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Política

Nascida em MS, Suéllen fala da luta para estar entre 10 prefeitas negras do País

Sob ataques racistas, Suéllen Rosim (Patriota), de Dourados, ganhou o comando da cidade de Bauru, em 2° turno, neste domingo

Tainá Jara | 30/11/2020 17:10
Suéllen Rosim, 32 anos, é jornalista, nasceu em Dourados e mudou-se para Bauru há 20 anos (Foto: Divulgação)
Suéllen Rosim, 32 anos, é jornalista, nasceu em Dourados e mudou-se para Bauru há 20 anos (Foto: Divulgação)

Mulher, jovem e negra. A jornalista sul-mato-grossense Suéllen Rosim (Patriota), 32 anos, escolhida, neste domingo, para comandar a cidade de Bauru (SP), convive com as pautas de um partido declaradamente conservador e a carreira de cantora gospel.

A fórmula pode parecer contraditória, mas a levou a ser a mais votada nos 1° e 2° turnos das eleições 2020 e derrotar políticos tradicionais nas urnas. Em entrevista exclusiva ao Campo Grande News ela conta como isso aconteceu.

Nascida em Dourados, município distante 235 quilômetros de Campo Grande, Suéllen fechou neste domingo a lista das 10 prefeitas negras eleitas no Brasil. A vitória com 89.725 votos, o equivalente a 55,98% dos votos válidos, contra o oponente Raul Aparecido Gonçalves Paula (DEM), enfrentou ataque racistas e machistas, mas levou orgulho também para o interior de Mato Grosso do Sul.

“Fui criada no Jardim Água Boa, na rua W12. Fui criada ali até meus 12 anos. Estudei no Colégio Capile. Mantenho essas raízes e tenho sempre boas lembranças”, lembra.

Suéllen caminha nas ruas de Bauru com o vice-prefeito Orlando Costa Dias (Foto: Divulgação/Campanha)
Suéllen caminha nas ruas de Bauru com o vice-prefeito Orlando Costa Dias (Foto: Divulgação/Campanha)

Com avó, tias, tios e primos, boa parte da família paterna, vivendo aqui, as lembranças do município ainda seguem frescas na memória.

O núcleo familiar foi justamente onde Suéllen passou a se interessar por política. “Minha família sempre foi de alguma forma politizada”, afirma, citando o papel de liderança dos próprios pais, considerados principais referências em um cenário político com pouca representatividade feminina e negra.

No trabalho como repórter e produtora da TV TEM, afiliada da Rede Globo em Bauru, o interesse pela política se aprofundou nas pautas comunitárias. “A política é um instrumento de transformação, um caminho para ir além da reportagem”, avalia.

Ataques racistas – Mesmo deixando para trás 11 candidatos no 1º turno e estar na frente nas pesquisas, Suéllen enfrentou ataque racistas no dia da eleição, que a levaram a registrar boletim de ocorrência, além de ser por vezes subestimada pelo rival.

Nas ofensas divulgadas em um grupo de WhatsApp  o agressor diz “não podemos eleger aquela mulher com cara de favelada para ser nossa prefeita. Essa gentinha irá afundar Bauru”. Em outra mensagem, ele diz: “não tenho nada contra, mas essa gente de pele escura, com cara de marginal administrando essa cidade, será o fim".

Suéllen acredita que servirá de referência para outras pessoas negras que desejam ingressar na política (Foto: Divulgação)
Suéllen acredita que servirá de referência para outras pessoas negras que desejam ingressar na política (Foto: Divulgação)

Apesar de levar o caso as autoridades, não é a primeira vez que a prefeita eleita passa por situação de preconceito e se empenha em desbravar novos caminhos para abrir espaço para outras pessoas negras.

“O fato de ser negra é uma coisa que traz uma representatividade. Abre porta para tantas outras pessoas. Como na televisão, na minha época, quando comecei a faculdade, era muito difícil encontrar repórter negra. Ouvia coisa do tipo: ‘Alisa o cabelo. Cabelo cacheado chama mais atenção do que a notícia’. Aos poucos isso foi se quebrando. Por isso, vejo que na prefeitura, e em qualquer cargo pública, a gente passa por isso também. Deveria ser uma coisa natural, mas ainda temos sim”, afirmou.

O fato de ser mulher também foi colocado em xeque pelos rivais durante as eleições. “Questionavam ‘será que ela sabe fazer?’ Essa pergunta é raramente feita para homens”, relembrou.

10 no Brasil – Com o resultado do segundo turno das eleições, Suéllen fechou uma lista de prefeitas negras eleitas entre os 5.570 municípios brasileiros neste ano.

Nove foram eleitas em 1º turno, são elas: Barbara Prado (PSD), em Pau Brasil (BA); Eliana Gonzaga de Jesus (Republicanos), em Cachoeira (BA); Denise Oliveira (PV), em São Gotardo (MG); Francisca Alves Ribeiro (PT), em Carinhanha (BA); Judite Maria Botafogo da Silva (PSDB), em Lagoa do Carro (PE); Moema Isabel Passos Gramacho (PT), em Lauro de Freitas (BA); Niela Maria da Silva Moraes (DEM), de Santa Rita do Tocantins (TO); Hosanira Galvão (PL), Goianinha (RN); e Talita Lopes dos Santos (Republicanos), em Boa Ventura (PB).

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