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Comportamento

No hospital, 3 pedidos mudam o dia de quem está internado há meses

Neta dançando balé, costela com mandioca e pavê foram respostas para a pergunta: O que importa para você?

Thailla Torres | 07/06/2019 07:17
Rita fez um pedido especial na UTI: ver a neta vestida de bailarina. (Foto: Marina Pacheco)
Rita fez um pedido especial na UTI: ver a neta vestida de bailarina. (Foto: Marina Pacheco)

“O que importa para você?”. Dona Rita, há um mês na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), quis ver a netinha vestida de bailarina. Seu Adalto, há 5 meses internado, desejou comer uma costela com mandioca. Oraci, há quase 10 meses dentro de um hospital, escolheu comer pavê e ficar mais leve com barba e cabelos feitos. Desejos que pareciam tão simples, mas que fizeram a diferença para quem todos os dias luta para ficar bem.

Os três pacientes tiveram seus desejos realizados nesta quinta-feira, numa ação pelo dia mundial do “O que importa para você?”, no Hospital Cassems de Campo Grande, com propósito de estimular o atendimento mais humanizado entre profissional da saúde e paciente. O resultado: risadas e lágrimas que traduziram a emoção que é dar valor nas coisas mais simples da vida.

A funcionária pública Rita Ferreira da Silva, de 64 anos, foi internada há pouco mais de 30 dias para um procedimento cardíaco. Fez ponte de safena e precisou ficar na UTI. Lá dentro, como o acesso é mais restrito a visitas, ela não conseguiu ver a netinha, de 5 anos, a quem diariamente dedicava amor. “Ela é minha única neta e eu sinto muita falta dela”, conta.

A menina, de 5 anos, foi vestida e dançou para a avó. (Foto: Messias Ferreira)
A menina, de 5 anos, foi vestida e dançou para a avó. (Foto: Messias Ferreira)
A cena não só emocionou a paciente como deixou a equipe do hospital encantada. (Foto: Messias Ferreira)
A cena não só emocionou a paciente como deixou a equipe do hospital encantada. (Foto: Messias Ferreira)

Quando o hospital perguntou um dos desejos de Rita, prontamente ela lembrou da pequena Julia. “Queria ver minha netinha vestida de bailarina”. E o desejo foi atendido de um jeitinho ainda mais emocionante.

Julia não entrou na UTI, mas acompanhada da equipe do hospital, Rita foi levada até a porta de entrada do setor onde estava Julia, de apenas 5 anos, vestida com a roupinha nova de bailarina cor de rosa. Ela não só apareceu de bailarina como dançou ao som de “Fico assim sem você”, na voz de Adriana Calcanhotto.

“Eu subi de nível no balé”, disse Julia poucos minutos antes da vovó aparecer. “Olha, minha saia tem pompom”, acrescentou mostrando o figurino escolhido com ajuda da mãe Christiane Bilo, de 41 anos. “Eu já me emocionei pelo telefone quando falaram do desejo dela”, descreve a mãe de Julia. “Elas são muito apegadas e quando minha foi internada, Julia ficou triste e sem comer”, conta.

Rita assistiu e se emocionou. Os minutos de apresentação foram finalizados com o “melhor abraço do mundo”, garantiu. “Ela é o meu amor. Esse momento foi muito lindo e pra mim o amor é o que importa”.

Internados há meses, Oraci e Adalto viraram amigos dividindo o mesmo quarto e também realizam desejo juntos. (Foto: Marina Pacheco)
Internados há meses, Oraci e Adalto viraram amigos dividindo o mesmo quarto e também realizam desejo juntos. (Foto: Marina Pacheco)

No quinto andar do hospital, a emoção de dois pacientes contagiou funcionários e a reportagem. De um lado, seu Adalto Barbosa da Costa, de 70 anos, internado há cinco meses, mas com uma serenidade no olhar que inspira. Do outro, o companheiro de quarto Oraci Carlos Leite de Oliveira, de 78 anos, que tem tanta vontade de ser feliz que faz qualquer um reclamar menos da vida.

Os dois foram levados juntos a uma área preparada e higienizada para que os dois pudessem cortar o cabelo e fazer a barba. Depois, foram para o quarto experimentar os “quitutes” que também fizeram parte do pedido.

Seu Adalto é de Camapuã, casado com dona Luzia Alves Feitosa da Costa, de 65 anos. Com saudade do cheirinho da comida da esposa, ele pediu ao hospital costela com mandioca para lembrar de um dos pratos preferidos dentro de casa. “Ele adora essa comida, lá em casa nós fazíamos muito e aqui ele sente muita vontade. Não vejo a hora de levá-lo para casa e voltar a cozinhar”, conta a esposa, que há cinco meses não deixa o hospital para poder ficar ao lado do marido.

Seu adalto quis comer costela com mandioca. (Foto: Messias Ferreira)
Seu adalto quis comer costela com mandioca. (Foto: Messias Ferreira)

Seu Adalto fala pouco, baixinho, mas conseguiu colocar em palavras a importância de comer o prato preferido. “A gente tem que ter um prazer na vida. Fico feliz de terem feito isso por mim”.

Com a companhia e amor da esposa, ele se recupera de uma infecção que o fez perder a perna esquerda. Agora, seu único desejo é voltar para casa. “Nada melhor do que o cantinho da gente, né?”.

Já seu Oraci, é o verdadeiro comediante do quinto andar. Há 10 meses hospitalizado por um problema cardíaco e consequências do diabete, o gaúcho de Santa Rosa (RS) faz, quase todos os dias, enfermeiros e médicos sorrirem. “Ele tem uma alegria única, sempre foi assim, gosta de contar piada, histórias, fazer as pessoas felizes”, descreve a filha Carla Rossana Olivia, de 54 anos, que o acompanha junto com a mãe.

Os dois escolheram fazer barba e cabelo. (Foto: Marina Pacheco)
Os dois escolheram fazer barba e cabelo. (Foto: Marina Pacheco)

Oraci queria cortar o cabelo e barba. Logo que sentou na cadeira, deu uma lição em quem assistia a cena. “Sabe, hoje eu acordei chorando muito, mas eu fiz isso para esvaziar a tristeza e passar o resto do meu dia feliz”.

O aposentado diz que não há meio termo. De um lado fica a tristeza, do outro a sua alegria. “Se você ficar no meio você não é feliz, eu escolhi a alegria para viver”.

Não só a alegria, como um pavê caseiro que também o faz lembrar dos pratos da esposa. “Ele ama o pavê da minha mãe e é um apaixonado por ela. Tenho certeza que esse momento o fará muito feliz”, conclui a filha.

Importância da ação - Responsável pelo Núcleo de Cuidados Paliativos do hospital, a oncologista pediatra Rafaela Siufi explica que a proposta é ofertar, dentro das condições e cuidados hospitalares, medidas mais humanizadas que proporcionam qualidade de vida aos pacientes. “É ter um olhar mais cuidadoso, respeitando o desejo de cada um, tendo um olhar não só para a doença, mas para o paciente como ser humano”, explica.

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