje não seria a Okinawa do meu imaginário.

De volta à terra dos bisavós, Marcel fez irmãos e viveu Okinawa de perto
Marcel e o pai em frente ao local de oração na vila de onde vieram seus bisavós paternos. (Foto: Arquivo pessoal)

Muitos descendentes dizem que, quando pisam em Okinawa, sentem-se como se estivessem retornando para casa. A minha primeira sensação não foi bem essa. Senti-me como um completo estranho no ninho, como se estivesse chegando em qualquer outra cidade que não a minha. Foi aí que percebi, mais fortemente ainda, que minha terra mesmo é Campo Grande. 

Mas foi ao longo dos dias, sendo recebidos calorosamente pelos amigos de lá (que já haviam visitado Campo Grande e nos receberam de braços abertos lá), que senti o Ichariba chodee (provérbio okinawano que significa “Encontrando-se, somos irmãos”). Além disso, era muito legal quando as pessoas descobriam que éramos brasileiros e ficavam felizes por isso, fazendo várias perguntas, já que muitos tiveram parentes que emigraram ao Brasil.

Não encontrei parentes lá. Aliás, já sabia que não iria encontrar, pois, após várias pesquisas, descobri que praticamente todos os parentes haviam emigrado para fora de Okinawa. Mas, mesmo assim, visitei as cidades de onde vieram, pude pisar na vila onde viviam, pude ver por fora a casa onde moraram e os tão importantes locais de oração. Isso tudo foi bastante especial.

De volta à terra dos bisavós, Marcel fez irmãos e viveu Okinawa de perto
Médico tocou sanshin junto com alguns dos amigos que fez. (Foto: Arquivo pessoal)(Foto: Arquivo pessoal)

Aqui em Campo Grande, ainda preservamos muito da cultura (músicas, danças, culinária, língua etc.) da época em que nossos bisavós vieram (começo do século XX). E Okinawa, é óbvio, mudou, se modernizou. Okinawa hoje é um grande destino turístico para os próprios japoneses e outros asiáticos. 

Nas ruas principais turísticas, ouve-se muito mandarim e coreano, além de percebermos a presença de muitos americanos, devido às bases militares em Okinawa. A capital, Naha, portanto, é uma cidade muito internacional. A cultura tradicional okinawana aparentemente voltou-se ao turismo. É possível ouvir as músicas tradicionais e ver danças nos restaurantes turísticos.

Ou seja, o turismo, de certa forma, parece permitir que essa cultura continue, apesar de, muitas vezes, de forma superficial. Foi interessante também perceber como algumas coisas, principalmente em relação à culinária, que se mantêm em Campo Grande, acabaram sumindo em Okinawa.

De volta à terra dos bisavós, Marcel fez irmãos e viveu Okinawa de perto
Ele em outro registro com amigos do Brasil, Okinawa e dos EUA. (Foto: Arquivo pessoal)

Na ilha principal de Okinawa, pudemos visitar museus e castelos, onde pude perceber o porquê de Okinawa ser tão singular, tão diferente do resto do Japão, já que era parte de um reino independente até 1879, desenvolvendo uma cultura e história únicas. E isso reflete até hoje: eles têm uma questão identitária bastante forte, se considerando primeiramente okinawanos, antes de japoneses.

Além disso, conseguimos compreender melhor os horrores da Batalha de Okinawa, uma das maiores da Segunda Guerra Mundial, onde morreram mais de 120 mil civis okinawanos, pegos no fogo cruzado entre americanos e japoneses. Uma história muito triste, que, infelizmente, é pouco lembrada nos livros de história. Muitos se lembram dos episódios das bombas de Hiroshima e Nagasaki, mas poucos se lembram da Batalha de Okinawa, tão devastadora quanto, ou até mais, para a população civil.

Um dos locais de que mais gostei em Okinawa foi uma ilha remota chamada Iheya. Essa ilha, com mar de águas azuis cristalinas e cerca de 1.200 habitantes, possui casas antigas e uma cultura tradicional mais preservada. Foi lá que eu mais me senti em Okinawa (do meu imaginário). A mais pura tranquilidade. Nos hospedamos em uma casa familiar e nos sentimos em casa, como se estivéssemos na casa de parentes. Foi muito interessante perceber como os nossos costumes se parecem. 

De volta à terra dos bisavós, Marcel fez irmãos e viveu Okinawa de perto
Campo-grandense tirou foto com shisa, estátuas comuns em Okinawa para proteção. (Foto: Arquivo pessoal)
De volta à terra dos bisavós, Marcel fez irmãos e viveu Okinawa de perto
Registro de uma das praias com águas cristalinas do país. (Foto: Arquivo pessoal)

Em Iheya, pude fazer uma aula de dois dias de confecção de kubagasa. Kubagasa é um chapéu cônico, em Okinawa tipicamente feito de uma folha chamada kuba (um tipo de planta cujas folhas lembram um leque). É um chapéu utilizado por agricultores e pescadores, além de ser usado em danças e apresentações musicais, embora hoje poucos artesãos o produzam. Foi uma experiência muito legal aprender desde a coleta do bambu e das folhas de kuba até a confecção do chapéu. Algo que quero tentar replicar em Campo Grande, adaptando os materiais com o que temos aqui".

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Médico participou de oficina de dois dias para aprender a fazer o kubagasa. (Foto: Arquivo pessoal)

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