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Comportamento

Saudades do voto de papel? Imagens e histórias mostram o quanto a gente avançou

Nas memórias do fotógrafo Roberto Higa, as lembranças chegam cheias de fatos curiosos sobre as eleições em Mato Grosso do Sul

Thaís Pimenta | 03/10/2018 09:12
Ao centro, juiz eleitoral (de óculos) contando os votos que confirmaram vitória de Antônio Mendes Canale, em 1974. (Foto: Roberto Higa)
Ao centro, juiz eleitoral (de óculos) contando os votos que confirmaram vitória de Antônio Mendes Canale, em 1974. (Foto: Roberto Higa)

Mais uma vez, pelas recordações fotográficas, o Lado B consegue resgatar histórias do fundo do baú de Roberto Higa. Como o tema do momento é eleição, as memórias viajam até o tempo do voto de papel, dos senadores biônicos e do primeiro debate transmitido pela televisão. 

As fotos trazem à cabeça de Higa, inclusive, fatos que tomaram toda Campo Grande, como do candidato que queria se lançar na disputa a qualquer cargo e forjou o próprio sequestro. No fim nem eleito foi e o sequestro, que era pra ser de mentira, acabou rendendo uma surra de verdade.

"Eram tempos ainda de comícios, me lembro bem, e o cidadão participaria de um lá pelas bandas da Vila Popular. Combinou com um grupo de criminosos que desceria por volta das 22h para o local e que, em determinado ponto, os criminosos o pegassem e fizessem de conta o crime, amarrando, batendo e colocando dentro do carro, um Maverick. A intenção era também forjar um incêndio no veículo, tudo isso para ser eleito. No fim, os assaltantes terceirizaram o serviço e o cidadão, que eu nem quero falar o nome, saiu cheio de hematomas e com os dois braços quebrados", lembra Higa, rindo da situação.

Câmera mostra mesa de participantes, durante transmissão do primeiro debate pela TV. (foto: Roberto Higa)
Câmera mostra mesa de participantes, durante transmissão do primeiro debate pela TV. (foto: Roberto Higa)

Higa é um dos únicos com registros da primeira transmissão do debate político em Mato Grosso, antes da divisão do Estado. "Quem disputava eram apenas dois partidos, formados pelas comissões regionais do Arena (Aliança Renovadora Nacional) e do MDB, sendo que o segundo não estava com o poder e tinha número bem menor de políticos", conta o fotógrafo, que faz questão de dizer o nome de cada rosto registrado nas imagens. 

Na época da transmissão, quem estava no poder do Mato Grosso Uno era o engenheiro Garcia Neto, que havia sido vice de Fernando Corrêa da Costa, o politico que dá nome a uma das principais avenidas de Campo Grande. Inclusive, na imagem da Arena, Fernando aparece dando ainda mais peso ao histórico registro.

Sentados, comissão da Arena na primeira transmissão de debate. Da esquerda para a direita, Baldo Baren, Fernando Corrêa da Costa, Garcia Neto, Antônio Mendes Canale, Italívio Coelho, Marcílio de Oliveira Lima, Vitor Cabreira, Paulo de Castro e o jornalista Sebastião Barbosires na esquerda, acima. (foto: Roberto Higa)
Sentados, comissão da Arena na primeira transmissão de debate. Da esquerda para a direita, Baldo Baren, Fernando Corrêa da Costa, Garcia Neto, Antônio Mendes Canale, Italívio Coelho, Marcílio de Oliveira Lima, Vitor Cabreira, Paulo de Castro e o jornalista Sebastião Barbosires na esquerda, acima. (foto: Roberto Higa)
Comissão do MDB, da esquerda para a direita, Abdala Jalad, Adonê Colosso Sotovia, Bezerra Neto, Juarez Batista, Plínio Barbosa Martins, Cleomenes Nunes da Cunha, Antônio Carlos de Oliveira e Manoel Bronze. (foto: Roberto Higa)
Comissão do MDB, da esquerda para a direita, Abdala Jalad, Adonê Colosso Sotovia, Bezerra Neto, Juarez Batista, Plínio Barbosa Martins, Cleomenes Nunes da Cunha, Antônio Carlos de Oliveira e Manoel Bronze. (foto: Roberto Higa)

"Teve um grande evento do MDB no Clube Libanês em 1974, que trouxe até mesmo o chefe nacional, o presidente do MDB, Ulisses Guimarães. De tão pequeno que era o partido, com o diretório regional, incluindo todos os políticos filiados e Ulisses,  participaram 12 pessoas. Dez anos depois, o Wilson Barbosa Martins assumiu o poder e em 1990 o partido já era o maior partido da América Latina", relembra ele, criticando a política brasileira, que faz alianças em busca de poder e não "por ideais semelhantes e ideologias".

Higa também registrou o momento em que Rachid Saldanha Derzi virou senador, com cargo biônico, sem voto popular, durante a Ditadura Militar. "Ele venceu Italívio Coelho e inclusive, na foto, está dando os cumprimentos ao rival. Rachid foi eleito a partir de um colégio de notáveis pré definido, na época, não era como hoje".

Rachid Derzi e Italívio Coelho em 1977, o primeiro eleito senador biônico, por colégio de notáveis a frente na foto. (foto: Roberto Higa)
Rachid Derzi e Italívio Coelho em 1977, o primeiro eleito senador biônico, por colégio de notáveis a frente na foto. (foto: Roberto Higa)
Pedro Pedrossian eleito governador de Mato Grosso Uno, em 1971. (foto: Roberto Higa)
Pedro Pedrossian eleito governador de Mato Grosso Uno, em 1971. (foto: Roberto Higa)
Canale com apoiadores, eleito senador em 1974. (foto: Roberto Higa)
Canale com apoiadores, eleito senador em 1974. (foto: Roberto Higa)

Higa ainda guarda imagens de Pedro Pedrossian, levantado por uma multidão depois de eleito. "Essa foto aqui é histórica", conta. Com dizeres "Pedro é povo e povo é Pedro", e a feição daqueles que o elegeram ao redor, a imagem carrega emoção ainda hoje, para o que trabalhou para o ex-governador. 

"Naquele tempo, eram feitas grandiosas comissões. Os políticos eram muito, mas muito admirados pelos eleitores. Pra você ter ideia de como a política mudou, Campo Grande, ainda interior, vereador não recebia salário, então os políticos entravam por amor, não por dinheiro", finaliza.

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