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Comportamento

Francisco e Rafael venceram o medo e construíram família cheia de amor

Junto há 15 anos, casal de Campo Grande escolheu a adoção como caminho para o sonho da paternidade

Por Clayton Neves | 24/05/2025 07:21
Francisco e Rafael venceram o medo e construíram família cheia de amor
Rafael, Francisco e os filhos, João Marcos e Luiz Miguel. (Foto: Arquivo Pessoal)

Luiz Miguel tem 11 anos e adora brincar. João Marcos, o caçula, tem 6 e um sorriso fácil. Juntos, eles são os filhos de Francisco Matrone, de 46 anos, e Rafael Ortigoza, de 33. Uma família como tantas outras, cheia de histórias, desafios, birras, abraços e amor. Talvez não exista nenhuma diferença, ou, se houver, é o fato de que essa família nasceu do afeto, não do sangue, e isso a torna ainda mais especial.

Junto há 15 anos, o casal de Campo Grande escolheu a adoção como caminho para o sonho da paternidade. E a jornada não foi simples. Antes de tudo, eles precisaram vencer o obstáculo do medo, que muitas vezes assombra famílias como a deles. “Eu sempre quis ser pai, mas por conta da sexualidade, achava que nunca fosse possível”, conta Francisco, que é professor.

A virada veio quando ele descobriu que a legislação brasileira permite a adoção por casais homoafetivos. “Comecei a conversar com o Rafael, que no começo era mais resistente. Ele era mais novo, tinha medo de não dar conta”, relembra.

Francisco e Rafael venceram o medo e construíram família cheia de amor
Junta, família supera obstáculos com união e amor. (Foto: Arquivo Pessoal)

Aos poucos, o desejo virou plano. E o plano se transformou em projeto de vida. O casal passou a frequentar um Grupo de Apoio à Adoção, estudaram, participaram de rodas de conversa, ouviram outras famílias e foram se reconhecendo nesse novo papel de pais.

“Eu ficava martelando na cabeça que não daria conta, que era muita responsabilidade. Mas quando o Luiz Miguel chegou, eu entendi que eu conseguia. Que a gente dava conta, sim”, diz Rafael, que trabalha como supervisor de qualidade.

Luiz chegou primeiro, com quase dois anos. Foi uma revolução na rotina e nos sentimentos. “Eu estava tão focado em organizar tudo, que teve um momento que só fui perceber que não comia há três dias quando uma dor no estômago me alertou”, lembra Francisco.

Cinco anos depois, veio João Marcos, com apenas três meses. E, dessa vez, a segurança de quem já havia descoberto como é ser pai fez tudo fluir com mais leveza.

Francisco e Rafael venceram o medo e construíram família cheia de amor
Crianças viviam em abrigo e hoje levam vida feliz ao lado dos pais. (Foto: Arquivo Pessoal)

Amor que nasce do coração - O processo de adoção de ambos foi tranquilo, sem nenhum tipo de preconceito institucional. “A juíza que cuidou do nosso caso fez questão de perguntar, com a porta fechada, se em algum momento sentimos preconceito. Respondemos que fomos acolhidos o tempo todo’”, afirma Francisco.

E o acolhimento não veio só das instituições. “Nunca tivemos problema com os meninos sobre a questão da adoção. Sempre falamos que eles nasceram do nosso coração. Algumas pessoas subestimam a compreensão das crianças, mas elas entendem, sim”, detalha Rafael.

Desde pequenos, os filhos sabiam que eram adotivos. “Isso evita traumas. A criança precisa conhecer a própria história desde cedo. Esconder isso é negar quem ela é”, reforça Francisco.

Francisco e Rafael venceram o medo e construíram família cheia de amor
Luiz Miguel foi o primeiro a chegar na família. (Foto: Arquivo Pessoal)

Em meio à alegria de ver os meninos crescerem, agora, o maior sonho do casal é realizar os sonhos dos filhos. “Hoje, nossa meta é que eles cresçam como homens de bem, respeitosos, educados. Que tenham orgulho de quem são”, afirma Rafael.

Família é família. E ponto - A vida também ensinou o casal a lidar com comentários, nem sempre maldosos, mas muitas vezes carregados de preconceitos sutis. “Às vezes perguntam se são irmãos, querendo saber se são biológicos. Mas ninguém pergunta isso numa família tradicional. Por que com a gente seria diferente?”, questiona Francisco.

A resposta é sempre educada, mas firme. “São irmãos, sim. Porque família não se devolve, não se explica, não se divide em rótulos. Ela é o que é: amor”.

Francisco e Rafael venceram o medo e construíram família cheia de amor
Com a paternidade, Rafael e Francisco afirmam que a prioridade da vida é ver os filhos bem. (Foto: Arquivo Pessoal)

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mais de 4 mil crianças e adolescentes aguardam por uma família no Brasil. A maioria tem mais de 7 anos, pertence a grupos de irmãos ou apresenta algum tipo de deficiência ou condição de saúde. Perfis, em geral, pouco procurados pelos pretendentes à adoção.

Ainda assim, histórias como a de Francisco e Rafael mostram que é possível quebrar estigmas e transformar vidas. Duas, quatro, ou quantas couberem no coração. “Peguei o João no colo no primeiro dia e ele olhou nos meus olhos. Naquele momento, eu soube que ele era meu filho. Ele também soube”, finaliza.

Rafael Francisco e os filhos foram homenageados na exposição fotográfica “Nasce uma família, a história continua...”, montada no Shopping Bosque dos Ipês. O projeto é uma iniciativa do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

Francisco e Rafael venceram o medo e construíram família cheia de amor
Casal e os filhos foram homenageados em exposição. (Foto: Juliano Almeida)

A exposição apresenta sete totens com fotos que revelam histórias de amor e resiliência, com objetivo de provocar reflexões sobre o direito à convivência familiar.

A exposição ficará aberta ao público até o dia 27 de maio.

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