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Comportamento

Porta azul no Centro leva ao sonho de costureira que luta para formar os 4 netos

Thailla Torres | 24/03/2018 07:10
Nadir tira um tempinho do dia para ver o por do sol. "Tenho a vista mais bonita do dia".
Nadir tira um tempinho do dia para ver o por do sol. "Tenho a vista mais bonita do dia".

Uma porta azul no Centro de Campo Grande revela histórias que vão além de uma arquitetura antiga, daquelas que aparentam ter mais de seis décadas na 14 de Julho. Vinte e quatro degraus de escada e só uma grade separa Nadir de quem chega da rua, uma mulher batalhadora que passa 20 horas por dia trabalhando em busca de um sonho.

No apartamento, às 17h30, ela assistia ao pôr do sol quando o Lado B abriu sua porta. Era um momento de descanso do trabalho feito na própria sala. Nadir Oliveira, de 64 anos, é costureira e conhecida pelo conserto de peças de lojas da região. Também costuma fazer vestidos de noiva, festas e formaturas. Mas não é sempre que esse tipo de pedido aparece, na maioria das vezes, os reparos são pequenos, mas lotam a estante de ajustes. 

Porta antiga que chama atenção no Centro.
Porta antiga que chama atenção no Centro.

Nadir sorri pouco, talvez pelos efeitos de uma vida, muitas vezes, injusta. Mas recebe quem chega de um jeito gentil e abre o coração sobre as horas dedicada à costura no andar de cima do prédio onde vive há 15 anos. "Sou costureira desde os meus 12", começa a narrativa.

Ela conta que nunca fez um curso, aprendeu olhando a mãe e ao longo do tempo foi se aperfeiçoando. "A gente vai aprendendo uma coisa aqui e ali. Naquele tempo a costura manual era comum, as mulheres tinham que saber fazer roupas".

Ela diz ser de Erval Grande, no Rio Grande do Sul, de onde a família deixou tudo para trabalhar em Mato Grosso do Sul, há mais de 40 anos. Cresceu trabalhando muito e hoje não abre mão do ofício pelo sonho de ver os netos com um diploma na mão. "Eu falo que não vou morrer enquanto não ver os meus netos formados. Vai ser a maior alegria da minha vida".

Nadir criou três filhos e hoje é responsabilidade dela os 4 netos.

Nadir, mulher que também tem história em uma das sacadas da 14.
Nadir, mulher que também tem história em uma das sacadas da 14.

"Eles não me dão trabalho, mas a gente tem que cuidar de tudo. Levo para a escola, busco, dou comida, amor e no meio disso tudo vou costurando".

É entre linhas que ela também ajuda uma das filhas que cursa Medicina no Paraguai. "Era um sonho meu ter uma filha médica. Mas aqui eu não tinha condições de pagar, custa mais de R$ 10 mil e lá a gente paga mil e pouco".

A máquina antiga, com mais de 30 anos, é o instrumento de trabalho até hoje.
A máquina antiga, com mais de 30 anos, é o instrumento de trabalho até hoje.

Para isso, tem trabalhado até de madrugada. "Começo às sete da manhã e às vezes vou até duas, ou três da madrugada. Não tem tempo certo. A gente tem hora pra começar, mas nunca para terminar". Apesar do trabalho que cansa, Nadir não lamenta. "Só trabalhando vou formar meus netos". Muito menos recusa encomendas. "Recebo de tudo, a porta está sempre aberta por conta disso. Enquanto tiver roupa e tecido, eu vou costurar".

No prédio antigo ela vive desde que buscou sossego. Antigamente morava no Tijuca, mas a casa da família foi furtada por três vezes. "Houve um tempo que trabalhei em um ateliê no Centro e quando chegava em casa tinham levado tudo. A gente cansou e teve a sorte de conseguir esse apartamento no Centro".

O local é simples, mas cabe as máquina de Nadir e os desejos de vida. Todos os dias tem o nascer e o pôr do sol como presente na janela de casa e hoje ela não abre mão da portinha azul na fachada. "Gosto daqui, a gente já se acostumou e acho que esse apartamento me deu sorte. Não me faltam clientes e nem fé de que tudo vai dar certo".

Conhece alguma história como de Nadir? Então entre em contato com o Lado B pelo Instagram ou Facebook

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