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Comportamento

Sapateiro linha dura conquista clientes no papo, mas tem até facão para folgados

Elverson Cardozo | 04/06/2014 06:58
Paulinho é sapateiro há 25 anos, mas garante ter outras 11 profissões. (Foto: Marcelo Victor)
Paulinho é sapateiro há 25 anos, mas garante ter outras 11 profissões. (Foto: Marcelo Victor)

Paulo Antônio dos Santos, 51, mais conhecido como "Paulinho Sapateiro", trabalha em uma sala super apertada, de 1,5 metro de largura por, no máximo, 3m de comprimento, e passa praticamente todo o dia em pé, de segunda a sexta-feira. Entra às 7h e só vai embora às 18h30, mas não abandona a “portinha”, na Avenida Calógeras, centro de Campo Grande, por nada. Sente-se realizado com o que faz há 25 anos e, mais que isso: ganha dinheiro. É o suficiente.

Alagoano de nascimento, mas sul-mato-grossense de coração, Paulo sabe conquistar a clientela no papo e carisma, mas não é bobo e nem dá espaço para gente folgada. Como sabe que cliente de sapataria é caso sério, ele estabeleceu uma norma clara: Se não buscar o produto em 30 dias, é venda na certa, pelo preço do conserto e sem direito a reclamação.

O povo é esperto, “mata a família toda” na hora da desculpa, mas Paulinho é linha dura. “Até sapato de juiz eu já vendi. Falou que buscava no outro dia e veio com 105 dias. Vendi com 75, por consideração, mas quando apareceu ficou bravo, falou que era juiz e eu falei que, aqui, o juiz sou eu. Depois ele veio me pedir desculpas”.

Na salinha abarrotada de calçados, do chão ao teto, tem cerca de 1,5 mil pares, calcula. Pelo menos 200 são “esquecidos”. Ele deixa lá, na confusão que só ele entende, leva alguns para casa ou, quando alguém pede, dá mesmo.

"Tenho uma faca boa e um facão aqui. Não quero nem saber”. (Foto: Marcelo Victor)
"Tenho uma faca boa e um facão aqui. Não quero nem saber”. (Foto: Marcelo Victor)

E, se o dono aparecer depois para bater boca, vai ter de ouvir, avisa. “Não adianta brigar comigo. Seguro as pontas. Tenho uma faca boa e um facão aqui. Não quero nem saber”, brinca, mostrando a a ferramenta que, de fato, está guardada.

O sistema é rígido, mas o negócio é sucesso. Paulinho garante ter clientes até do exterior, como Nova Iorque e Canadá. “Uma vez veio 5 tamancos do Japão para eu abaixar”, relembra.

Os fregueses gringos, diz, vem indicados de um hotel da região. “Eles se hospedam e pegam meu endereço”.

Paulinho Sapateiro está no mesmo endereço há 14 anos, mas começou o negócio há 25, na rua 15 de novembro, quando abriu o empreendimento junto com uma bicicletária, que funcionou apenas nos cinco primeiros anos.

Na época, com 26 anos, ele queria ter o próprio negócio. Trabalhar para outros estava, e ainda está, fora de cogitação. Por enquanto, a função tem garantido o sustendo, mas, se algum dia o ofício cair no esquecimento, Paulo não deve passar apuros.

“Tenho 11 profissões. Corto cabeço, mexo com ouro, sou motorista, oficial em bicicletaria, padeiro, afiador de faca, alicates.... Se for falar tudo fico até amanhecer”.

Aviso para os "folgados" está em letras vermelhas. (Foto: Marcelo Victor)
Aviso para os "folgados" está em letras vermelhas. (Foto: Marcelo Victor)
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